Por que os tumores cerebrais podem ser agressivos?

Ilustração digital de corpo humano em raio x destacando cérebro, medula e nervos. Glioblastoma é o tumor cerebral mais frequente

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Publicado em: 5 de outubro de 2023

Revisado em: 6 de outubro de 2023

A capacidade de multiplicação desses tumores, aliada à sua capacidade de vascularização, é o que os tornam tão agressivos. Saiba mais sobre o glioblastoma.

 

Tumores cerebrais ainda são um desafio para a medicina por conta do seu caráter agressivo, já que eles evoluem muito rápido. Apesar de não serem tumores tão prevalentes na população brasileira (são cerca de 11 mil casos da doença por ano), a taxa de mortalidade é considerada alta, com uma média de sobrevida de 18 meses com os tratamentos disponíveis atualmente. O risco de recidiva (de o tumor voltar) também é elevado e em algum momento os pacientes terão que lidar com o risco de recorrência. 

Existem vários tipos de tumores cerebrais e a sua característica vai depender de onde ele está localizado. O glioblastoma é o mais prevalente e corresponde a até 50% dos diagnósticos. Entenda mais sobre ele. 

 

O que são glioblastomas?

O glioblastoma é o tipo de tumor cerebral mais comum e responsável pela maioria das mortes entre os pacientes com tumor primário (quando o tumor é originado nas células do cérebro). É um tumor maligno oriundo de células do tecido cerebral, chamadas células gliais. 

“Esse tumor faz parte da família dos gliomas e representa o subtipo mais agressivo dentro dessa família tumoral. São tumores que podem acometer pessoas de qualquer idade, mas são mais frequentes em idosos. Infelizmente, ainda são tumores com difícil prognóstico e apesar dos avanços dos últimos anos, ainda não temos tratamentos que possam curá-lo”, explica o dr. João Paulo Almeida, neurocirurgião especializado em cirurgia da base do crânio, que faz parte do corpo clínico da Mayo Clinic, na Flórida.

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Por que são tumores agressivos?

A capacidade de multiplicação desses tumores, aliada à sua capacidade de vascularização (essencial para o desenvolvimento e crescimento do tumor) os tornam agressivos quando comparados a outros tumores.  De maneira geral, eles crescem muito rápido podendo invadir e destruir tecidos cerebrais saudáveis. 

 

Qual a causa do glioblastoma?

Segundo o dr. João Paulo, não há conhecimento sobre uma causa específica para o surgimento do glioblastoma. Existem várias hipóteses em estudo, mas nenhuma delas foi determinada como causa única. 

“Uma delas, e que é muito estudada pelo nosso time aqui da Mayo Clinic, é a hipótese de desenvolvimento desse tipo de tumor através de um problema na diferenciação, na multiplicação e na migração das células cerebrais. Chamamos essa hipótese de teoria das células-tronco, em que as células que deveriam estar gerando novas células normais cerebrais acabam levando à formação e proliferação de células tumorais, defeituosas”, sintetiza o médico. 

Ele complementa dizendo que por algum motivo ainda não definido, essas células passam, em determinado momento, a se diferenciar de forma errada e a se multiplicar de maneira desordenada.

 

Como identificar o glioblastoma?

Os sinais e sintomas do glioblastoma podem incluir dores de cabeça complexas com náusea e vômito que tendem a ser piores durante a manhã, além de crises convulsivas, alterações neurológicas focais, como alterações progressivas de fala ou compreensão, e dos movimentos, e perda de força, especialmente em um dos lados do corpo.

“A principal diferença entre o glioblastoma e um AVC é que o AVC geralmente é súbito, enquanto o glioblastoma tende a se desenvolver de maneira progressiva. Então, é muito importante procurar um neurologista se a pessoa, ou familiar próximo, notar alguma coisa diferente”, diz ele. 

 

Tratamento do glioblastoma

Apesar do prognóstico do glioblastoma não ser tão positivo, nos últimos 20 anos o entendimento acerca dos mecanismos de funcionamento desse tumor vem aumentando progressivamente entre os especialistas. 

Pacientes com glioblastoma se beneficiam de uma avaliação multidisciplinar, composta por uma avaliação clínica inicial feita por um neuro-oncologista ou neurocirurgião, além de exames de imagem para discussão de uma potencial cirurgia para remoção segura do tumor. 

“Também pode ser indicado uma biópsia (quando a remoção tumoral não é possível), usualmente seguida por tratamento adjuvante, incluindo uma medicação chamada temozolomida e radioterapia. Mas além de protocolos de quimioterapia e radioterapia, há também novos tratamentos com drogas-alvo, imunoterapia e inibidores de alguns marcadores moleculares (para casos selecionados), e utilização de drogas que bloqueiam a formação de vasos do tumor (drogas antiangiogênicas)”, explica o dr. João Paulo.

Nos últimos anos, alguns hospitais privados incluíram um tratamento chamado tumor treating fields (TTFields) ou campo de tratamento de tumor, em que as células tumorais são expostas a campos elétricos alternados que podem interferir, assim, na capacidade das células tumorais de crescerem e se disseminarem. 

“O paciente usa um capacete com eletrodos acoplado numa mochila que emite ondas para tratar o tumor cerebral. Esse tratamento pode ser feito em combinação com a radioterapia e a quimioterapia e tem alcançado bons resultados”, finaliza o médico.

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