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Psiquiatria

Por que o autodiagnóstico de transtornos psiquiátricos representa um perigo à saúde?

Conheça os riscos e desafios associados ao autodiagnóstico de transtornos como o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Publicado em 27/09/2023
Revisado em 20/09/2024

Conheça os riscos e desafios associados ao autodiagnóstico de transtornos psiquiátricos, como o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).

 

Na busca constante por explicações que justifiquem nossas dificuldades cotidianas, o autodiagnóstico de transtornos psiquiátricos, como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), vem ganhando destaque. Essa prática, impulsionada pela facilidade de acesso à informação na era digital, traz consigo uma série de potenciais riscos e desafios, de acordo o dr. Caio Gibaile, médico pela Universidade de Brasília (UNB) e psiquiatra com subespecialidade em psiquiatria forense.

“No cenário atual, marcado por um ritmo acelerado de vida com mais demandas pessoais e profissionais e uma intensa comparação social potencializada pelas redes sociais, muitos se sentem pressionados a atingir padrões elevados de performance com muita rapidez. Porém, nessa jornada, quando percebem dificuldades ou meras diferenças em seu desempenho comparado ao que observam ao seu redor, as pessoas passam a buscar motivos que justifiquem a suposta improdutividade que estaria os impedindo de funcionar no seu melhor desempenho”, comenta.

Nesse cenário, o TDAH, um transtorno que afeta a atenção e o comportamento, se torna um tópico de interesse. A ideia de que existe uma condição tratável proporciona alívio à sensação de descontrole gerada pelo ambiente.

O dr. Caio afirma que é fundamental esclarecer que as demandas intensas e a exposição às redes sociais não causam o TDAH, mas contribuem para o aumento da busca por informações sobre o transtorno. “O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que tem bases biológicas evidentes e forte relação genética — isto é: sim, ele existe e é um diagnóstico válido”, pondera.

 

Riscos do autodiagnóstico de transtornos psiquiátricos

O autodiagnóstico de transtornos psiquiátricos apresenta riscos significativos. O psiquiatra indica os principais quando o caso é o TDAH:

  • Diagnóstico errado ou incompleto: autodiagnosticar-se com TDAH pode levar a um diagnóstico errôneo ou a um diagnóstico correto, porém incompleto, sem considerar possíveis comorbidades. Estima-se que até 80% das pessoas com TDAH enfrentem outras questões de saúde mental ao longo da vida, como transtornos de humor, ansiedade e uso de substâncias psicoativas.
  • Uso de escalas de rastreio: escalas de rastreio divulgadas na internet, como a ASRS-18, não são ferramentas diagnósticas definitivas para o TDAH. Elas têm alta sensibilidade e baixa especificidade, o que significa que geram muitos falsos positivos. Essas escalas servem apenas para direcionar a necessidade de uma avaliação profissional.

 

Razões para o autodiagnóstico de transtornos psiquiátricos

As pessoas recorrem ao autodiagnóstico de TDAH por várias razões. “Vejo a busca pelo autodiagnóstico como uma tentativa sincera de encontrar respostas, por parte de uma pessoa que está questionando sua própria funcionalidade”, esclarece o médico. 

Contudo, ele lembra também que o atendimento especializado em saúde mental não é algo prontamente acessível em todo o Brasil. “Assim, para terem uma resposta mais rápida, e não sendo de conhecimento geral a ideia de que é um diagnóstico complexo, as pessoas buscam soluções mais rápidas”, ilustra.

Veja também: Como conseguir atendimento psicológico gratuito

 

Uso de medicamentos sem prescrição

O uso de medicamentos para o TDAH sem prescrição médica envolve riscos à saúde física e mental, incluindo:

  • Abuso e dependência: psicoestimulantes, como metilfenidato e lisdexanfetamina, podem induzir a abuso e dependência devido aos seus efeitos estimulantes e outros efeitos adversos, como aumento da pressão arterial, disfunção sexual, insônia, pesadelos, tiques, bruxismo, ansiedade, irritabilidade e hostilidade e dor de cabeça.
  • Complicações de saúde preexistentes: o uso inadequado pode descompensar condições de saúde preexistentes, como hipertensão ou transtornos de humor.

 

Desafios 

Com o aumento da procura por sintomas e formas de diagnóstico, os especialistas em saúde enfrentam o desafio de conscientizar os pacientes sobre a importância de não se autodiagnosticarem ou automedicarem.

Para o dr. Caio, um passo necessário é desconstruir a imagem errônea criada pelo paciente sobre o TDAH e outros transtornos mentais, oferecendo uma compreensão mais precisa do transtorno.

“O nome ‘transtorno de déficit de atenção e hiperatividade’ parece resumir as características cardinais: déficit de atenção e hiperatividade. Contudo, o TDAH é um transtorno de neurodesenvolvimento, em outras palavras, um transtorno do desenvolvimento cerebral, e como tal, afeta múltiplas funções neurológicas, tal como alterações da memória de trabalho, ou da função executiva, como capacidade de planejamento, de tomada de decisões, estabelecimento de metas e controle inibitório”, conclui.

Em um mundo inundado de informações, a busca por respostas deve ser equilibrada com a orientação de profissionais de saúde mental qualificados, garantindo um diagnóstico correto e um tratamento adequado para aqueles que enfrentam desafios relacionados ao TDAH e outros transtornos psiquiátricos.

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