Querer ser o centro das atenções e se comportar com uma intimidade exagerada são alguns dos sinais do transtorno de personalidade histriônica. Saiba identificar.
Alguém que quer sempre ser o centro das atenções, fala com muita dramaticidade, tem opiniões fortes, mas pode ser facilmente influenciada, e se acha mais íntima das outras pessoas do que realmente é. Essa é uma breve descrição do transtorno de personalidade histriônica.
Mas, se você conhece alguém com uma ou mais dessas características, não se preocupe. Ela não tem, necessariamente, um transtorno. Acontece que o diagnóstico da personalidade histriônica é muito subjetivo e depende de vários outros fatores.
Sintomas do transtorno de personalidade histriônica
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), o transtorno de personalidade histriônica é “um padrão difuso de emocionalidade e busca de atenção em excesso que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos”. As causas são desconhecidas, mas podem ter relação com traumas na infância e problemas de relacionamento com os pais.
Segundo o documento, os critérios diagnósticos são:
- A pessoa se sente desconfortável em situações em que não é o centro das atenções;
- A interação com os outros é frequentemente caracterizada por comportamento sexualmente sedutor inadequado ou provocativo;
- Exibe mudanças rápidas e expressão superficial das emoções;
- Usa reiteradamente a aparência física para atrair a atenção para si;
- Tem um estilo de discurso que é excessivamente impressionista e carente de detalhes;
- Mostra autodramatização, teatralidade e expressão exagerada das emoções;
- É sugestionável, ou seja, é facilmente influenciada pelos outros e pela circunstâncias;
- Considera as relações pessoais mais íntimas do que na realidade são.
No entanto, ainda que a personalidade histriônica seja contemplada pelo Código Internacional de Doenças (CID 10), a discussão sobre o conceito de transtornos de personalidade tem sido ampliada nos últimos anos. Futuramente, é possível que a ideia do transtorno de personalidade histriônica já não exista mais.
“O que a última edição do DSM traz de inovador em relação às suas versões anteriores? Ele questiona a classificação das personalidades como se fossem caixinhas, nas quais agrupamos os pacientes, e apresenta uma nova concepção dos transtornos de personalidade, na qual a histriônica não existe. Nesta proposta, lista 25 traços de personalidade em que o transtorno pode se ligar independentemente, sem a necessidade de formar um conjunto, como era antes. Além disso, orienta que esse tipo de diagnóstico só pode ser dado quando o transtorno não for melhor explicado por nenhum outro diagnóstico presente no Manual, como depressão ou TOC”, explica o psicanalista Ronaldo Coelho.
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Diferenças entre o transtorno de personalidade histriônica, borderline e narcisista
Para se ter uma ideia da complexidade do tema, o transtorno de personalidade histriônica está classificado em uma categoria semelhante aos transtornos borderline, narcisista e antissocial. Na prática, porém, é muito difícil identificar exatamente em qual padrão a pessoa se encaixa, já que os sintomas são muito subjetivos e parecidos.
Em relação ao narcisismo, por exemplo, a personalidade histriônica tende a não se importar com a admiração, querendo apenas ser o centro das atenções — sejam elas boas ou ruins. Já o borderline costuma ser mais grave, com maior frequência de episódios psicóticos e maiores instabilidades de humor.
“E quem é que vai decidir isso? Quem diagnostica. Depende muito do psicólogo ou do psiquiatra que está fazendo o diagnóstico, porque são pontos muito sutis que fazem com que a própria ideia de transtorno de personalidade fique engessada”, afirma Ronaldo.
Tratamento para transtorno de personalidade histriônica
Ou seja, mesmo com as classificações existentes, é impossível rotular as pessoas e as maneiras que elas sofrem. É por isso que o tratamento para o transtorno de personalidade histriônica, assim como o de qualquer outro problema psicológico, foca no sofrimento trazido pelo paciente.
“Importa menos a caracterização da personalidade, mas de fato a fonte do sofrimento. Todo e qualquer tratamento que seja digno de ser chamado dessa forma não tem por objetivo mudar a personalidade do paciente, como se fosse um processo de normatização ou adestramento, mas sim promover novas possibilidades de existir que atendam às demandas conscientes e inconscientes e cuide efetivamente do sofrimento”, destaca o psicanalista.
Através da psicoterapia, a pessoa reconstitui os “buracos” que ficaram durante o seu crescimento e que podem estar causando aquele incômodo, além de aprender a construir recursos emocionais e diversificar as suas formas de existir.
Como ajudar alguém que pode ter transtorno de personalidade histriônica?
A pessoa que pode vir a receber o diagnóstico só busca a terapia quando percebe alguma dificuldade, como problemas para fazer amigos. Nesse sentido, o incentivo de colegas e familiares pode ser muito importante.
“Toda vez que você manda alguém ir para a terapia, é quase como se você falasse: ‘você tem um defeito, vai consertar quem você é’. Isso é muito ofensivo. O melhor a fazer é ajudar a entender como a terapia pode ser um presente que a pessoa se dá para si mesma, algo que vai fazer bem para ela, e não para os outros. É preciso se conectar com a dor dela”, recomenda Ronaldo.
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