Entre as razões que desestimulam os pais a levarem as crianças aos postos de vacinação está a contraindicação do próprio médico. Saiba como agir quando o médico disser para não vacinar seus filhos.
Um dos motivos que levam os pais à decisão de não vacinar seus filhos é a orientação do próprio médico ou profissional de saúde de não levá-los a um posto de imunização, segundo o Inquérito Nacional de Cobertura Vacinal 2020.
A contraindicação médica se reflete no alcance vacinal: desde 2016, as coberturas de todos os imunizantes previstos pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) estão em queda. Em 2023, mais da metade dos municípios brasileiros não atingiu a meta estipulada pelo Ministério da Saúde de 95% da cobertura vacinal no que diz respeito aos imunizantes aplicados ao longo do primeiro ano de vida.
Na última década, a comunidade científica batalha para reverter esse cenário. Além de colocar em risco a saúde de quem não está vacinado, a baixa imunização também pode levar ao reaparecimento de doenças até então erradicadas, como o sarampo e a poliomielite.
Mas, considerando todos esses esforços, o que fazer quando é o próprio médico quem contraindica a vacinação?
Preste atenção às intenções ocultas de quem orienta a não vacinar seus filhos
No início da pandemia da covid-19, quando os cientistas precisaram atuar de forma rápida para produzir uma vacina capaz de frear o avanço da pandemia, era de se esperar que houvesse certa dúvida quanto à segurança e eficácia das vacinas contra a doença.
Até aquele momento, havia uma ideia de que as vacinas demoravam anos para ficar prontas — o que faz sentido, já que o processo de desenvolvimento pode ser bastante demorado. A agilidade com que os imunizantes da covid-19 ficaram prontos despertou desconfiança e foi usada como um argumento equivocado por grupos contrários às vacinas.
“As pessoas não levaram em conta que o mundo parou. Todos os profissionais que trabalhavam, por exemplo, com aids, influenza e com inúmeras doenças respiratórias ou mais graves, se dedicaram a achar um perfil de vacina para a covid-19. E ela teve um papel fundamental, de tentar proteger quem estava na linha de frente. Depois, a vacina foi se desenvolvendo até chegar ao que temos hoje”, explicou Sérgio Cimmerman, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), durante o evento de lançamento da campanha “Tá Vacinado?”. A ação busca conscientizar principalmente a população adulta sobre a importância de manter o calendário vacinal atualizado.
Hoje, não há mais dúvidas: as vacinas contra a covid-19, assim como todas as outras disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), passaram por testes de segurança que garantem a sua aplicação na população de forma eficaz. Porém, a batalha política que se criou em torno dos imunizantes encontrou apelo em parte da população — inclusive, entre os médicos.
“Tem gente que realmente é mal-intencionada e não adianta usar a ciência [com essas pessoas]. Esses médicos sabem [o que estão fazendo], eles são extremamente organizados. De jeito nenhum são mal informados, pelo contrário. Eles têm um grande interesse em, exatamente, disseminar notícias falsas”, alertou Rosana Richtmann, infectologista e coordenadora do Comitê de Imunizações da SBI, durante o evento.
Busque fontes confiáveis de informação
Em meio às intenções políticas, são os pais e responsáveis que se sentem perdidos. Ouvem de um profissional que devem levar o filho para se vacinar, enquanto o outro contraindica a vacinação
“Quando esses pacientes recebem essa informação, eles têm que criar a própria opinião, indo atrás de locais sérios. Ver de onde vem aquilo. Existem informações sensacionalistas, um mar de fake news. Então, a melhor coisa é ir atrás de informação em locais que você realmente acredita e confia”, indica a dra. Rosana.
Tratando-se de saúde, é importante buscar sites com credibilidade, que se baseiam em especialistas da área. É o caso, por exemplo, de:
- Organizações científicas, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), universidades, hospitais e instituições de referência;
- Órgãos governamentais, como a Anvisa, o Ministério da Saúde e as secretarias de saúde municipais e estaduais;
- Associações de especialidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm);
- Organizações não governamentais, como aquelas que se dedicam a doenças ou áreas específicas e têm seus conteúdos analisados por revisão médica;
- Plataformas científicas, como a SciELO, que publica conteúdos científicos após a revisão de pares.
Lembre que sites com diversos erros ortográficos, que apresentam muitos anúncios e que não deixam claras a fonte e a data da publicação daquele conteúdo tendem a ser duvidosos.
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Questione seu médico quando ele recomendar não vacinar seus filhos
Munido dessas informações, você poderá argumentar com o seu médico.
“Durante séculos, os pacientes estavam do outro lado da mesa, seguindo as orientações dos médicos como se nós fossemos o deus da verdade. Esse conceito está mudando. Nós, médicos, temos que aprender a ouvir as angústias que muitas vezes são disseminadas por outros médicos, os quais, por determinados motivos, levaram a uma informação errada. E, aos poucos, vamos construir esse empoderamento para que ele tome a melhor decisão em relação à própria saúde”, afirma Alexandre Naime, coordenador científico da SBI.
Com a medicina moderna, o paciente é considerado um agente direto do próprio tratamento e do tratamento dos seus filhos. Por isso, ele tem todo o direito de questionar e contestar a orientação que o médico está oferecendo.
Se for o caso, procure uma segunda opinião
“Dessa forma, quando a população fica sabendo que existe uma vacina para prevenir contra a doença A, B ou C e que ela está indicada para o filho dela ou para ela mesma, ela chega para o médico e diz: ‘Doutor, eu vi isso aqui. Eu já vi essa informação’. Então, ela consegue rebater e buscar quem a atende melhor”, acrescenta Alberto Chebabo, presidente da SBI.
A segurança em um médico não se baseia apenas na confiança de que ele possui o conhecimento, mas também na abertura que o paciente tem para tirar suas dúvidas e discutir as possibilidades de tratamento. Qualquer que seja a recomendação prescrita, ela só irá funcionar quando você sair do consultório decidido a adotá-la.
Portanto, se você não sentir confiança no seu médico ou não tiver abertura para questioná-lo quanto às suas indicações (e contraindicações), é o momento de procurar a ajuda de outro profissional.
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