Automedicação tem gerado superbactérias que não respondem ao tratamento com antibióticos tradicionais. Vacina contra a meningite, que também protege contra a gonorreia, é esperança.
Só em 2019, cerca de 1 milhão de brasileiros e brasileiras afirmaram ter tido algum diagnóstico de infecção sexualmente transmissível (IST) ao longo do ano, de acordo com a última Pesquisa Nacional de Saúde.
Dentre elas, está a gonorreia (também chamada de pingadeira, blenorragia ou uretrite gonocócica), uma condição infectocontagiosa causada pela bactéria Neisseria gonorrheae, que infecta especialmente a uretra, canal que liga a bexiga ao meio externo. O colo do útero, o reto e a garganta também podem ser atingidos, esses dois últimos pela prática do sexo anal ou oral sem proteção.
Em casos mais raros, ela pode se espalhar pela corrente sanguínea, o que desencadeia uma série de sintomas cutâneos como manchas vermelhas, além de dores nas articulações.
Além da transmissão via contato sexual, a bactéria responsável pela gonorreia também pode ser transmitida da mãe para o bebê na hora do parto, provocando um quadro de conjuntivite na criança (oftalmia neonatal).
Sintomas da gonorreia
- Inflamação no canal da uretra;
- Dor ou ardor ao urinar;
- Saída de secreção purulenta amarelo-esverdeada pela uretra.
Nos homens, os sintomas podem ser mais perceptíveis, como secreção purulenta, ardor, e manchas vermelhas na pele (eritema). Nas mulheres, a infecção pode ser assintomática, detectada apenas em exames de rotina ou após o diagnóstico do parceiro.
Quando a gonorreia afeta o reto, os sintomas incluem obstrução do canal anal, coceira, sangramento e secreção. Já na garganta, estão presentes sintomas como dor e alterações na fala.
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Diagnóstico da gonorreia
O diagnóstico é feito com base no relato do paciente (descrição de sintomas, intervalo de tempo em que esses apareceram), no exame clínico e no exame laboratorial que analisa a secreção e confirma ou não a infecção.
O exame laboratorial é barato e indolor, e o resultado sai em 15 minutos. Como é frequente a infecção por mais de um agente, podem ser colhidas na mesma oportunidade amostras de sangue e fluidos para outros exames.
Incubação
O período de incubação que vai desde a relação desprotegida até as primeiras manifestações da doença varia de 24 horas a até 14 dias. Por isso, uma das maneiras de fazer o diagnóstico clínico da doença é perguntar quanto tempo depois da relação sexual apareceu a lesão e se a secreção lembra pus e está manchando as roupas íntimas.
Vacina contra a meningite e prevenção
Um dos grandes problemas do aumento dos casos de ISTs e da automedicação é a possibilidade das bactérias passarem a ser resistentes aos antibióticos disponíveis, como a penicilina benzatina, ceftriaxona e azitromicina, já que eles são a principal ferramenta no tratamento dessas infecções. Com isso, vão surgindo as superbactérias, como já acontece no caso de outras infecções sexualmente transmissíveis, como a sífilis.
Vale lembrar que a principal forma de prevenção contra a gonorreia e diversas ISTs ainda é o preservativo, seja ele interno ou externo. Mas uma descoberta promissora se deu em 2017, quando um artigo publicado na revista científica “Lancet” revelou que uma vacina contra a meningite aplicada na população neozelandesa também se mostrou eficiente contra a gonorreia.
Inicialmente, a vacina tinha como objetivo imunizar a população neozelandesa contra a variante da meningite provocada pelo meningococo do grupo B — agente etiológico da forma mais mortal de meningite.
A imunidade cruzada é possível porque as bactérias responsáveis por ambas as infecções são do mesmo grupo e compartilham semelhanças no código genético. Os estudos, porém, ainda não contemplaram grandes populações, e a proteção garantida contra a gonorreia pela vacina contra a meningite ainda é baixa, cerca de 40%. De qualquer forma, a descoberta pode ser uma aliada na prevenção e uma esperança para o desenvolvimento de uma vacina focada na imunização contra a gonorreia.
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