Você já deve ter ouvido falar de lactobacilos. Os Lactobacillus acidophilus são probióticos, isto é, microorganismos vivos que, quando administrados em quantidades e cepas corretas, fazem bem a quem os consome. Mas nem todos os produtos do mercado que contém Lactobacillus acidophilus agem da mesma forma no organismo.
Isso porque os efeitos benéficos de um probiótico dependem da dose, da população, da formulação e da cepa utilizada. Não é qualquer probiótico que vai funcionar para qualquer condição. Depois do gênero e da espécie, cada linhagem de probiótico é identificada por caracteres específicos. No caso do Lactobacillus rhamnosus GG, por exemplo, são as letras ao final do nome que determinam a sua função para a saúde do organismo.
As cepas de probióticos e suas funções
“O mais importante são essas letrinhas [no final do nome]. Só que não é todo profissional de saúde que sabe. Ele vê lá um estudo sobre Lactobacillus acidophilus XYWZ e fala para o paciente: ‘Ó, pode tomar, todo lactobacilo vai ter essa função’. Não, não vai ter”, alerta Rita de Cássia Salhani Ferrari, geriatra e nutróloga responsável pelo Departamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Marjan Farma.
Há probióticos sendo estudados para a modulação do humor, prevenção de alergias, tratamento da síndrome do intestino irritável, regularização do intestino, digestão de alimentos, fortalecimento do sistema imunológico, entre outros benefícios à saúde.
“Isso já existe de forma consolidada? Ainda não. Algumas cepas se mostraram interessantes em estudos científicos — ou seja, apresentaram boa resposta para determinadas condições —, mas são estudos que precisam comprovar que o probiótico é realmente mais eficaz do que o placebo. As pesquisas estão apenas começando”, explica Maria do Carmo Friche Passos, coordenadora da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).
Em documento da Organização Mundial de Gastroenterologia (WGO), é possível consultar, para cada condição clínica, quais cepas se mostraram mais eficazes, em que quantidade e por qual via de administração.
Como surge uma nova cepa?
Esses efeitos benéficos são cepa-específicos, isto é, não podem ser extrapolados para outras cepas da mesma espécie. Portanto, o processo de avaliação e autorização de cada nova linhagem é conduzido à risca pela Anvisa:
- O fabricante ou pessoa interessada deve fazer a identificação completa da cepa (gênero, espécie e designação da linhagem);
- Ele também deve mostrar que a identificação da cepa foi feita com métodos precisos, como o sequenciamento genético, a fim de comprovar que aquele microrganismo é realmente a cepa declarada;
- Depois, ele deve garantir, através de testes toxicológicos rigorosos, que a cepa não causa riscos à saúde do consumidor;
- Por fim, a exigência é demonstrar que aquela cepa, na dose recomendada, realmente confere o benefício à saúde alegado. Para isso, são feitos estudos clínicos que levam a evidências científicas robustas.
Após passar por todas essas etapas, a Anvisa avalia se aprova ou não a nova cepa para ser usada em produtos comercializados no Brasil. Atualmente, existem cerca de 20 espécies de probióticos autorizados no país, totalizando mais de 50 cepas diferentes.
Indicação é individualizada
Levando em conta todas as especificidades das cepas, a prescrição de probióticos para um paciente também deve ser individualizada. O médico precisa avaliar qual é a doença, o sintoma que mais incomoda, a idade do paciente, se ele está tomando outros medicamentos e se tem alguma contraindicação, como ser imunocomprometido, por exemplo.
“Não é assim: ‘um probiótico serve para tudo’. Ou ‘quanto mais probióticos, melhor’. Não, de modo algum. Você tem os estudos e eles falam qual o número de microrganismos eficaz. O paciente não pode nem ter mais, nem menos. Tem que ter aquele número adequado de microrganismos que mostrou o benefício”, detalha Rita de Cássia.
Atualmente, novas tecnologias dentro da medicina de precisão baseiam o tratamento com probióticos nas características únicas e individuais da microbiota intestinal do paciente.
“Isso mostra que probiótico é algo específico: cada condição requer uma cepa própria. Não existe ‘receita de bolo’. Nosso conhecimento ainda está engatinhando, mas a microbiota é fundamental para a saúde e para o desenvolvimento de doenças. No geral, o maior risco de usar probióticos sem orientação é jogar dinheiro fora. Ele não costuma oferecer risco imediato à vida, mas pode interferir negativamente na microbiota. Se acreditamos que a microbiota regula o sistema imunológico e o eixo intestino-cérebro, não faz sentido perturbá-la com probióticos sem indicação”, pontua Maria do Carmo.
Veja também: Por que tenho dor de barriga quando estou ansioso?




