O intervalo entre as primeiras crises de DPOC é de cerca de 5 anos, enquanto, entre a nona e a décima crise, é de menos de 4 meses. Leia mais.
Quem tem Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) sofre diminuição progressiva do fluxo de ar nos pulmões. Esse quadro, no entanto, não é uniforme. O paciente sofre crises agudas, as chamadas exacerbações, nas quais se intensificam os sintomas de tosse e chiado que são, muitas vezes, acompanhados de aumento na produção de muco.
O papel dessas exacerbações na progressão da doença não é muito claro, mas a perda de função pulmonar e a mortalidade são maiores nos pacientes com número maior de episódios. Embora nem todo paciente com DPOC manifeste exacerbações, ter uma crise é o que melhor prediz o risco de ter uma próxima.
Para definir o papel das exacerbações na evolução do DPOC, Samy Suissa e colaboradores no Canadá identificaram mais de 73 mil doentes que foram hospitalizados por DPOC entre 1990 e 2005, na província de Quebec. Esses pacientes foram seguidos até o óbito ou, então, até 31 de março de 2007.
Veja também: Artigo do dr. Drauzio sobre DPOC
Nesse período de 17 anos, mais de 50 mil pacientes morreram. Metade havia falecido cerca de 3 anos e meio depois da primeira crise e ¾ deles, 7 anos e meio depois. A idade média na primeira crise foi de 75 anos. Vale lembrar que, para excluir asma na população estudada, os autores só consideraram pessoas com mais de 55 anos.
O achado mais importante da pesquisa foi que o intervalo médio entre a primeira e a segunda crise foi de cerca de 5 anos, enquanto, entre a nona e a décima crise, foi de menos de 4 meses.
Na história natural da DPOC, a próxima crise ocorre sempre num intervalo de tempo menor do que aquele registrado na crise anterior. Para piorar, a possibilidade de ter uma nova exacerbação, que é 3 vezes maior após a segunda crise, salta para 24 vezes maior após a décima.
A mortalidade atinge o pico na primeira semana de cada exacerbação e segue elevada nos primeiros 3 meses após cada crise. O risco de morrer na décima crise é cerca de 5 vezes maior do que na primeira.
Com esse estudo, dois alvos estratégicos ficam evidentes na evolução da DPOC. O primeiro é tentar evitar, ao máximo, o aparecimento de uma nova exacerbação; o segundo é acompanhar com mais cuidado o paciente nos 3 meses após cada crise, por ser o período de maior risco de mortalidade.
* Suissa S, Dell’Aniello S, Ernst P. Long-term natural history of chronic obstructive pulmonary disease: severe exacerbations and mortality. Thorax. 2012 Nov;67(11):957-63.