Fisioterapia pélvica pós-câncer de colo do útero

close em pernas de mulher sentada em posição de lótus, com os és unidos. Fisioterapia pélvica é importante após o tratamento do câncer de colo do útero

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Publicado em: 02/05/2024

Revisado em: 02/05/2024

O tratamento de tumores ginecológicos com radioterapia pode causar problemas a longo prazo, como incontinência urinária e estenose vaginal. Veja a importância da fisioterapia pélvica após o tratamento de câncer de colo do útero.

 

O colo do útero encontra~se no final da vagina, e por localizar-se entre os órgãos externos e internos, fica mais exposto ao risco de contrair doenças e infecções por vírus, como o papilomavírus humano (HPV)

Na maioria das vezes, o HPV não causa outras doenças, entretanto, se a infecção for provocada por um subtipo com potencial carcinogênico, com o passar dos anos podem ocorrer alterações celulares que evoluem para um câncer de colo do útero. 

Apesar de existirem medidas preventivas para esse tipo de tumor (o exame de papanicolau e a vacina contra  oHPV são as principais), ele ainda é bastante incidente entre as mulheres, sendo o terceiro mais frequente entre as brasileiras. Ainda assim, é um câncer com grande potencial de cura, principalmente se for diagnosticado nos estágios iniciais. 

A grande questão são os efeitos colaterais que costumam surgir depois do tratamento, que pode envolver cirurgia, quimioterapia e radioterapia (principalmente em casos de tumores avançados). 

“O que ocorre é que a radioterapia pode provocar fibrose tecidual [formação excessiva de tecido enrijecido e sem elasticidade] e trazer repercussões importantes para a região, como dor, mucosites, disfunção sexual e algumas vezes disfunções urinárias e evacuatórias”, explica Anderson Coelho, fisioterapeuta e presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 4ª Região (Crefito-4 MG).

 

Fisioterapia pélvica

A fisioterapia pélvica tem papel fundamental após o tratamento do câncer de colo do útero e deve ser iniciada de forma precoce para diminuir esses sintomas e melhorar a qualidade de vida da paciente. Por isso, é de extrema importância que a mulher realize uma avaliação com um fisioterapeuta durante o pré-operatório e inicie o tratamento no pós-operatório.

O objetivo principal da fisioterapia é fortalecer os músculos do assoalho pélvico, que é uma região composta de várias camadas de músculos suspensos como uma “rede” pendurada em dois pontos, na frente e atrás da pelve. Esses músculos controlam a uretra e o esfíncter anal e evitam problemas como perda urinária e fecal. 

Segundo Anderson, a indicação clássica para a reabilitação é o treinamento dos músculos do assoalho pélvico, associados a exercícios de resistência muscular com progressão, a fim de trazer independência ao paciente.

Além desses exercícios, podem ser utilizadas técnicas de eletroterapia (uso de correntes elétricas), biofeedback (técnica comportamental) e dilatadores vaginais (previnem o fechamento completo do canal vaginal) para casos de vaginismo (disfunção sexual causada por contrações involuntárias da musculatura da vagina que causam dor durante o ato sexual ). 

“É importante que esses exercícios sejam realizados de forma individualizada, não somente com treinamento de força, mas observando possíveis tensões e desarranjos de tônus muscular. O objetivo é que a paciente aprenda a controlar e coordenar os músculos do assoalho pélvico e tenha mais controle”, diz o fisioterapeuta. 

O número de sessões depende da condição clínica e muscular de cada paciente. Em média, quando a mulher já tem controle dos músculos do assoalho pélvico (sabe contrair de forma adequada), uma única sessão pode ser suficiente. 

Normalmente, para promover total recuperação e fortalecimento com desenvolvimento de hipertrofia muscular, recomenda-se a prática de 12 semanas consecutivas, incorporando os exercícios na rotina diária. 

 

Incontinência urinária 

Outro efeito colateral bastante comum pós-tratamento, e que merece atenção, é a incontinência urinária, que é a liberação involuntária de urina. Ela ocorre porque os procedimentos utilizados no tratamento contra o câncer podem romper fibras nervosas dos músculos pélvicos, facilitando os escapes. 

Esses músculos controlam o fluxo de urina, a contração do períneo e o fechamento do ânus. Tanto a uretra quanto o ânus têm um esfíncter (músculos especiais que funcionam como fechaduras) que garante a retenção da urina e fezes. 

Nesses casos, para fortalecimento desses músculos, podem ser indicados os exercícios de kegel, em que a paciente faz contrações voluntárias seletivas e repetitivas, que ajudam a manter a integridade e o bom funcionamento da uretra e a posição dos órgãos dentro da pélvis. 

Após a avaliação de um especialista, esses exercícios podem até ser feitos em casa, várias vezes ao dia. 

Um exemplo desse exercício é sentar-se no chão de barriga para baixo, com a bexiga esvaziada, e tentar fazer o movimento de soltar e segurar a urina. À medida que a pessoa vai criando mais consciência corporal, é possível fazer esse exercício de pé, ou sentada. 

Veja também: Fisioterapia pélvica – Pra que serve?

 

Estenose vaginal

Outro problema que pode surgir na região pélvica pós-radioterapia é a estenose vaginal, que causa o encurtamento e estreitamento do canal vaginal. 

Como consequência, a paciente pode sentir dor durante o ato sexual e ter dificuldade de realizar exames ginecológicos que requerem a visualização da vagina e do colo do útero. 

Nesses casos, além dos exercícios com dilatadores vaginais, podem ser indicadas massagem perineal que melhora a elasticidade da região, além do uso de cremes específicos.

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