Apraxia da fala e autismo: qual a diferença?


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Neurologia

Esse transtorno, ligado diretamente ao desenvolvimento motor da fala, pode ser identificado ainda na infância

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Publicado em: 14 de outubro de 2022

Revisado em: 18 de dezembro de 2022

Esse transtorno, ligado diretamente ao desenvolvimento motor da fala, pode ser identificado ainda na infância

 

A apraxia da fala e o autismo são transtornos do neurodesenvolvimento distintos, mas em muitos casos podem ser identificados juntos em um mesmo indivíduo. Isso acontece porque um dos sintomas em comum está ligado diretamente à comunicação.

Mas compreender as diferenças entre as duas condições é essencial para um diagnóstico mais assertivo e tratamento correto. 

Nos casos de autismo, a criança costuma apresentar déficits na comunicação social no geral, que podem contribuir diretamente para atrasos na oralidade. ‘’Quando a gente fala do transtorno do espectro autista (TEA), a gente fala de déficits na comunicação como um todo, que também podem estar associados ao atraso motor da fala, disartria e apraxia de fala’’, explica a fonoaudióloga Isabella Marchesi Florez, mestre em Comunicação Humana e Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia da PUC-SP.

Já na apraxia de fala na infância, a criança entende a função da comunicação, mas os déficits neurológicos afetam o planejamento motor e a formulação de frases e palavras. ‘’A apraxia é a dificuldade no planejamento e programação espaço-temporal das sequências e dos movimentos que resultam em erros na produção da fala’’, completa Isabella.

Ou seja, o cérebro muitas vezes processa a informação corretamente, mas a musculatura da boca (motricidade oral) não consegue executar os movimentos necessários, fazendo com que a criança não consiga falar. 

Ademais, estudos mostram que 63,6% das crianças autistas também recebem o diagnóstico de apraxia. Por outro lado, 36,8% das crianças que recebem primeiro o diagnóstico de apraxia de fala, posteriormente são diagnosticadas com TEA também. 

 

Principais sintomas da apraxia de fala na infância 

É possível perceber alguns sinais que podem estar associados à apraxia de fala em bebês pequenos e em crianças de até cerca de 3 anos (idade ideal para o fechamento do diagnóstico segundo a Associação Americana de Fonoaudiologia – ASHA, sigla em inglês). Quando um bebê começa a balbuciar mas não consegue pronunciar sons semelhantes às vogais, esse já pode ser considerado um primeiro sinal de alerta. 

Outros sintomas comuns são:

  • Atraso no desenvolvimento da fala;
  • Fala de difícil compreensão;
  • Dificuldade motora na língua;
  • Dificuldade na formação de frases com duas ou mais palavras;
  • Dificuldade para pronunciar diversas palavras;
  • Dificuldades motoras para mastigar.

Veja também: Mecanismo da fala na criança | Entrevista

 

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico de apraxia da fala na infância é muito difícil, principalmente por ser um problema comum em outros transtornos do neurodesenvolvimento e seus sintomas serem confundidos com atrasos na aquisição de linguagem, autismo e atrasos globais do desenvolvimento.

Mas existem checklists e testes específicos usados por fonoaudiólogos para identificar em qual área o desenvolvimento motor da fala apresenta mais déficits.

Além disso, no caso de crianças pequenas, é também realizado uma anamnese com os familiares para entender o processo de desenvolvimento da fala daquele indivíduo até o momento em que ele foi encaminhado para avaliação profissional.



Diferença entre apraxia e autismo na comunicação

No autismo, a dificuldade relacionada à fala está mais associada à interação social, ou seja, na troca de turnos entre conversas. Já na apraxia, o paciente pode não conseguir falar de forma mais direta e clara pela dificuldade na motricidade oral, mas tem facilidade em se comunicar através de gestos, mostrando com clareza qual é a mensagem que gostaria de passar. 

 

Tratamento

Para tratar os déficits causados pela apraxia da fala, é necessário o acompanhamento constante com fonoaudiólogos e, em alguns casos, com terapeutas ocupacionais compondo a equipe multidisciplinar, já que cada paciente pode apresentar um nível de gravidade diferente do outro. 

Nesses acompanhamentos, a criança pratica sílabas, palavras e frases de acordo com a sua dificuldade, a fim de diminuir os déficits cada vez mais. 

Uma das técnicas usadas é a de PROMPT – pistas para a organização dos pontos fonéticos e oromusculares, em tradução livre -, aplicados exclusivamente pela área da fonoaudiologia. 

Essa estratégia é cientificamente comprovada e ajuda na estimulação da fala através de exercícios motores que abrangem o controle motor orofacial, além dos aspectos linguísticos e emocionais do paciente.

Os resultados dos acompanhamentos aparecem a longo prazo, mas com ajuda de familiares e também da escola, participando ativamente dos exercícios propostos pelos profissionais responsáveis pelo caso, as chances de melhora da criança são ainda maiores.

 

Sobre a autora: Gabriella Zavarizzi é jornalista especializada em conteúdos digitais. Tem interesse em assuntos relacionados a neurociências, saúde mental, autismo, TDAH e primeira infância.

Veja também: Afasia (perda da linguagem) | Entrevista

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