O descaso com o HPV | Artigo

Mãos com luvas azuis segurando um tubo com amostra de sangue e etiqueta escrito papilomavírus.

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Publicado em: 13 de dezembro de 2017

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Descaso com o HPV é refletido no fracasso de adesão às campanhas de vacinação do Ministério da Saúde.

 

O HPV é um vírus altamente transmissível. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por ele no decorrer de suas vidas.

Ao entrar em contato com a pele ou as mucosas, provoca uma infecção que causa verrugas genitais e anais em ambos os sexos, câncer de pênis e 84% dos casos de câncer do colo uterino. Quando adquirido por meio do sexo oral, está associado ao aparecimento de carcinomas na orofaringe.

 

Veja também: HPV – Papilomavírus humano

 

É grande a biodiversidade do HPV: são mais de 150 tipos caracterizados a partir da estrutura viral. Entre aqueles capazes de infectar a região ano-genital, há pelo menos 35 tipos; mais de 20 tipos estão ligados ao câncer de colo uterino. O HPV16 e o HPV18 são responsáveis por mais de 70% dos casos.

De acordo com a agressividade e o potencial oncogênico, os tipos são classificados como de risco baixo, intermediário ou alto.

Na maioria das vezes, a infecção regride espontaneamente no período de seis meses a dois anos. Há, no entanto, um pequeno número de casos em que o vírus consegue ludibriar a resposta imunológica e persistir no organismo.

A eliminação ou persistência dependerá do tipo, da carga viral transmitida, do número de reinfecções, de fatores genéticos, imunológicos e comportamentais. No caso do câncer de colo uterino, são considerados fatores de risco: tabagismo, iniciação sexual precoce, multiplicidade de parceiros, uso de contraceptivos orais e a idade. Infecções adquiridas antes dos 30 anos tendem a regredir espontaneamente com mais facilidade.

Nas mulheres em que a infecção por um tipo oncogênico persiste, podem surgir lesões precursoras (lesão intraepitelial escamosa de alto grau e carcinoma in situ) que, identificadas a tempo nos exames ginecológicos de rotina, são curadas com tratamentos locais antes de se tornarem invasivas.

Apesar dos boatos que circularam pela internet por ocasião do lançamento e da ação irresponsável dos desvairados contrários a qualquer vacinação, a vacina contra o HPV é segura.

A OMS estima que haja cerca de 300 milhões de mulheres infectadas, no mundo, entre as quais 90 milhões pelos tipos oncogênicos 16 e 18 ou por ambos. Como ocorrem aproximadamente 500 mil casos de câncer de colo uterino por ano, é possível concluir que a infecção pelo HPV é fator necessário, mas não suficiente.

Embora o uso de preservativo impeça a transmissão através da mucosa genital e oral, não é capaz de proteger a pele. Por essa razão, a medida mais eficaz para combater a transmissão é vacinar a população que ainda não foi infectada.

O SUS oferece vacinação gratuita contra o HPV para meninas de 9 a 14 anos, meninos de 11 a 14, pessoas de 9 a 26 anos infectadas pelo HIV e para pacientes oncológicos ou transplantados.

A vacina é a quadrivalente, administrada em duas doses com intervalo de seis meses. Elas protegem contra os tipos mais prevalentes do HPV: 6, 11, 16 e 18.

A adesão ao programa do Ministério da Saúde é um fracasso: de 2014 a junho de 2017, cerca de 72% das meninas de 9 a 14 anos foram vacinadas, mas apenas 45% receberam a segunda dose. Entre os meninos, pior ainda: de janeiro a junho, apenas 16% tomaram a primeira dose.

O Ministério da Saúde acaba de publicar os resultados preliminares do estudo POP-Brasil, sobre a prevalência nacional do HPV, realizado em parceria com o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, em todas as capitais do país.

 

Veja também: Mais da metade dos jovens brasileiros tem HPV

 

Foram 7.586 mulheres e homens de 16 a 25 anos de idade, usuários do SUS, dos quais 2.669 cederam amostras de células dos genitais e da cavidade oral.

A prevalência média do HPV foi de 54,6%. Cerca de 38% das pessoas infectadas apresentaram os tipos de alto risco 16 e 18.

Salvador mostrou a prevalência mais elevada (71,9%), seguida de Palmas (61,8%), Cuiabá (61,5%) e Macapá (61,3%). Em várias cidades, a prevalência esteve acima de 50%, entre elas Porto Alegre (57,7%), São Paulo (54,5%) e Rio (52%).

Apesar dos boatos que circularam pela internet por ocasião do lançamento e da ação irresponsável dos desvairados contrários a qualquer vacinação, a vacina contra o HPV é segura. (Leia sobre o tema aqui.)

Nos Estados Unidos, em 67 milhões de doses administradas, a incidência de efeitos indesejáveis foi de 0,03% (3 em cada 10 mil).

Quais foram? Dor, inchaço e vermelhidão no local, cefaleia e febrícula (raramente).

Vacine seus filhos.

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