Colesterol alto e déficit visual também são fatores de risco para demência. Especialista explica qual o impacto deles na saúde do cérebro.
A demência afeta mais de 50 milhões de pessoas no mundo. Somente na região das Américas, há mais de 10 milhões de pacientes vivendo com essa condição e, no Brasil, são cerca de 1,2 milhões de casos. Existem vários tipos de demência, sendo que a doença de Alzheimer é o tipo mais comum, responsável pela maioria dos casos.
Um estudo publicado na revista científica The Lancet classificou dois novos fatores de risco para as demências: colesterol alto e déficit visual. Outros fatores, já conhecidos previamente, incluem: baixo nível educacional, consumo excessivo de álcool, depressão, diabetes, falta de atividade física, isolamento social, hipertensão, lesões graves na cabeça, obesidade, perda de audição, poluição do ar e tabagismo.
“Na verdade, a evolução das publicações em relação aos fatores de risco para doença de Alzheimer vem desde a década de 90. Está sempre se procurando potenciais fatores de risco e está sempre se descobrindo. E o objetivo é justamente evitar que aconteça essa doença e a gente consiga reduzir a quantidade de casos. Então, dentro dessa evolução, além desses dois [fatores] que apareceram, tem outros potenciais fatores que devem entrar e com isso aumenta ainda mais o que a gente pode trazer de benefício para os nossos pacientes”, afirma o dr. Charlys Barbosa, geriatra membro da Comissão de Inovação em Doença de Alzheimer e Desordens Associadas da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
O Portal Drauzio conversou sobre o assunto com o especialista durante o XXIV Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, realizado em Belo Horizonte (MG), entre os dias 3 e 5 de abril.
Colesterol alto
Segundo o dr. Charlys, o aumento do colesterol LDL – conhecido como “colesterol ruim” – está associado à doença vascular (termo que engloba os problemas que atingem o sistema circulatório do organismo, composto por vasos sanguíneos), e não há como desmembrar saúde vascular e questões degenerativas.
“Dentro do degenerativo, também existe doença vascular. Então, qualquer fator que aumente o risco do indivíduo ter pequenos AVCs, AVCs mais importantes, lesões vasculares no cérebro, podem levar a quadros demenciais. O LDL é um desses fatores. A hipertensão é outro, o diabetes é outro fator. Então, hipertensão, diabetes e o LDL, que são fatores de risco – a hipertensão e o diabetes já colocados anteriormente –, estão relacionados a lesões vasculares pequenas ou maiores que estão relacionadas aos quadros demenciais”, esclarece ele.
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Déficit visual
Já a relação entre déficit visual e demência está na redução de estímulos e interações que tende a ocorrer quando a pessoa passa a enxergar menos.
“Em relação ao déficit visual – e eu já trago o déficit auditivo junto –, a correção de tais fatores melhora a relação do indivíduo com o ambiente. Então, quanto menos você enxerga, menos você é estimulado. Quanto menos você enxerga, menos interação com o ambiente você tem. E daí você não desenvolve as suas habilidades cognitivas, e você não as mantêm. Você perde reserva, porque você não está sendo estimulado o tempo inteiro”, explica o médico.
O isolamento social, como ocorreu no período da pandemia de covid-19, foi muito prejudicial para as pessoas idosas, porque com a diminuição da interação com os outros, diminui-se também uma série de estímulos muito importantes para a saúde cerebral. “Acaba o estímulo visual, acaba o estímulo sensorial, acaba o estímulo social, o ‘trocar uma ideia’, falar sobre um problema, ter um ciclo de amizades, tudo isso foi reduzido. E isso acabou sendo muito notório com a pandemia”, destaca.
Cuidados com a saúde do cérebro
É muito importante pensar a saúde como um todo e se atentar aos diversos aspectos do dia a dia que têm impacto na saúde do cérebro.
“Pensar na sua saúde cerebral é pensar no lazer que você precisa ter. Você não pode só trabalhar, por exemplo. É pensar na convivência social e nos ciclos sociais que você tem, é pensar no tratamento de doenças da meia idade, como o diabetes, a hipertensão, a dislipidemia (que seria o colesterol alto). É pensar no que você está comendo – e aí entra um potencial fator de risco que deve surgir, que é a dieta”, alerta o dr. Charlys.
O especialista reforça que o que você come se relaciona com a sua saúde a vida inteira. Portanto, esse cuidado com a alimentação deve acontecer desde sempre: aos dois, aos 15, aos 40 ou aos 70 anos. De forma geral, hábitos saudáveis ajudam a promover uma vida mais longeva e saudável, com menor risco de doenças crônicas, incluindo o Alzheimer.
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*Com colaboração de Beatriz Zolin, que viajou para o evento.