É preciso investir na atenção primária para diminuir a demanda e os custos dos serviços de saúde.
A faixa etária da população brasileira, que mais cresce, é a que está acima dos 60 anos. Esse fenômeno, que levou um século para ocorrer na Europa, aconteceu aqui em 50 anos.
Doenças cardiovasculares e câncer tornaram-se as principais causas de morte, padrão idêntico ao dos países industrializados. Nas fases mais avançadas, o tratamento dessas doenças exige internações hospitalares, medicamentos caros, exames de imagem, cirurgias agressivas e acompanhamento ambulatorial com equipes multidisciplinares.
Veja também: Artigo do dr. Drauzio sobre médicos e planos de saúde
Além de elevados, os custos da assistência médica são crescentes. É uma das únicas áreas da economia em que a incorporação de tecnologia aumenta o preço do produto final.
É preciso encarar a realidade: o SUS e a Saúde Suplementar não dispõem de recursos para absorver esses custos. Para o SUS, é mais simples: quando as verbas se esgotam, o atendimento é interrompido. Como a legislação não permite que os planos de saúde façam o mesmo, só lhes resta a alternativa de aumentar as mensalidades, expediente de eficácia limitada num país com 13 milhões de desempregados.
Não há saída: ou investimos na atenção primária para diminuir a demanda, ou os mais pobres e a classe média ficarão à margem dos serviços de saúde. Por essa razão, a iniciativa do Ministério da Saúde de aumentar o investimento e melhorar a gestão do programa “Estratégia Saúde da Família”, deve ser elogiada.
A expansão da rede de atenção primária fez a mortalidade infantil cair de 53/1.000 nascidos vivos, em 1990, para 14, em 2015. No mesmo período, a mortalidade materna caiu de 104/100 mil nascimentos, para 44.
Arno Harzheim, secretário de Atenção Primária do Ministério, calcula que os 16,6% do orçamento da pasta destinados hoje para o programa, aumentarão para 20,5%, até 2022. Ao mesmo tempo, serão implantadas medidas para avaliação da qualidade dos serviços prestados.
Criado em 1991, o programa contava com cerca de 2 mil equipes, em 1998. Atualmente, são 43 mil equipes que visitam de casa em casa 135 milhões de brasileiros, distribuídos principalmente pelo interior e nas cidades menores. Cada equipe é formada por pelo menos cinco agentes comunitários, dois auxiliares de enfermagem, uma enfermeira, um médico e um técnico em saúde bucal.
A expansão da rede de atenção primária fez a mortalidade infantil cair de 53/1.000 nascidos vivos, em 1990, para 14, em 2015. No mesmo período, a mortalidade materna caiu de 104/100 mil nascimentos, para 44. Houve, ainda, diminuição da mortalidade por doenças cardiovasculares e infecciosas e do número de internações hospitalares. Os técnicos calculam que o programa tenha potencial para reduzir até 80% das demandas por atendimento médico.
Os brasileiros envelhecem mal. Metade da população chega aos 60 anos com hipertensão arterial, 15 milhões ou mais sofrem de diabetes, o excesso de peso e a obesidade afligem 54% da população adulta, e o sedentarismo é praticamente universal. Ainda fumam 17 milhões a 18 milhões de brasileiros. Das parturientes atendidas pelo SUS, 20% são adolescentes com menos de 20 anos.
O desafio para tratar tanta gente é enorme. Se não houver prevenção através da atenção primária, milhões ficarão sem atendimento.