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Coluna da Mariana Varella

13% dos cânceres são causados por vírus e bactérias

mão de profissional de saúde com luvas enche seringa em ampola de vacina.Bactérias e vírus podem causar câncer
Publicado em 20/09/2024
Revisado em 20/09/2024

Vírus e bactérias também podem causar câncer. Leia na coluna de Mariana Varella.

 

Pouca gente sabe, mas uma porcentagem expressiva dos casos de câncer é causada por vírus e bactérias. De acordo com o novo relatório da American Association for Cancer Research (Associação Americana para Pesquisa do Câncer, em tradução livre), publicado na última quarta-feira (18), as infecções por esses agentes são responsáveis por 13% dos casos de câncer no mundo todo.

Veja também: Por que vacinar seus filhos contra o HPV?

Se a informação assusta, por outro lado há uma boa notícia: a ciência já desenvolveu tratamentos para todas essas infecções, que podem ser detectadas precocemente. É possível, inclusive, prevenir algumas delas com vacinas disponíveis no SUS.

Veja quais os agentes relacionados ao câncer e quais órgãos eles costumam atingir :

 

Papilomavírus Humano (HPV)

Há cerca de 200 tipos de HPV, e pouco mais de uma dúzia estão associados ao desenvolvimento de câncer, sendo o HPV16 e o HPV18 os que mais causam a doença. Os tumores mais comumente relacionados ao HPV são: câncer de colo do útero (70% dos casos da doença são causados pelo vírus, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer – Inca); de orofaringe (boca e garganta); anal; de vulva; vagina; e pênis.

 

A maioria das pessoas será infectada pelo HPV ao menos uma vez na vida e conseguirá eliminar o vírus naturalmente. Contudo, cerca de 10% das mulheres com os tipos mais cancerígenos desenvolverão uma infecção persistente no colo do útero que poderá evoluir para um tumor na região, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.

Prevenção e vacina: O HPV é um vírus altamente transmissível, que se aloja tanto na mucosa quanto na pele da região genital, por isso o preservativo, apesar de evitar muitas transmissões do HPV e prevenir outras doenças sexualmente transmissíveis, nem sempre evita a contaminação pelo vírus. Desse modo, a melhor forma de combater sua disseminação é vacinar a população não contaminada.

Há duas vacinas contra o HPV: a quadrivalente, que protege contra os quatro tipos de vírus mais comuns (6, 11, 16 e 18); e a nonavalente, que protege contra nove tipos e pode ser encontrada apenas em clínicas privadas.

A quadrivalente está disponível gratuitamente para o seguinte público:

  • Meninas e meninos de 9 a 14 anos, com esquema de dose única;
  • Mulheres e homens que vivem com HIV, transplantados de órgãos sólidos, de medula óssea ou pacientes oncológicos na faixa etária de 9 a 45 anos, com esquema de três doses independentemente da idade, aplicadas aos 0 – 2 – 6 meses (segunda dose dois meses após a primeira e terceira seis meses após a primeira dose);
  • Vítimas de abuso sexual, imunocompetentes, de 15 a 45 anos (homens e mulheres) que não tenham tomado a vacina HPV ou estejam com esquema incompleto, com esquema de duas doses para as pessoas de 9 a 14 anos e três doses para as pessoas de 15 a 45 anos;
  • Usuários de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) de HIV, com idade de 15 a 45 anos, que não tenham tomado a vacina HPV ou estejam com esquema incompleto (de acordo com esquema preconizado para idade ou situação especial), com esquema de três doses. É preciso apresentar comprovação de que faz uso da PrEP;
  • Pacientes portadores de papilomatose respiratória recorrente/PRR a partir de 2 anos de idade.

No sistema privado, é possível encontrar as vacinas quadrivalente e a nonavalente, disponíveis para pessoas dos 9 aos 45 anos.

Deteção e tratamento: Não existe cura para o HPV, mas as lesões causadas pelo vírus podem ser diagnosticadas por meio de exames, como o Papanicolau, e tratadas.

 

Hepatites B e C

Os vírus das hepatites B e C causam inflamação no fígado que pode evoluir para câncer de fígado.

As duas hepatites podem ser transmitidas pelo contato com sangue, sêmen ou fluidos corporais de uma pessoa com o vírus, embora a hepatite C seja mais comumente transmitida pelo sangue contaminado, em especial entre usuários de drogas injetáveis ou que fizeram transfusões de sangue décadas atrás, quando ainda não havia um controle mais rígido do sangue doado.

A hepatite B também pode ser transmitida de mãe para filho na hora do parto (transmissão vertical).

Prevenção e vacina: A vacina contra a hepatite B está disponível pelo SUS e faz parte do Calendário Nacional de Vacinação. Deve ser aplicada em quatro doses: ao nascer e no segundo, quarto e sexto mês de vida, como parte da vacina pentavalente, que também protege contra difteria, tétano, pertussis (coqueluche) e  Haemophilus influenzae B.

Pessoas com mais de sete anos de idade que não tomaram a vacina ou não completaram o esquema vacinal podem se vacinar pelo SUS com três doses, com intervalo de 0-1-6 meses.

Na rede privada, a vacina contra a hepatite B está disponível para todas as idades em três doses, com intervalo de 0-2-6 meses.

As relações sexuais constituem outra via importante de transmissão da hepatite B, considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST), porque o vírus atinge concentrações altas nas secreções sexuais. Assim, o preservativo também protege contra a infecção sexual pelo vírus da hepatite B

Não existe vacina contra a hepatite C, e a melhor forma de prevenção é evitar contato com o sangue contaminado, pois essa é a principal via de transmissão do vírus.

Detecção e tratamento: É comum que pacientes com essas hepatites virais demorem anos para obter o diagnóstico, que pode ser feito por meio de exames de sangue, já que boa parte dos casos é assintomática. A demora no diagnóstico dificulta o tratamento, que costuma ser feito com drogas antivirais, e aumenta o risco de câncer.

 

H. pylori

Esta bactéria é bastante comum, e cerca da metade da população do mundo convive com a bactéria sem apresentar sintomas ou complicações. No entanto, entre 1% e 3% dos infectados desenvolvam câncer.

A infecção causa uma infecção crônica na mucosa do estômago, o que pode causar lesões e câncer nesse órgão.

Prevenção e vacina: A bactéria está presente na saliva e nas fezes de pessoas contaminadas, por isso a infecção é mais frequente em países em que as condições de saneamento básico são precárias.

Assim, para evitar a infecção:

  • Lave as mãos antes de comer e após ir ao banheiro;
  • Higienize bem os alimentos, inclusive frutas, verduras e legumes crus com cloro;
  • Evite comer em ambientes com pouca higienização;
  • Ao comer na rua, dê preferência a vegetais cozidos;
  • Não compartilhe copos, pratos e talheres com outras pessoas.

Não existe vacina para a H. pylori.

Detecção e tratamento:  O diagnóstico da infecção pode ser feito por meio da pesquisa de anticorpos no sangue, da detecção de gás carbônico marcado com isótopos radioativos presente na expiração, da pesquisa de antígenos do H. pylori nas fezes ou através do exame endoscópio, que permite colher fragmentos da mucosa gástrica para análise microscópica.

O tratamento exige combinação de três ou quatro medicamentos administrados durante 7 a 14 dias, conforme o caso. Em geral, os índices de erradicação ultrapassam 90%.

 

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