A traqueostomia é reversível? Em que situações ela é necessária? Respondemos a essas e outras dúvidas sobre o procedimento, que deve ser realizado na traqueia.
A traqueostomia é um procedimento utilizado em pacientes com obstrução das vias aéreas ou que têm necessidade de assistência respiratória de forma prolongada.
“A traqueostomia é um procedimento cirúrgico realizado para criar uma abertura na traqueia, chamada estoma traqueal, conectando-a diretamente à pele do pescoço. Ela serve para permitir a entrada de ar diretamente para os pulmões”, explica Débora Pazinatto, otorrinolaringologista do Instituto de Otorrinolaringologia & Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade Estadual de Campinas (IOU/Unicamp).
Abaixo, respondemos às principais dúvidas a respeito da traqueostomia.
Em quais casos a traqueostomia é indicada?
A traqueostomia é indicada em casos de obstrução da via aérea acima da traqueostomia e/ou quando há necessidade de suporte ventilatório por período prolongado (ajuda de aparelhos para respirar).
“Existem diversas condições médicas que podem levar à necessidade de uma traqueostomia, tais como obstruções das vias aéreas superiores, doenças neuromusculares que afetam a respiração e condições pulmonares que resultam em insuficiência respiratória crônica. Em adultos, os tumores na região da cabeça e pescoço são uma causa frequente, assim como períodos prolongados de intubação. Já em crianças, é importante estar alerta para estreitamentos abaixo das pregas vocais, denominados estenose subglótica, os quais podem ser congênitos ou adquiridos após intubação”, afirma a médica.
Como funciona o procedimento?
“O procedimento envolve a realização de uma incisão na região do pescoço para acessar a traqueia, seguida pela inserção de uma cânula na abertura criada”, explica a especialista.
Segundo ela, em adultos, a traqueostomia pode ser realizada sob anestesia geral ou local com sedação, dependendo das condições do paciente e da preferência do cirurgião. “Os profissionais capacitados para executar esse procedimento incluem médicos cirurgiões, como otorrinolaringologistas, cirurgiões torácicos e cirurgiões de cabeça e pescoço.”
No caso das crianças, o procedimento é realizado no centro cirúrgico, sob anestesia geral, e é conduzido por médicos especializados, como otorrinolaringologistas, cirurgiões torácicos ou cirurgiões pediátricos.
Existem riscos associados à traqueostomia?
A traqueostomia é um procedimento que pode ser realizado em qualquer idade, desde bebês até idosos. Mas não está isento de riscos. “Como qualquer procedimento cirúrgico, existem riscos associados, como infecções, sangramento e lesões da traqueia ou estruturas adjacentes. Uma avaliação cuidadosa e completa da via aérea do paciente é fundamental para minimizar tais riscos”, afirma.
Quais são os cuidados necessários para quem é traqueostomizado?
Segundo a médica, os cuidados diários para quem é traqueostomizado incluem aspiração das secreções, higiene regular da pele ao redor do estoma traqueal, troca periódica da cânula de traqueostomia e prevenção de complicações, como decanulação acidental (retirada da cânula) e obstrução por rolha de secreção (ocorre quando as secreções acumuladas na traqueostomia formam uma espécie de “rolha” que bloqueia parcial ou totalmente a passagem de ar).
“Esses cuidados podem ser realizados por um cuidador em casa, após orientação e treinamento adequados por parte de profissionais de saúde. A aspiração de secreções é necessária para manter as vias aéreas limpas e desobstruídas, e a troca da cânula é realizada para garantir que ela esteja limpa e em boas condições de funcionamento. No entanto, é importante que o cuidador esteja bem informado sobre os procedimentos e que seja capaz de identificar quaisquer sinais de complicações para agir prontamente”, alerta a dra. Débora.
A escolha da cânula de traqueostomia é feita considerando as necessidades individuais de cada paciente. “Mas é importante salientar que, embora cânulas metálicas sejam frequentemente usadas em adultos, elas não são adequadas para uso em crianças, que devem utilizar cânulas de plástico”, reforça.
Como fica a qualidade de vida do paciente traqueostomizado?
A qualidade de vida do paciente e da família pode ser significativamente afetada pela traqueostomia, devido a necessidade de cuidados frequentes. “O paciente traqueostomizado requer uma rotina de cuidados e pode enfrentar desafios na comunicação devido ao impacto na fala. Alguns pacientes podem ter a indicação do uso da válvula da fala, o que ajuda na comunicação”, explica a especialista.
A traqueostomia é reversível?
A traqueostomia é reversível, mas isso não vale para todos os pacientes. A dra. Débora esclarece que, em alguns casos, ela é necessária a longo prazo ou de forma permanente.
“Para iniciar o processo de retirada da cânula, conhecido como decanulação, é essencial que o estudo das vias aéreas do paciente esteja completo, sem evidências adicionais de obstrução acima da traqueostomia. Além disso, o paciente não deve depender da traqueostomia para realizar a higiene de secreção pulmonar e não deve ter precisado de ventilação mecânica nos últimos meses.”
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