Embora poucos médicos indiquem o DIU para adolescentes e mulheres sem filhos, o dispositivo intrauterino é uma ótima opção para jovens.
Adolescentes não são conhecidos por sua responsabilidade. De fato, nessa fase da vida, não estamos exatamente preocupados com as consequências das nossas atitudes, o que nos torna menos aptos a fazer planejamentos, a pensar em longo prazo.
Não à toa, essa faixa etária tem dificuldade de aderir a tratamentos que exijam disciplina. Assim, a pílula anticoncepcional pode não ser um bom método para mulheres muito jovens, já que é preciso tomá-la todos os dias, sempre no mesmo horário.
Veja também: Tudo sobre o DIU: quanto custa e outras dúvidas
Imagine, então, um método anticoncepcional cuja taxa de eficácia seja superior a 99% e que não dependa de administração diária, mas, ao contrário, seja eficaz por cerca de 10 anos. Seria perfeito para esse grupo, certo?
Agora pense que ele pode ser utilizado após o parto, durante a amamentação e por quase todas as mulheres em idade fértil, incluindo as muito jovens. Além disso, cause poucos efeitos colaterais e seja oferecido gratuitamente pelo sistema público de saúde. Em um país como o Brasil, em que pouco falamos de educação sexual e direitos reprodutivos, embora a cada mil brasileiras de 15 a 19 anos, 53 tenham se tornado mães em 2020, não consigo imaginar um método melhor.
Só que esse método já existe, e está disponível pelo SUS. Apesar de oferecer inúmeras vantagens, o dispositivo intrauterino (DIU) é usado por apenas 2% das mulheres em idade fértil. Por quê?
Em entrevista a este Portal, a ginecologista Thais Travassos elencou os motivos para que esse método seja pouco usado, entre eles a falta de informação da população, incluindo os profissionais de saúde. Não é raro, por exemplo, escutar de médicos que adolescentes ou mulheres que nunca tiveram filhos (nulíparas) não devem usar o DIU, embora a OMS e a própria Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) afirmem que os benefícios do DIU para adolescentes superam os riscos.
A médica afirmou, ainda, que as vantagens do uso do DIU são incomparáveis as de outros métodos anticoncepcionais. Em primeiro lugar, eles podem ser utilizados pela maioria das mulheres que não desejem engravidar. Em segundo, duram muitos anos, o que facilita a adesão de mulheres muito jovens, que tendem a se esquecer de tomar a pílula diariamente.
Além disso, são mais efetivos que os métodos de barreira como diafragma, e mesmo os hormonais não liberam hormônios em grande quantidade, a ponto de interferirem significantemente no ciclo hormonal como os anticoncepcionais orais.
Podem ser inseridos no pós-parto e durante o período de amamentação, causam poucos efeitos colaterais (os mais comuns são aumento do sangramento e cólicas), e as mulheres podem interromper seu uso quando desejarem, sem que haja interferência na fertilidade. Não há, portanto, motivos para tão poucas mulheres o utilizarem.
Tipos de DIU
Há dois tipos de DIU, os não hormonais e os hormonais. Os primeiros são feitos de cobre ou de cobre associado à prata e podem ser usados por até 10 anos. Os íons de cobre liberados na cavidade uterina agem no endométrio (tecido que reveste o útero) e têm ação espermicida, impedindo que os espermatozoides cheguem às tubas uterinas, onde ocorreria a fecundação. (veja mais sobre a diferença entre os dois DIUs aqui.)
Como esse tipo de DIU pode aumentar as cólicas e os sangramentos menstruais para algumas usuárias, não deve ser indicado para mulheres com problemas de coagulação e anemia, por exemplo.
Já os DIUs hormonais liberam uma pequena quantidade de progesterona no interior do útero, promovendo o espessamento do muco cervical, de forma a dificultar a passagem do espermatozoide, e impedindo o desenvolvimento do endométrio. Esses DIUs reduzem ou até mesmo interrompem o fluxo menstrual, mas a mulher continua tendo ciclo hormonal. Além de serem indicados para a contracepção (duram 5 anos), os DIUs hormonais podem ser utilizados no tratamento de doenças como adenomiose e endometriose.
A inserção do DIU é simples e pode ser feita em consultório, sem anestesia, na maioria das vezes. Algumas mulheres, no entanto, necessitam de sedação leve em centro cirúrgico. O DIU pode ser inserido por ginecologistas, médicos de família e enfermeiros tecnicamente treinados, o que torna o dispositivo mais acessível em regiões que não contam com ginecologistas.
Os DIUs não hormonais são oferecidos pelo SUS, mas os hormonais só são ofertados em determinados hospitais públicos, para o tratamento de doenças específicas. Seu preço na rede privada pode passar de 1 mil reais.
Ao contrário do que foi divulgado recentemente, as mulheres não precisam de autorização do parceiro para utilizar o DIU. O dispositivo é inserido no corpo da mulher, portanto mesmo as adolescentes que optem por ele devem ser respeitadas.
Escolher se desejamos ter filhos e quando é o melhor momento para isso é um direito que deve ser assegurado a todas as pessoas. Isso só é possível com informação e acesso a métodos contraceptivos variados, para que cada indivíduo possa escolher com qual se adapta melhor.