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Psiquiatria

Depressão refratária: o que fazer quando a doença resiste ao tratamento?

Publicado em 17/03/2023
Revisado em 28/03/2023

A condição acontece quando não há resposta aos antidepressivos prescritos pelos médicos.

 

A depressão refratária, conhecida também como resistente ou depressão maior, é um tipo de transtorno pouco falado ou conhecido, mas que causa bastante dor e incompreensão. De forma geral, pode ser definida como casos de depressão que não melhoram, mesmo após o uso de alguns medicamentos convencionais prescritos pelos médicos. 

“É um diagnóstico que é dado quando a pessoa tem um quadro de depressão e não responde a pelo menos duas classes diferentes de antidepressivos. A pessoa precisa ter usado o medicamento nas doses adequadas por pelo menos dois meses sem resposta. Portanto, o paciente não melhora, mesmo com a medicação”, explica o dr. Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

        Veja também: Tipos de depressão: veja os sintomas menos conhecidos do transtorno

 

Prevalência e causas da depressão refratária

Ainda há poucos dados e estudos sobre a depressão resistente, mas acredita-se que ela atinja de 10% a 30% das pessoas que apresentam o transtorno no mundo. 

Um estudo realizado na América Latina apontou que 30% das pessoas com depressão apresentam a do tipo resistente. Ao todo foram avaliados mais de 1400 indivíduos da Argentina, Brasil, Colômbia e México. De acordo com o levantamento, no Brasil, cerca de 40,4% com o transtorno têm depressão refratária. 

As causas da depressão resistente ainda não foram esclarecidas. Sabe-se que há uma questão genética envolvida e em como o organismo metaboliza o antidepressivo, dificultando a sua eficácia. 

Além disso, pessoas que sofreram algum trauma ou possuem outros tipos de transtornos, como o bipolar, estão mais suscetíveis à condição. O uso de outros medicamentos, problemas na tireoide e dores crônicas também são fatores que contribuem para o problema. 

        Veja também: Depressão do transtorno bipolar tem tratamento diferente da depressão comum

 

Sintomas da depressão refratária

Quem tem depressão resistente apresenta os mesmos sintomas de uma depressão comum. Geralmente, há falta de interesse por atividades que antes proporcionavam prazer, tristeza, apatia, dificuldades para dormir e se concentrar. 

O que diferencia um tipo do outro é que a pessoa com depressão resistente não responde aos medicamentos e demora para sentir alívio dos sintomas depressivos. 

Os sintomas mais comuns são:

  • Não há melhora da depressão mesmo usando dois ou mais tipos de antidepressivos após oito semanas ou mais; 
  • Quando há melhora dos sintomas, eles retornam rapidamente; 
  • Ficam sem esperanças e desanimados quando percebem que os medicamentos não estão ajudando, o que afeta ainda mais o humor e a qualidade de vida. 

 

Diagnóstico da depressão refratária

O diagnóstico de depressão refratária pode ser um desafio e demorar para chegar. Isso porque é comum que os antidepressivos levem semanas para fazer efeito – algumas vezes, é preciso aguardar oito semanas para perceber o alívio dos sintomas. 

Além disso, é preciso avaliar se o paciente está usando o antidepressivo da forma correta, tanto na dosagem quanto nos horários indicados pelo médico. 

Por isso, é fundamental que a pessoa seja acompanhada por um psiquiatra. Durante as consultas, o profissional consegue avaliar a evolução do quadro, se é necessário mudar o medicamento (ou dosagem). 

“O diagnóstico é realizado por meio de entrevista clínica para caracterização de sintomas, tempo de duração e prejuízos funcionais do indivíduo utilizando critérios diagnósticos específicos”, complementa o dr. Antônio Geraldo da Silva, psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). 

O especialista deve observar se o indivíduo continua com o humor instável e tristeza mesmo após usar pelo menos dois tipos de antidepressivos. Vale destacar que há várias classes de medicamentos disponíveis e é preciso encontrar aquele que é mais adequado. 

        Veja também: Uso de antidepressivos | Comenta #50

 

Tratamento convencional

Após o diagnóstico de depressão refratária, é necessário buscar algumas medidas terapêuticas que sejam eficazes de forma individual. 

