Cirurgia bariátrica reduz o risco de câncer?

Segundo evidências científicas, o procedimento tira o indivíduo de um estado crônico inflamatório, o que diminui o índice de mortalidade por câncer.

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Publicado em: 29 de setembro de 2022

Revisado em: 30 de setembro de 2022

Segundo evidências científicas, o procedimento tira o indivíduo de um estado crônico inflamatório, o que diminui o índice de mortalidade por câncer.

 

A obesidade sempre foi considerada um fator de risco para o desenvolvimento de diversos tipos de câncer, como de mama, endométrio, intestino grosso e rim, devido ao processo crônico inflamatório que ela desencadeia no organismo, aliada aos níveis elevados de insulina que aumentam o metabolismo e fazem o pâncreas trabalhar muito mais.

“Inflamação é uma cascata de reações bioquímicas no corpo inteiro. O organismo está sempre lutando contra um processo inflamatório que pode possibilitar a proliferação celular“, explica o oncologista Samuel Aguiar Jr., líder do Centro de Referência de Tumores Colorretais do Hospital A.C Camargo Cancer Center. 

Nos últimos meses, foram publicados diversos estudos apontando que a cirurgia bariátrica tem se mostrado uma potencial aliada para reduzir o risco de morte por câncer em quase 35%. Entre eles, um trabalho publicado na revista JAMA, que analisou o dado de mais de 30 mil participantes durante 10 anos e constatou que o grupo diminui exponencialmente a probabilidade de ter câncer no futuro. Mas afinal, o que isso quer dizer? A cirurgia bariátrica reduz o risco de câncer? Ao que tudo indica, sim. 

 

Risco menor

Na opinião de Aguiar, essa redução drástica de peso nos pacientes com obesidade traz o indivíduo ao seu estado metabólico “normal”, e ele passa a ter um risco igual ao dos indivíduos que estão com IMC abaixo de 25 kg/m². Lembrando que acima desse número o indivíduo é considerado com sobrepeso; IMC entre 30 kg/m² e 35 kg/m² indica obesidade grau 1. 

“A cirurgia bariátrica é uma solução para aqueles pacientes que não tiveram sucesso em outras terapias para redução de peso, como uso de medicamentos, por exemplo. Ela tem uma indicação muito precisa, como se estivéssemos apagando um incêndio. Então, esses estudos só chegam para reforçar que, tirando o indivíduo desse estado crônico inflamatório, o risco de câncer por conta da obesidade diminui”, explica. 

A grande questão na visão do oncologista é que grande parte das pessoas ainda não tem consciência de como o excesso de peso é prejudicial à saúde. Com a queda no número de fumantes, a tendência é de que a obesidade se torne o fator prevenível mais relevante na gênese do câncer, segundo a Sociedade Americana de Oncologia (Asco). 

“Temos mais de 50% da população brasileira com sobrepeso”, alerta o médico. 

 É claro que a obesidade é uma doença metabólica e que vai muito além de uma mera mudança de cardápio e de força de vontade para reverter o quadro, mas é preciso trabalhar com as crianças e os adolescentes desde cedo sobre a importância de uma reeducação alimentar, com alimentos menos processados, e da atividade física. 

“Infelizmente, o que percebemos no Brasil é que isso ainda é um privilégio de poucos. Populações com poder aquisitivo menor estão mais propensas a consumirem produtos ultraprocessados, que estão cheios de açúcar, sal e gordura, o que aumenta o risco de sobrepeso.” 

 

Cirurgia bariátrica para quem?

Nem todas as pessoas com obesidade podem fazer cirurgia para perda de peso. Para se qualificar para isso, os pacientes geralmente devem ter IMC de pelo menos 40, ou IMC de 35 ou mais associado a uma condição ligada à obesidade, como diabetes tipo 2, hipertensão ou doença cardíaca. 

Veja também: Cuidados necessários após a bariátrica

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