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Psiquiatria

7 coisas que talvez você não saiba sobre TOC

TOC é um transtorno de ansiedade que começa com um pensamento de fazer algo, a obsessão, que gera muita ansiedade e leva à compulsão.
Publicado em 19/04/2023
Revisado em 19/04/2023

TOC é um transtorno de ansiedade que começa com um pensamento de fazer algo, a obsessão, que gera muita ansiedade e leva à compulsão.

 

TOC é a sigla para transtorno obsessivo-compulsivo e costuma ser associado a manias de limpeza e organização, mas é algo que vai muito além disso. É um transtorno mental que pode comprometer a qualidade de vida. 

“A obsessão é a necessidade de fazer alguma coisa a partir de um pensamento intrusivo. E a compulsão é fazer aquela coisa que vai trazer alívio”, resume Suely Sales Guimarães, PhD em psicologia e associada à Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP).

A psicóloga explica que TOC é um transtorno de ansiedade. Segundo ela, tudo começa com um pensamento de fazer algo, que gera muita ansiedade. “A ansiedade sobe muito, aí a pessoa faz essa coisa e, quando ela faz isso, que é a compulsão, a ansiedade baixa de imediato. O fato de a ansiedade baixar mostra para o cérebro que a forma de ficar bem, de baixar a ansiedade, é fazer aquela compulsão quando o pensamento vier. E assim forma-se o ciclo do TOC”, detalha.

Camila Lisboa, de 37 anos, coordenadora administrativa de varejo, sabe bem o que é isso. Ela convive com o TOC desde a infância. Naquela época, ela roía unha. “Eu só parava de roer as unhas quando ficava com uma dor extremamente insuportável, quando saía sangue. Mesmo doendo eu continuava roendo as unhas”, lembra.

Ela conta que descobriu que o que ela tinha não era mania, mas TOC, já mais velha, com 27 anos, durante as sessões de terapia em grupo das quais participava para tratar a depressão. E Camila diz que conseguiu aos poucos deixar de roer unha com a ajuda desse tratamento terapêutico aliado à decisão de usar unha postiça. “Eu tinha nojo de ficar com a unha postiça na boca e fui evitando ficar com a mão na boca”, fala.

Camila diz que, em 2018, começou a ter “outro tipo de TOC”. “Na época, eu passei a puxar o meu cabelo, na parte lateral, próximo da orelha. Eu passava a ponta do dedo, escolhia um fio e quando sentia que tinha só um fio eu puxava. Eu ficava fazendo isso trabalhando, no telefone, mexendo no celular, assistindo televisão”, relata. 

A coordenadora administrativa fala que a terapia a ajudou a parar, assim como o fato de ter cortado o cabelo curto. Hoje em dia ela diz que convive com outra manifestação do TOC. 

“Em 2020, eu comecei com outro tipo de TOC. Eu já não puxava mais os cabelos, nem roía as unhas. Eu passei a cutucar a orelha com a unha. Como eu tenho a unha grande, eu comecei a machucar a orelha de tanto que eu fico passando os dedos. Às vezes, ele está mais intenso, às vezes não. Minha orelha é toda machucada”, lamenta Camila. 

Quer saber mais sobre TOC? Compartilhamos seis características desse transtorno que você talvez não conheça.

 

1) Nem sempre é perceptível

Existem pessoas com TOC que ficam bastante ansiosas diante do que elas consideram desorganização e sujeira, a ponto de repetirem inúmeras vezes ações para garantir a organização e limpeza de lugares e objetos.  

Mas nem todas as manifestações de TOC são perceptíveis. “A compulsão pode ser mental também. Por exemplo, tem pessoas que ficam contando: a pessoa tem o pensamento ou a necessidade de contar, mas ela faz a compulsão mental, ou seja, ela não fala alto, ela pensa, então você nem sabe que ela está contando, mas ela está contando”, exemplifica psicóloga Suely. 

