TDAH: a importância do tratamento durante a infância e a vida adulta

Drauzio Varella

Drauzio Varella é médico cancerologista e escritor. Foi um dos pioneiros no tratamento da aids no Brasil. Entre seus livros de maior sucesso estão Estação Carandiru, Por um Fio e O Médico Doente.

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O TDAH, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, geralmente é percebido na infância, mas muitos diagnósticos podem passar despercebidos. Entenda.

 

O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, TDAH, costuma surgir ainda na infância. Os próprios pais ou os profissionais da escola percebem os sinais nas crianças: agitação extrema e dificuldade de se concentrar. Quando diagnosticados, recomenda-se acompanhamento psicológico e/ou medicamentos.

Mas o TDAH tem níveis e, em alguns deles, o transtorno pode passar despercebido. O adolescente cresce “distraído” e, na vida adulta, enfrenta problemas no trabalho e no relacionamento por desconhecer a própria condição. Mesmo nessa fase, é muito importante buscar ajuda médica especializada. Veja o que diz o dr. Drauzio.

Olá, nós vamos falar hoje sobre TDAH. Todo mundo já ouviu falar em TDAH, o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. O exemplo clássico, quase caricato do TDAH, é aquela criança, um menino ou uma menina, que não para um segundo, que levanta, que pula no sofá, que desce, enlouquece os pais, faz uma confusão em casa. Na escola não para, não consegue ficar sentado muito tempo, levanta, pede pra ir no banheiro, volta, atrapalha a aula, atrapalha os próprios colegas.

Esses casos são casos fáceis de identificar. Em geral, quem faz o diagnóstico até é a professora ou o professor na escola, que percebe que aquele comportamento da criança é alterado, não é o comportamento igual ao das outras. Chama os pais e, aí, os pais percebem que aquilo que eles notavam em casa acontece na escola, acontece em outros lugares. Em casa também, a criança ia fazer a lição não para, aí, vai até o banheiro, aí, depois, levanta outra vez, vai, pega um copo d’água, aí, senta, escreve mais um pouco, aí, o cachorro late, ele vai ver o que o cachorro, por que razão o cachorro tá latindo.

Essas crianças são encaminhadas, em geral, para psicólogas ou para psiquiatras. É claro que há casos em que esse transtorno é um transtorno leve, a criança consegue conviver com ele, desde que receba atendimento psicológico e de terapia ocupacional, fazendo esporte, o esporte ajuda também. Com essas medidas práticas, sem necessidade de medicação, essas crianças que têm o transtorno mais leve conseguem ser equilibradas.

Aquelas que têm o transtorno mais intenso, mais pesado, essas muitas vezes precisam de medicação. Existe um grande preconceito. Existe gente que diz: “Ah, agora é assim, né, a criança vai mal na escola dá um tratamento pra ela, medica. É um exagero, agora todas as crianças precisam tomar esses medicamentos.” Não, não é assim.

É claro que há exageros. Esses exageros são por incompetência, por pressão da família, enfim, por vários motivos. Mas, quando a medicação é bem indicada, nós temos uma resposta que costuma ser muito boa. A família percebe rapidamente que, com a medicação, a criança tá mais calma, vive melhor, não vive naquela confusão em que ela levava o seu dia a dia anteriormente.

Algumas dessas crianças que não receberam o diagnóstico e que tiveram dificuldade na escola, na adolescência, vão ter também. São aquelas crianças que os colegas acham que “ele é meio avoado; ele tá falando uma coisa, a gente fala, ele não presta atenção; às vezes, pergunta uma coisa que acabou de ser dita; pra estudar, faz uma bagunça.” Essas crianças, na adolescência, continuam com o transtorno porque o transtorno, você não cura, você trata, mas não consegue curar. E o que é mais grave, na vida adulta.

Você pega um homem de 50 anos ou uma mulher de 50 anos. Isso já me aconteceu várias vezes, quando eu falo sobre TDAH, depois, a pessoa manda uma mensagem pra gente, aqui, dizendo: “Olha, eu tinha essa coisa e eu não sabia o que era”. Então, você vê pessoas que, até hoje, passaram a vida sofrendo com esse transtorno e não receberam o diagnóstico. Mesmo nessa fase, o encaminhamento é semelhante. As pessoas têm que ser encaminhadas para psicólogas e, ao mesmo tempo, encaminhadas prum psiquiatra, se for o caso. E, se houver indicação, pode tomar a medicação, claro, não é porque não são mais crianças.

E muitas dessas pessoas, a hora que começaram a tomar a medicação, a vida mudou. Eu lembro de um senhor que disse: “Nossa, se eu soubesse disso, teria me evitado tantos problemas que eu enfrentei pela vida afora”. Porque, como são pessoas que não se concentram, isso tem repercussões no trabalho, repercussões na vida familiar, no próprio psiquismo da pessoa, que se sente frustrada, incapaz em relação às outras.

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é um transtorno psiquiátrico e, como tal, deve ser tratado, com acompanhamento psicológico, acompanhamento em terapia ocupacional, exercícios físicos e psiquiatras, eventualmente com a necessidade de prescrição de medicamentos. O medicamento é fundamental, mas não em em todos os casos. Precisa ter sempre uma avaliação de alguém com experiência nessa área.

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