Em 96% dos casos, os abusos ocorrem dentro de casa. Mudança de comportamento do idoso e negligência de cuidados devem ser investigados.
Dados do Censo Demográfico de 2022 apontam que pessoas de 65 anos ou mais já representam mais de 10% da população do país, totalizando 22 milhões de habitantes, um dos maiores percentuais de idosos da história.
Se por um lado o envelhecimento da população ocorre de maneira acelerada, por outro, as políticas públicas de proteção à pessoa idosa ainda não acompanham esse ritmo, resultando em um número elevado de casos de violência e abusos.
De acordo com dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH), nos três primeiros meses de 2024 foram notificadas 42.995 denúncias de violações contra pessoas de 60 anos ou mais. O número é cerca de 20% maior do que o do mesmo período de 2023, (33.546 registros).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 96% dos casos, as violações ocorrem dentro da casa da vítima, tendo um familiar como agressor.
Marília Berzins, especialista em gerontologia e doutora em saúde pública, diz que é nos consultórios médicos que esse tipo de violência é detectado, e é obrigação dos médicos notificar e reportar casos, mesmo que ainda sejam suspeitos. Dessa forma, o Ministério da Saúde consegue obter informações para criar mais políticas públicas e ações sociais.
“Deve fazer parte da rotina do profissional de saúde atentar aos detalhes, principalmente na consulta de rotina, já que as violências podem ser visíveis ou invisíveis”, afirma Berzins.
A presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Naira Lemos, faz um alerta à violência psicológica que, muitas vezes, ocorre de maneira sutil e contínua. “Ela é muito velada. As pessoas idosas não relatam para os profissionais de saúde que estão sofrendo abuso emocional, pois sentem vergonha ou receio de denunciar o indivíduo que está maltratando. Nós não sabemos, até que a pessoa verbalize.”
Sinais ocultos
Berzins orienta prestar atenção ao comportamento do idoso, porque muitas vezes ele não se reconhece como vítima de violência.
“O profissional de saúde tem que estar atento. Numa consulta o idoso chega com o filho, mas está vestindo blusa, cachecol, num calor de 30 graus. Será que não está escondendo alguma lesão? Tem que pedir para examinar. Ou então, num dia frio, ele não está agasalhado, ou está usando roupas sujas, gastas. Outra coisa que chama a atenção é quando o idoso não tem voz ativa e quem responde tudo na consulta é o filho, ou algum outro familiar.”
Se para mulheres em situação de violência é difícil denunciar o marido agressor, para as pessoas idosas, a dificuldade em denunciar ou declarar que seus filhos são os agressores é ainda maior. Muitos se culpam, ou acreditam ser “normal” a situação opressora.
“Acham que devem ser tratados assim, porque erraram no passado. Ficam com receio de falar alguma coisa e o filho ser preso”, diz Berzins.
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Como identificar os sinais de violência?
Detectar os sinais nem sempre é tarefa fácil, pois muitas vezes os idosos são vítimas de “violências não percebidas”. Para ajudar na conscientização da população, o Ministério da Saúde possui uma cartilha que elenca os cinco tipos de violência mais comuns e como ficar atento a esses sinais:
Violência física
A violência física costuma ser visível, em geral por meio de hematomas e escoriações, e às vezes os familiares ou o próprio idoso tentam esconder as marcas utilizando blusas ou dizendo que caiu sozinho, por exemplo. Mas é importante destacar também que nem sempre esse tipo de violência é perceptível a olho nu e pode vir na forma de beliscões, empurrões, tapas ou agressões que não evoluem com sinais físicos.
Violência psicológica
O abuso psicológico pode ser muito sutil. O idoso passa a ser descredibilizado, sofrer ofensas verbais e xingamentos, ser afastado do convívio familiar, não ter autonomia. É importante observar a alteração de humor do idoso, que passa a ficar mais quieto e isolado.
Negligência ou abandono
Ocorre quando há recusa ou omissão de cuidados básicos. Por exemplo: o idoso está em condições precárias de higiene pessoal, não tem roupas adequadas, está muito magro, porque não está se alimentando direito, ou não toma as medicações prescritas.
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Violência sexual
Esse tipo de violência pode ocorrer na própria casa do idoso, cometidos por pessoas da família, ou em instituições que prestam atendimento a pessoas idosas. Atos como beijos forçados, penetração não consentida e toques no corpo são os atos mais comumente observados. É importante notar mudanças de comportamento, como medo ou pavor de encontrar determinada pessoa ou de ir a determinado local.
Abuso financeiro
Esse tipo de situação é bastante comum e ocorre quando o violador se apropria indevidamente do dinheiro, cartões bancários ou aposentadoria do idoso. Os mais velhos podem ser vítimas deste tipo de violência devido à falta de informação ou ainda por acreditarem na ação do violador, que também pode ser da própria família. Como resultado, o bem-estar físico e social do idoso fica prejudicado, pois o dinheiro dele é utilizado para outra finalidade.
Ajuda
Se você conhece uma pessoa idosa que possa estar sofrendo algum tipo de abuso é possível fazer denúncias anônimas através do Disque 100 ou orientar o idoso a buscar ajuda profissional nos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), que oferecem atendimento psicológico, orientação jurídica e encaminhamento para outros serviços de assistência social; ou procure as Delegacias Especializadas de Atendimento ao Idoso.
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