Veja também: Guia rápido sobre TOC | Infográfico

 

2) A pessoa tem controle sobre suas ações

É comum pensar que quem tem TOC não tem controle sobre suas ações, o que não é verdade. “A pessoa não é levada por um impulso que ela não tenha controle sobre. Ela tem [controle], mas ela faz porque a ansiedade é muito alta e muito desconfortável”, diz a especialista.

Suely esclarece que o que não é possível controlar é a obsessão, que é um pensamento intrusivo. “A obsessão simplesmente vem, é uma atividade cerebral. A obsessão surge. O que a pessoa tem controle é exatamente sobre a compulsão.” 

 

3) Nem sempre são comportamentos esquisitos

Suely cita o caso de um paciente que mudou de casa porque a construção tinha a fachada virada para o sol nascente. A pessoa achava que tinha que ser virada para o poente e, como não era, não conseguia ficar em casa. 

Segundo ela, nem todas as obsessões e compulsões são estranhas como essa. “Muitas vezes o comportamento de TOC pode ser um comportamento comum, só que ele é exacerbado, é exagerado, é desproporcional à situação”, explica. 

A psicóloga cita um exemplo: “É comum você sair na rua e, de repente, olhar e falar ‘Nossa, quanto carro branco tá passando aqui hoje’, e começar a contar. Daqui a pouco você esquece de contar, esquece quantos contou e passa. O fato de você contar não significa que seja uma obsessão. A pessoa que tem TOC sente necessidade de contar, se for esse o TOC dela”.

 

4) TOC não significa limitação cognitiva

O TOC é uma alteração metabólica do cérebro que leva à obsessão. Mas isso não tem nada a ver com limitação cognitiva, segundo Suely. 

“Ter TOC não significa limitação cognitiva, nem um pouquinho. Há pessoas que são superdotadas e têm toque. Há pessoas que ocupam cargos de alto escalão administrativo, gestacional, político e têm TOC. O TOC não impede que a pessoa tenha alto nível de competência intelectual e cognitiva”, esclarece.   

Veja também: Tiques, síndrome de Tourette e TOC | Entrevista

 

5) É bem comum na transição da adolescência para a idade adulta

Pesquisas indicam um índice maior de TOC entre mulheres, mas o transtorno afeta os dois gêneros. O TOC também é diagnosticado em diferentes fases da vida, seja na infância, adolescência, vida adulta ou velhice. 

No entanto, é comum a incidência de TOC em uma etapa específica da vida. “É bem comum na transição da adolescência para a idade adulta porque tem muita modificação hormonal, é um momento de muita ansiedade para o jovem, muita mudança, muita tensão, e pode ocorrer uma incidência maior nesse período de transição”, afirma Suely.

 

6) Você pode ter TOC e não saber

Comportamentos repetitivos não significam necessariamente diagnóstico de TOC, mas podem ser um indício. Para descobrir, é importante procurar ajuda médica.

“Muitas vezes a pessoa demora muito para receber tratamento porque não buscou ajuda profissional. Como não vai dar febre, não vai doer, não vai machucar, muitas vezes a pessoa passa anos e anos da vida sem nem saber o que é aquilo. Geralmente, ela procura ajuda quando está muito incomodada ou quando fica sabendo que existe”, afirma Suely. 

A psicóloga diz que o TOC pode comprometer muito a qualidade de vida da pessoa. “Pode trazer muito problema. A qualidade de vida da pessoa pode ficar muito comprometida. Ela continua fazendo tudo, mas o desgaste é enorme. A vida dela fica mais difícil e com menos qualidade por causa do TOC, mesmo que ela não saiba o que é isso. Então, ela precisa passar por avaliação profissional e fazer tratamento”, recomenda. 

Veja também: TOC: Como a família pode ajudar no tratamento?

Sobre a autora: Fabiana Maranhão é jornalista desde 2006 e colabora com o Portal Drauzio Varella. Tem interesse por temas ligados à infância e à adolescência, alimentação saudável e saúde mental. 

 

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