O uso de cigarro é o fator de risco mais significativo para o câncer de cabeça e pescoço, assim como a infecção pelo vírus HPV. Saiba como ocorrem os tumores de cabeça e pescoço.
Quando falamos do câncer de cabeça e pescoço estamos nos referindo aos tumores que atingem toda essa região, como boca, faringe, laringe, glândulas salivares e glândula tireoide.
É um câncer frequente no Brasil, com cerca de 40 mil casos anuais, segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (Inca), e sua incidência vem aumentando ao longo dos últimos anos devido a alguns fatores externos, como o alto consumo de álcool, cigarro e vapes.
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“O que a gente vem percebendo é que o cigarro causa uma agressão à mucosa de todo o trato aerodigestivo, e essa agressão faz com que ocorra uma transformação do epitélio sadio em um epitélio mais rígido, que tecnicamente chamamos de metaplasia e que favorece a proliferação de células malignas, podendo levar ao câncer, principalmente em indivíduos mais jovens”, explica Dorival De Carlucci Jr., cirurgião de pescoço e cabeça do Hospital das Clínicas de São Paulo.
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Vírus HPV e o câncer de cabeça e pescoço
Outro fator de risco que merece atenção é a relação desse câncer com o vírus HPV (papilomavírus humano), especialmente os subtipos 16 e 18. Há cerca de trinta anos, não se falava muito sobre essa associação, mas hoje já se sabe que esses subtipos do vírus são extremamente agressivos às células da orofaringe. Portanto, o mesmo vírus que é um grande fator de risco para o câncer de colo do útero, também tem relação direta com os tumores de cabeça e pescoço.
Isso ocorre porque o HPV se instala principalmente na região da amídala e em tecidos linfoides perto da base da língua (região da orofaringe), que pode danificar as células epiteliais causando alterações genéticas e contribuindo para o desenvolvimento do câncer. A infecção geralmente é assintomática e pode persistir por anos sem causar sintomas evidentes.
“Como ainda grande parte da população não é vacinada contra o HPV, isso se torna um fator de risco importante. Esperamos que com a vacinação das crianças a partir de agora o risco diminua no futuro”, enfoca Luis Eduardo Werneck, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia.
Sintomas precoces dos tumores de cabeça e pescoço
Ao contrário do que ocorre em outros órgãos, quando o câncer acomete a região da cabeça e pescoço a doença é visível. Apesar disso, os sinais não são percebidos na maioria dos casos. No Brasil, oito entre dez casos de câncer que acometem, por exemplo, a cavidade oral, são descobertos já em fase avançada.
Como consequência, o diagnóstico tardio resulta em menor chance de controle da doença, pior qualidade de vida para o paciente, maiores taxas de morbidade e mortalidade, maior risco de mutilação em razão da necessidade de cirurgias mais extensas, maior demanda por reconstrução facial, assim como mais desafios na reabilitação do paciente.
Por isso é de extrema importância detectar precocemente esse tipo de câncer, para que seja possível tratá-lo e minimizar os riscos de sequelas.
“A pessoa pode começar a sentir uma dor na região do pescoço, como se fosse um mal jeito. Dificuldade para engolir, engasgos frequentes, feridas na bochecha, na língua e no céu da boca que simplesmente não cicatrizam. À medida que a doença vai progredindo, menos alimentos ela consegue ingerir, com isso ela vai ficando cada vez mais mal nutrida e vai perdendo cada vez mais peso e massa muscular. Tudo isso precisa ser levado em consideração e o paciente procurar um médico o quanto antes”, reforça o dr. Werneck.
Tratamento dos tumores de cabeça e pescoço
O tratamento do câncer de cabeça e pescoço é multidisciplinar e pode variar dependendo do tipo, localização, estágio do câncer e das condições gerais de saúde do paciente. Os principais métodos de tratamento incluem cirurgia, radioterapia e quimioterapia, muitas vezes combinados para otimizar os resultados.
Ao longo dos anos, o tratamento do câncer de cabeça e pescoço foi se desenvolvendo e a incidência de cirurgias mutiladoras, com perda da língua e da laringe, têm sido cada vez menos frequente.
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Ainda assim, é preciso levar em conta que o tratamento da doença é delicado, principalmente por conta da área na qual o tumor está localizado. Por isso é de extrema importância a detecção precoce, para que seja possível tratá-lo adequadamente e minimizar os riscos de sequelas.
“Uma lesão pequena na língua, com uma remoção simples [da lesão], com uma margem de segurança e sem causar nenhum dano, cura o paciente. Agora uma lesão de 4, 5 cm, às vezes implica no esvaziamento ganglionar, na remoção de grande parte da língua e com tratamento de radioterapia depois. Então, tudo fica mais complicado. Por isso a importância do diagnóstico precoce”, finaliza o dr. Carlucci Jr.