O transtorno bipolar é raro nessa faixa etária, mas quando acontece exige atenção e tratamento especializado. Saiba mais.
O transtorno afetivo bipolar é um transtorno psiquiátrico marcado por alterações de humor, com variações entre fases de depressão e de mania (estado de euforia, aumento de energia e agitação intensa). O distúrbio é bastante conhecido e comum em adultos, mas também pode se manifestar em crianças e adolescentes – embora seja bastante raro nessa fase.
O principal fator de risco associado ao problema é o histórico familiar. “O maior fator de risco para transtorno bipolar na infância e adolescência é, sem dúvida, a presença de familiares de primeiro grau com transtorno afetivo bipolar. Há alguns fatores menores, e menos estudados, que parecem apresentar maior risco, como eventos adversos na infância e algumas comorbidades psiquiátricas, em particular do neurodesenvolvimento”, afirma Aline Jimi Myung Cho, psiquiatra e vice-coordenadora clínica do Ambulatório para o Desenvolvimento dos Relacionamentos e das Emoções (ADRE) do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência (SEPIA) do Instituto de Psiquiatria da USP (IPq-HCFMUSP).
Principais sintomas e impactos do transtorno bipolar na infância
Segundo a médica, os sintomas que normalmente são precocemente identificados em crianças incluem: oscilações espontâneas de humor, com frequentes momentos de hipertimia (sintoma caracterizado por humor anormal, persistentemente elevado, expansivo ou irritável), autoestima inflada, diminuição da necessidade de sono, hipersexualidade e pressão de fala (sintoma psiquiátrico com aceleração tanto dos pensamentos quanto da fala – semelhante ao que acontece em crianças com TDAH, que podem falar muito rápido, não terminar as frases ou mesmo interromper os outros, por exemplo).
Assim como acontece com adultos, o transtorno bipolar na infância também apresenta fases depressivas. No entanto, a especialista explica que os sintomas nessa fase costumam ser diferentes – são mais presentes os sintomas de irritabilidade em vez de tristeza.
O transtorno bipolar pode afetar a qualidade de vida dos pacientes dessa faixa etária, gerando implicações em sua vida social e escolar. “O impacto pode variar de acordo com a gravidade e fatores associados ao quadro. Porém, pode-se dizer que no curso há, sem dúvida, um impacto relevante na funcionalidade do indivíduo, na construção de identidade e na funcionalidade social e acadêmica”, diz a dra. Aline.
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Diagnóstico e tratamento
Identificar o transtorno bipolar em crianças e adolescentes é um desafio. “O diagnóstico é feito a partir de uma história de anamnese detalhada, avaliação clínica, entrevista com pais, criança, professores e demais envolvidos e deve ser realizada por um bom psiquiatra infantil”, esclarece a médica.
O tratamento envolve intervenções psicoterápicas, suporte escolar e psicossocial, além de medicações. Os principais medicamentos utilizados nesses casos são os estabilizadores de humor.
O apoio dos pais, da escola e da comunidade do entorno do paciente também é muito importante no tratamento. Cada tratamento é individualizado, mas a dra. Aline recomenda algumas medidas para os pais e cuidadores:
- É importante que haja uma boa psicoeducação com os responsáveis e com a criança: é necessário compreender o transtorno a partir de um lugar de desculpabilização e chamada para responsabilização no tratamento, auxiliando na redução de preconceitos e estigmas;
- A partir dessa psicoeducação, os pais devem aprender a monitorar os sintomas do transtorno;
- Ter envolvimento ativo nas intervenções recomendadas, aderindo ao plano de tratamento;
- Promover um ambiente saudável em casa, com rotina, diálogos abertos e hábitos saudáveis;
- Auxiliar na interface com a escola;
- Cuidar de sua própria saúde física e mental, pois o bem-estar dos pais é preditor do bem-estar dos filhos.
O transtorno bipolar é uma condição crônica. Por isso, o tratamento contínuo é fundamental para prevenção de recaídas e possíveis complicações. “O prognóstico na infância e adolescência vai depender de fatores como diagnóstico precoce, presença de comorbidades, ambiente de apoio e a presença de um tratamento estruturado contínuo.”
Sem o tratamento adequado, a tendência é que o quadro se torne mais grave, com ciclos de humor e prejuízos na vida social, profissional e acadêmica – podendo, inclusive, causar prejuízos cognitivos e de personalidade.
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