Pesquisas mostram que ancestrais dos dinossauros e mamíferos conviveram, antes de a seleção natural se encarregar de dar fim aos primeiros. Leia no artigo do dr. Drauzio.
Somos mamíferos. Pertencemos a uma subclasse dos vertebrados com mais de 6 mil espécies, entre as quais morcegos, baleias e girafas. O que caracteriza animais tão diversificados capazes de viver na terra, no ar e nas águas, é a ƒ e a presença da placenta, estrutura que lhes permite manter os filhotes dentro do útero durante meses, para que se desenvolvam em segurança.
No último fim de semana, li um artigo que o paleontólogo Steve Brusatte, professor da Universidade de Edimburgo, publicou na revista “Scientific American”. Nele, o autor traça o caminho seguido pelos ancestrais dos mamíferos até dar origem aos seres humanos.
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Você, prezado leitor, e você também, caríssima leitora, com paciência para ler esta coluna, verão que chegamos até aqui por uma sucessão infindável de acontecimentos fortuitos que se acumularam no decorrer de milhões de anos. E que a vida porventura existente em outro planeta teria de sofrer os mesmos revezes para gerar seres com os quais pudéssemos nos entender.
Anos atrás, a ciência acreditava que os mamíferos só teriam surgido depois da extinção dos dinossauros. A paleontologia moderna, no entanto, revelou que os mamíferos tiveram origem concomitante com eles, no período Jurássico, cerca de 225 milhões de anos atrás, época em que os cinco continentes ainda estavam ligados por terra, formando a Pangeia.
Naquele tempo, a Terra começava a recuperar-se da maior extinção em massa de sua história, provocada pela erupção de grandes vulcões na Sibéria, que derramaram lava e gás carbônico na atmosfera, durante milhões de anos. A poluição e o aquecimento global extinguiram perto de 95% das espécies existentes.
Quando os vulcões se calaram, os animais remanescentes se apressaram em ocupar o vácuo ecológico deixado. Entre eles estavam os ancestrais dos dinossauros e dos mamíferos.
Nos 160 milhões de anos seguintes, dinossauros e mamíferos adotaram estratégias opostas. A seleção natural privilegiou o aumento de tamanho dos dinossauros: quanto mais fortes, maior a probabilidade de sobreviver. Nos mamíferos, ao contrário, foram selecionados os de pequeno porte, roedores noturnos em sua maioria. Tem lógica, não? Fora das tocas, que chance teria um animal do tamanho de um boi com aqueles mastodontes na vizinhança?
Entre 201 milhões e 66 milhões de anos, nos períodos Jurássico e Cretáceo, os dinossauros e os mamíferos se diversificaram. Eles, cada vez maiores, enquanto nossos ancestrais, que se alimentavam de frutas, tubérculos e flores, não passavam do tamanho de um coelho. No decorrer dos 79 milhões de anos de duração do Cretáceo, a diversificação dos mamíferos se acentuou. Apareceram os primeiros ancestrais dos primatas.
Um belo dia do Cretáceo, há 66 milhões de anos, quiseram as leis da física que um asteroide de 9 km de extensão entrasse em rota de colisão com nosso pobre planeta, entretido na translação ao redor do Sol, sem causar mal a ninguém. O choque aconteceu na península de Yucatán, no México. Equivalente a mais de 1 bilhão de bombas atômicas, o impacto monumental abriu uma cratera de mais de 16 km de profundidade e 160 km de largura.
Tsunamis, erupções vulcânicas, incêndios florestais e terremotos devastaram o planeta. As nuvens de poluentes escureceram os céus durante anos, as plantas perderam a capacidade de fazer fotossíntese e de alimentar os animais herbívoros, bem como os carnívoros que se alimentavam deles.
Com exceção de alguns pássaros, os dinossauros foram varridos da face da Terra. Azar deles, sorte nossa. Se a rota do asteroide desviasse um milésimo de grau, ele passaria a milhares de quilômetros do nosso planeta que, aliás, não seria nosso até hoje, mas daqueles brutamontes.
No Paleoceno, período que sucedeu o Cretáceo, ocorreram várias extinções de espécies de mamíferos. É possível que tenham sobrevivido apenas 7%; entre eles, os que dariam origem à linhagem dos primatas modernos. Durante milhões de anos eles seriam submetidos à implacável seleção natural, que eliminaria os menos aptos até surgirem os nossos parentes mais próximos: orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos; e nós mesmos.
Os seres humanos ainda enfrentariam sucessivos processos de seleção antes de chegar ao Homo sapiens, espécie que por acaso daria origem a você e eu.