Atualmente, uma forma de encontrar o medicamento mais adequado para tratar o problema é realizar um teste farmacogenético, ou seja, um exame de sangue ou saliva que avalia o DNA e identifica qual antidepressivo é mais adequado para aquela pessoa. 

“Quando uma tentativa com antidepressivos apresenta resposta parcial ou ausência de respostas, podemos aumentar a dose e o tempo de uso. Além disso, é possível utilizar outros tipos de medicamentos para potencializar o efeito de um antidepressivo. Também há a possibilidade de indicar o uso concomitante de dois antidepressivos. Por fim, optamos pela troca, que vem a ser a substituição do medicamento”, explica o presidente da ABP. 

        Veja também: Como os antidepressivos agem no cérebro?

 

Eletroconvulsoterapia e estimulação magnética transcraniana

Outros recursos utilizados que geram bastante polêmica é a eletroconvulsoterapia ou  estimulação magnética transcraniana — técnicas que antigamente eram conhecidas como “eletrochoque”. Mas há estigma e falta de informação sobre os métodos, o que dificulta o seu uso. 

“No passado, as técnicas eram usadas de forma inadequada e exagerada. Os pacientes eram submetidos a choques sem uma indicação clara ou como uma atitude punitiva. Esse abuso fez com que levassem a fama de um método negativo. Mas, em alguns casos, são eficazes no controle da depressão refratária”, afirma Xavier.

Mas, afinal, como funciona? São técnicas que estimulam o cérebro e fazem alterações (ou modulam) sua atividade por meio de uma corrente elétrica ou indução magnética. São consideradas terapias seguras e eficazes, mas devem ser indicadas apenas por um psiquiatra. 

No caso da eletroconvulsoterapia, uma baixa corrente elétrica passa pelo cérebro e causa uma leve convulsão, que provoca mudanças na química cerebral. 

Já a estimulação magnética transcraniana usa ondas magnéticas para estimular o cérebro a modular os neurotransmissores, que são como se fossem mensageiros que realizam conexões entre os neurônios — aliviando a depressão. 

O presidente da ABP reforça que a ECT é uma prática regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). 

“Ela deve ser realizada sempre com o consentimento do paciente mediante termo, em ambiente adequado, após indicação do psiquiatra e devida avaliação. É sempre realizado em um ambiente hospitalar, com a presença de anestesista e enfermeiro. É aplicada a anestesia, o indivíduo recebe baixa corrente elétrica, que é dosada individualmente como um remédio, que induz à convulsão terapêutica, com duração de cerca de 30 segundos”, explica da Silva. 

        Veja também: Neuromodulação ajusta desequilíbrios no cérebro para tratar de Parkinson a depressão

 

Lidando com a depressão resistente no dia a dia

É importante destacar que a depressão é uma doença e que precisa de tratamento e acompanhamento médico. No caso da refratária, ela impacta diretamente a qualidade de vida e também aumenta o risco de suicídio, já que o tratamento convencional não surte efeitos. 

Além do tratamento farmacológico, a recomendação é que a pessoa realize também psicoterapia para aprender a lidar com comportamentos e pensamentos negativos. Além disso, é fundamental incluir na rotina a prática de exercícios regulares e buscar atividades que proporcionem bem-estar. E também manter uma rotina alimentar saudável. 

Por fim, o apoio de amigos e familiares é fundamental. O suporte emocional contribui para que o indivíduo se sinta acolhido, fique menos solitário e não sinta culpa por ter depressão. 

Lembrando que a adesão ao tratamento é a melhor forma de lidar com a situação: não é recomendado parar os medicamentos por conta própria ou aumentar a dosagem sem consultar o médico. Encontrar o tratamento adequado é a melhor forma de reduzir a intensidade dos sintomas depressivos e evitar crises. 

        Veja também: Como ajudar alguém com depressão | Infográfico

 

Sobre a autora: Samantha Cerquetani é jornalista com foco em saúde e ciência e colabora com o Portal Drauzio Varella. Escreve sobre medicina, nutrição e bem-estar.

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