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Esquizofrenia infantil: como identificar o transtorno em crianças?

Esse transtorno mental é de difícil diagnóstico na infância, mas precisa de acompanhamento adequado com equipe multidisciplinar
Publicado em 10/11/2022
Revisado em 18/12/2022

Esse transtorno mental é de difícil diagnóstico na infância, mas precisa de acompanhamento adequado com equipe multidisciplinar

 

Quando ouvimos falar de esquizofrenia e de pessoas que convivem com o transtorno, automaticamente pensamos nos adultos. Mas apesar de ser de difícil diagnóstico na infância, muitas crianças já nascem predispostas a desenvolver o problema.

Isso acontece porque entre as possíveis causas que envolvem a esquizofrenia estão: genética; ambiente em que o indivíduo está se desenvolvendo; estrutura e alterações químicas no cérebro; e até atrasos no desenvolvimento.

 

O que é a esquizofrenia e como ela se manifesta

A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico crônico, que normalmente se manifesta entre o final da adolescência e começo da vida adulta, e tem uma incidência maior entre os homens. 

Entre as principais características estão ter alucinações e pensamentos fantasiosos, sentir-se perseguido, ouvir vozes, enxergar uma realidade paralela ao que está acontecendo em um determinado momento, além de surtos e episódios psicóticos.

”No caso de um desencadeamento de esquizofrenia, o sujeito constrói delírios e alucinações para tentar lidar com a realidade”, pontua o psicólogo e psicanalista Reinaldo P. da Cruz, mestre em psicologia e sociedade.

Nas crianças, os sintomas vêm acompanhados de atrasos no desenvolvimento da linguagem, atrasos motores (como demora para engatinhar ou andar) e até estereotipias, sintomas que podem ser facilmente confundidos com o transtorno do espectro autista

 

Como a esquizofrenia se manifesta nas crianças?

O cérebro humano só termina de se desenvolver após os 20 anos de idade, é por isso que fica ainda mais difícil identificar o transtorno nos pequenos. Mas com o avanço da medicina, dos estudos e da ciência, em alguns casos é possível intervir precocemente para que o indivíduo se desenvolva da forma mais saudável possível.

Algumas características do transtorno podem aparecer a partir de eventos ou situações críticas que exigem resposta emocional, como a morte de um ente querido, uma mudança abrupta na rotina da criança – como a separação dos pais ou cuidadores -, uma situação de desavença no ambiente escolar envolvendo outras crianças, entre outros.

No primeiro momento, os sintomas podem não parecer tão graves nem ser associados a um quadro de esquizofrenia, mas a cada nova situação, a psicose ou a perda de conexão com a realidade pode se agravar de forma progressiva. 

Veja também: Psicose pós-parto: sintomas, tratamento e fatores de risco

 

Fantasia na infância X fantasia na crise esquizofrênica 

Todo mundo já ouviu que toda criança aprende brincando, e é por isso que o aprendizado pedagógico na maior parte do tempo é lúdico. ”A criança precisa do mundo fantasioso, mais lúdico e criativo para ir compondo a sua realidade”, completa Reinaldo.

Isso acaba tornando o diagnóstico e a separação entre fantasia e vida real da criança mais complexos. Afinal, até que ponto a criança está usando a imaginação e até que ponto ela está possivelmente tendo um delírio psicótico?

Por isso, o trabalho de profissionais especializados no assunto é ainda mais necessário, pois embora a investigação clínica aconteça da mesma forma que com os adultos, no caso das crianças as famílias só costumam buscar ajuda quando elas apresentam sinais agudos de atrasos no desenvolvimento, além de desinteresse em atividades sociais, acadêmicas e comportamentos inadequados à idade.

 

Como saber a hora de procurar ajuda?

Quando os sintomas de esquizofrenia começam a aparecer ainda na infância, os sinais são bem sutis e vão se manifestando mais explicitamente com o desenvolvimento da criança. 

Mas as principais características que devemos ter atenção são:

  • Atrasos pontuais no desenvolvimento (como motor ou da fala);
  • Isolamento social entre pares da mesma idade e em relação aos principais cuidadores (pai, mãe, avó, avô, etc.);
  • Distúrbios do sono (como dificuldade para dormir ou sonambulismo);
  • Seletividade alimentar (ou alterações pontuais em relação à alimentação);
  • Alucinações, que incluem relatos de escutar uma ou várias vozes ou sentir pessoas irreais no mesmo ambiente;
  • Relato de eventos que não aconteceram, mas que contêm muitos detalhes específicos aos olhos da criança;
  • Sentir-se perseguido quando algo acontece (colocar-se como vítima, culpado de tudo, ou achar que está sendo prejudicado);
  • Pensamento desorganizado e déficit de atenção.

Caso a família desconfie de um possível diagnóstico, o primeiro passo é procurar acompanhamento psicológico especializado para dar início às investigações, além de levantar o histórico genético dos parentes e também o histórico comportamental escolar para levar o máximo de informações possíveis durante as entrevistas de anamnese que são realizadas pelos profissionais da equipe multidisciplinar. 

Em casa, a criação de quadros de rotina e consistência nas atividades podem ajudar a criança a organizar os pensamentos, melhorando a qualidade de vida e diminuindo o desencadeamento de possíveis crises relacionadas à esquizofrenia. 

 

Tratamento e acompanhamento médico

Assim como outros transtornos mentais, alguns indivíduos podem apresentar grau leve, moderado ou grave do transtorno. Por não se tratar de uma doença, a esquizofrenia não tem cura, mas tem tratamento.

”O ideal é um acompanhamento construído de maneira multidisciplinar, com médico psiquiatra, psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, apoio familiar e o próprio indivíduo, com frequência a depender da necessidade”, conclui o psicólogo. 

O tratamento medicamentoso pode ser indicado nos casos mais graves, em que os acompanhamentos clínicos não apresentam resultados satisfatórios para a qualidade de vida do paciente.

Além disso, a prática de atividades físicas também é recomendada, por já ter comprovação científica no desenvolvimento da capacidade cognitiva e na redução de quadros de estresse, ansiedade e depressão. 

 

Sobre a autora: Gabriella Zavarizzi é jornalista especializada em conteúdos digitais. Tem interesse em assuntos relacionados a neurociências, saúde mental, autismo, TDAH e primeira infância.

Veja também: Depressão infantil e na adolescência | Entrevista

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