Estudo publicado na revista “Nature” sugere maior incidência de câncer de mama no lado esquerdo. Assimetria corporal e fatores ambientais podem estar relacionados a esse fator.
A revista britânica “Nature” publicou recentemente um estudo que sugere que o câncer de mama é relativamente mais comum no lado esquerdo do corpo. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram os registros de saúde de cerca de 881 mil pacientes com câncer de mama nos Estados Unidos. Como resultado, eles descobriram que 50,8% dos tumores ocorreram no lado esquerdo, em comparação com 49,2% no lado direito.Mas, na prática, o que isso significa para os pacientes?
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Apesar de mostrar uma ligeira prevalência do tumor de mama no lado esquerdo, o estudo não é suficiente para causar um impacto significativo nas diretrizes de tratamento.
“É importante deixar claro que o tratamento do câncer de mama é baseado na biologia do tumor, no subtipo e na extensão da doença, e não na sua lateralidade. O lado que o câncer acomete não interfere na conduta do tratamento”, comenta Fabiana Makdissi, do Hospital A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo.
O lado acometido só interfere quando é necessário realizar radioterapia. O tratamento é um pouco mais desafiador na mama esquerda simplesmente por causa da distribuição dos órgãos ali localizados, como coração e pulmão, por exemplo.
Por causa da posição anatômica do coração, o órgão e suas artérias são expostos a mais radiação. Mas isso já é de conhecimento dos especialistas, que costumam adotar condutas específicas para diminuir possíveis danos ao coração.
Assimetria das mamas
Os motivos exatos para essa diferença de prevalência em um dos lados do corpo não são totalmente compreendidos pelos pesquisadores, mas podem incluir fatores como a assimetria natural, diferenças na exposição a fatores ambientais ou até mesmo variações na detecção e diagnóstico.
“Na prática clínica o que a gente vê é que existe uma maior quantidade de tecido mamário nos dois cantinhos superiores das duas mamas. Então, com frequência, nós temos uma incidência maior de tumores nessas localizações, mas em minha prática clínica não consigo dizer se há maior prevalência de um lado ou de outro”, complementa a dra. Makdissi.
Para os especialistas do MD Anderson Cancer Center, nos Estados Unidos, que avaliaram o estudo, uma das hipóteses é que a maioria dos seios também não é perfeitamente simétrica e, no geral, o seio esquerdo é ligeiramente maior que o direito. Ter mais tecido glandular de um lado aumenta um pouco o risco de desenvolver câncer de mama, simplesmente porque a área em que ele pode se desenvolver é maior.
Redução do risco de câncer de mama
Como confirmam os especialistas, o estudo mostra apenas uma relação, não uma causalidade.
Para as mulheres e pacientes o achado não muda muita coisa, no máximo auxilia a paciente a ter mais consciência de que a mama de um lado do corpo pode ser maior que a do outro e, a partir disso, cuidar da detecção precoce do tumor. Para isso, recomenda-se palpar as mamas durante o banho e fazer exames de mamografia a partir dos 50 anos, de acordo com a orientação do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e do Ministério da Saúde.