A Butantan-DV, vacina da dengue criada pelo Instituto Butantan, foi aprovada nesta quarta-feira (26/11) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Primeira vacina contra a dengue em dose única no mundo, o imunizante possibilita a ampliação da cobertura vacinal e representa um grande avanço no combate à doença.
O que muda?
Em dezembro de 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou a QDenga, vacina contra a dengue produzida pela farmacêutica Takeda. A partir de fevereiro do ano seguinte, o imunizante passou a ser administrado em duas doses em crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos que morassem em municípios de maior risco epidemiológico.
“Estamos vendo na prática que o número de abandono do esquema – toma a primeira e não aparece para a segunda – é enorme. Próximo da metade daqueles que tomam a primeira dose não completam o esquema. Então, uma vacina em dose única é um facilitador da adesão ao programa e do cumprimento do calendário”, afirma Renato Kfouri, pediatra infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Além disso, o laboratório japonês Takeda não oferece doses suficientes para toda a população brasileira. A Butantan-DV, antes mesmo da sua aprovação pela Anvisa, já estava sendo produzida pelo Instituto Butantan, que possui mais de um milhão de doses prontas para uso pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). O Butantan fechou ainda uma parceria internacional com a empresa chinesa WuXi a fim de ampliar a entrega para cerca de 30 milhões de doses no segundo semestre de 2026.
Resultados muito positivos
Em relação à eficácia, a Butantan-DV garante proteção semelhante à QDenga. Após cinco anos de ensaio clínico de fase 3 com mais de 16 mil voluntários, a eficácia geral foi de 74,7%. A proteção contra a dengue grave ou com sinais de alarme alcançou 91,6% e, contra hospitalizações, chegou a 100%. A vacina se mostrou segura tanto para quem já teve, quanto para quem nunca teve dengue.
Ainda que os voluntários do estudo tenham desenvolvido anticorpos contra os quatro sorotipos da dengue, nos anos em que a pesquisa estava sendo feita no Brasil, circulavam apenas os sorotipos 1 e 2. A conclusão de que a vacina protege contra os sorotipos 3 e 4 se deu através de uma projeção chamada de estudo ponte validado pela Anvisa. Há uma vacina semelhante sendo estudada na Ásia, onde ocorre a circulação dos sorotipos 3 e 4, e a expectativa é que em breve tenhamos essa confirmação.
“Se protegeu contra o tipo 1 e 2 deve proteger contra o tipo 3 e 4 também, já que os níveis de anticorpos são muito semelhantes. Portanto, os dados que temos é de que a vacina apresentou uma resposta imune muito boa para todos os sorotipos”, conclui o infectologista.
No que diz respeito aos efeitos adversos, os mais comuns foram leves ou moderados, como dor e vermelhidão no local da aplicação, dor de cabeça e fadiga. As reações mais sérias foram raras e todas as pessoas se recuperaram.
Quem pode tomar?
Ainda não há previsão de quando a Butantan-DV será incluída no calendário nacional.
A aprovação da Anvisa abrange a população brasileira de 12 a 59 anos, contudo, a faixa etária de aplicação da vacina deverá ser definida pelo Ministério da Saúde.
“Essa vai ser a grande discussão, né? Para quem vamos indicar, qual será a prioridade, faixa etária, região do país, município… É isso que queremos enxergar: onde vamos conseguir impactar mais e com que estratégia de vacinação teremos maior impacto no controle da doença no país”, pontua Renato Kfouri.
O Instituto Butantan espera ampliar a faixa etária de vacinação, incluindo também o público pediátrico e os idosos. A organização já recebeu aprovação da Anvisa para avaliar a Butantan-DV na população de 60 a 79 anos. A inserção de crianças de 2 a 11 anos nas recomendações da vacina também está sendo analisada, já que os estudos clínicos realizados comprovaram a segurança nessa faixa etária.
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