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Saúde pública

Já dá para abrirmos mão das máscaras em locais abertos? | Coluna

pessoas usando máscaras em centro comerical
Publicado em 08/10/2021
Revisado em 27/01/2022

Alguns estados e municípios já falam de suspender a obrigatoriedade do uso de máscara em locais abertos. Mas já é hora?

 

Esta semana, vários estados e municípios, como Rio de Janeiro e São Paulo, começaram a discutir o fim da obrigatoriedade do uso de máscara em locais abertos. Motivados pela queda no número de internações e óbitos pela covid-19 registrada no país, alguns governadores e prefeitos se viram animados para suspender a medida.

Veja também: Por que mesmo após a segunda dose devo usar máscara?

Segundo a pneumologista Letícia Kawano Dourado, médica e pesquisadora do painel de desenvolvimento das Diretrizes em Tratamento para a covid-19, da Organização Mundial da Saúde (OMS), “óbito é um evento tardio na cadeia de transmissão, adoecimento e desfecho da covid. O importante é olhar para o número de casos e para a curva do número de casos”.

No momento, o Brasil tem uma média diária de casos novos de 17 mil. É menos do que os 70 mil registrados em junho deste ano, mas ainda assim é uma média alta. A vacinação, embora esteja avançando, ainda não chegou a mais da metade da população, percentual considerado baixo para que deixemos de lado outras medidas preventivas.

É esperado que comece a haver algumas flexibilizações. Elas devem, no entanto, iniciar-se devagar, pelos ambientes ao ar livre e no momento em que os índices da pandemia permitirem. Em entrevista a este Portal, o engenheiro biomédico da Universidade de Vermont Vitor Mori afirmou que o risco de contaminação ao ar livre é muito baixo. Assim, é natural que o debate a esse respeito aconteça, como ocorreu em diversos países, conforme a vacinação avance e o número de casos novos não suba.

As máscaras em locais fechados provavelmente serão a última medida a abandonarmos, visto que elas comprovadamente reduzem a transmissão comunitária, como mostrou um estudo feito em Bangladesh, com 340 mil pessoas.

Contudo, não há dúvida de que máscara é essencial em lugares fechados e mal ventilados, principalmente se houver aglomeração. “Ainda não é hora de deixarmos de usar máscara”, reforça a dra. Letícia. Hoje sabemos que as máscaras que melhor protegem contra o vírus são as PFF2, também chamadas de N95, cujo elástico passa por trás de cabeça. Esses respiradores garantem uma excelente filtragem e se ajustam melhor ao rosto.

 

Estados Unidos

 

Em maio deste ano, diante da melhora dos indicadores da pandemia, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano retirou a obrigatoriedade do uso de máscaras para vacinados. Dois meses depois, perante a circulação da variante Delta e da recusa de parte da população americana em se vacinar, o país viu o número de casos e óbitos dispararem.

O CDC precisou voltar atrás na recomendação, mas o estrago já estava feito e afetou a credibilidade do órgão, que foi acusado por cientistas e pela mídia de ceder à pressão dos governos para que as pessoas voltassem a se sentir seguras e, assim, retomassem as atividades econômicas.

O episódio serviu de alerta para outros países. Com a diminuição do número de casos novos, é preciso cautela. É possível retomar algumas atividades, inclusive as de lazer, mas de preferência em lugares abertos. Em locais fechados, são necessárias a utilização de máscaras, a manutenção do distanciamento físico e a ventilação de ambientes, mesmo entre os vacinados.

Embora os vacinados tenham risco menor de contrair a infecção, de desenvolver quadros graves da da doença e de disseminar o vírus, sabe-se que ainda assim podem transmitir o vírus aos mais vulneráveis. Portanto, é preciso uma taxa próxima a 90% de vacinados e que todos os idosos tenham tomado a dose de reforço para que comecemos a pensar em deixar definitivamente de lado as medidas preventivas.

As máscaras em locais fechados provavelmente serão a última medida a abandonarmos, visto que elas comprovadamente reduzem a transmissão comunitária, como mostrou um estudo feito em Bangladesh, com 340 mil pessoas.

 

Gestão de risco

 

Contudo, se é verdade que a pandemia ainda não acabou, também é fato que já é razoável dizer para as pessoas que elas têm opções. É possível fazer algumas atividades, como encontros ao ar livre com distanciamento e até em locais fechados, entre pequenos grupos de pessoas vacinadas, desde que utilizem máscaras e mantenham o lugar ventilado e o distanciamento.

De acordo com Vitor, estima-se que menos de 1% das transmissões ocorra ao ar livre. O pesquisador defende que flexibilizemos o uso da máscara em espaço aberto, mas que sejamos ainda mais rígidos quanto ao uso em espaço fechado, com máscara de melhor qualidade.

Interações próximas, face a face e por período prolongado, mesmo em locais abertos aumentam o risco de contaminação. Assim, é preciso que as pessoas compreendam que o distanciamento físico também é importante ao ar livre. Quando não for possível manter o distanciamento, o ideal é utilizar máscara.

“Acho que as pessoas têm total condição de compreender os riscos se eles forem bem comunicados. A liberação sem isso, sem ser bem comunicada para que os indivíduos façam as melhores escolhas com autonomia não faz sentido”, continua Vitor.

Concordo. Subestimar as pessoas, achando que elas não têm condição de fazer julgamentos por si mesmas é, no mínimo, sinal de arrogância. No entanto, para que façam sua própria gestão de riscos individual, elas devem estar bem informadas.

Saber que o vírus passa pelo ar e que, portanto, locais fechados e sem ventilação são mais arriscados que espaços ao ar livre ajuda na tomada de decisões.

“É muito importante a gente diferenciar espaços ao ar livre e espaços fechados. O que se discute hoje é a potencial liberação do uso de máscaras em espaços abertos. A gente pode pensar na liberação do uso da máscara ao ar livre se a gente mantiver ou aumentar o controle em espaços fechados”, afirma Vitor Mori.

Já se passaram quase 20 meses do início da pandemia até aqui. Vivemos momentos difíceis, que exigiram esforços individuais e coletivos. Ao preço de 600 mil vidas, ganhamos experiência suficiente para entendermos que os passos em direção à flexibilização devem ser dados lentamente, com cuidado e bom senso e com base nos dados, para que não coloquemos todo o avanço em risco.

Usar máscara em locais fechados por mais um tempo é um esforço insignificante perto de tudo que vivemos até aqui.

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