Câncer de próstata e alterações genéticas: quais as perspectivas de tratamento?

estrutura de DNA. câncer de próstata hereditário é mais raro

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Publicado em: 29 de junho de 2023

Revisado em: 29 de junho de 2023

Cerca de 10% a 18% dos casos estão relacionados a alterações genéticas hereditárias. O câncer de próstata hereditário requer um tratamento diferenciado. 

 

O câncer de próstata é um dos tumores mais frequentes na população masculina, ficando atrás somente do câncer de pele. No ano passado, apenas no Brasil, 16.055 homens morreram em consequência da doença, o que corresponde a cerca de 44 mortes por dia, segundo o Ministério da Saúde. 

Normalmente, o câncer de próstata é um tumor de crescimento lento, que pode surgir em idades mais avançadas. Cerca de 60% dos diagnósticos no mundo são feitos em homens com 65 anos ou mais. No entanto, cerca de 10% a 18% dos casos estão relacionados a alterações genéticas hereditárias, o que requer um tratamento diferenciado. 

No último mês, aconteceu em Chicago, nos Estados Unidos, um dos maiores congressos de oncologia do mundo, o da ASCO (em tradução livre, Sociedade Americana de Oncologia Clínica). O dr. Bruno Santucci, diretor médico do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC), esteve presente no evento e destaca algumas novidades relacionadas ao câncer de próstata com mutação genética (associada a tumores mais agressivos e de crescimento acelerado) e à importância da adição da radioterapia em alguns tipos específicos de tumores da próstata. 

“Quando diagnosticamos um tumor de próstata abaixo dos 60 anos, já é um grande sinal de alerta. Nesses casos, os estudos já têm demonstrado a importância do paciente realizar o teste genético, pois se ele tiver alguma alteração no gene, modifica toda a estratégia de tratamento, já que é um tumor muito mais agressivo”, alerta o médico.

 

Genes envolvidos no câncer de próstata hereditário

 

Os genes que podem sofrer mutações são os mesmos do câncer de mama, ovário e pâncreas genéticos, os BRCA. Homens portadores de mutação no BRCA1 têm um risco três vezes maior de desenvolver câncer de próstata do que os não portadores; para o BRCA2, esse risco é ainda mais elevado, chegando a ser oito vezes maior quando comparado ao de não portadores. 

Veja também: Câncer de mama familiar

O teste é indicado para aqueles que possuem histórico familiar (avô, tio, primo) da doença, pois quando a alteração é identificada precocemente, é possível fazer uma prevenção vigilante, que significa acompanhar o paciente rotineiramente por meio de exames periódicos. 

O teste também pode ser uma alternativa para aqueles pacientes que já obtiveram o diagnóstico da doença, sobretudo para os que descobriram o câncer em uma idade precoce, entre 45 e 50 anos, já que a identificação de qualquer alteração requer um tratamento mais direcionado. 

A realização do exame é bem simples, por meio da coleta de sangue ou da saliva para a extração do DNA. Tais exames passaram a integrar o rol de exames genéticos cobertos integralmente pelos planos de saúde. Caso o paciente preencha os critérios e pré-requisitos determinados pela Agência Nacional de Saúde (ANS), é possível fazer esses testes através dos convênios. O SUS, por sua vez, ainda não disponibiliza esse tipo de teste. 

Entretanto, é importante ressaltar que somente o médico responsável pode avaliar a indicação do exame genético.

 

Tratamento do câncer de próstata hereditário

 

Cirurgia, radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia são os tratamentos padrões para tumores da próstata. Já aos pacientes resistentes às terapias tradicionais, principalmente aqueles com mutações de reparo de DNA, são indicadas as drogas alvo dirigidas, utilizadas para atacar especialmente as células cancerígenas. 

Essa é uma classe bem recente de medicamentos, que vem sendo testada para diferentes tipos de cânceres, principalmente os relacionados a mutações nos genes BRCA.

 

Radioterapia 

O dr. Bruno destaca o estudo Peace -1, que teve bastante repercussão científica e cujo objetivo principal era avaliar a importância de agregar a radioterapia ao tratamento de pacientes que estavam sendo tratados com outras combinações de tratamento. “Basicamente, pacientes que receberam radioterapia mais tratamento padrão e abiraterona (medicamento que inibe a produção de testosterona) tiveram uma taxa de sobrevida livre de progressão da doença e menos complicações locais maior, quando comparados àqueles que só receberam um tratamento padrão, sem ser tão direcionado”, explica o médico. 

O estudo mostra que a oncologia está caminhando cada vez mais para a era da precisão e, principalmente, que a adição da radioterapia, em determinados casos, pode ajudar muitos pacientes no controle local da doença e atrasar a progressão do câncer. 

 

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