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Esteatose-hepática não alcoólica (gordura no fígado)

imagem em 3 D de vesícula e fígado com esteatose-hepática não alcoólica (gordura no fígado) dentro de corpo humano
Publicado em 13/11/2023
Revisado em 13/11/2023

A esteatose-hepática não alcoólica (gordura no fígado) está associada a alterações como resistência à insulina, hipertensão, obesidade, entre outros. Leia no artigo do dr. Drauzio. 

 

Cirrose hepática em pessoas sem histórico de alcoolismo intrigava os médicos do passado. Como costuma acontecer nessas circunstâncias, a desconfiança recaía sobre os próprios pacientes: será que contavam a verdade?

Com o aumento do número de casos a partir das duas últimas décadas do século 20, esses quadros receberam o diagnóstico de esteatose hepática não alcoólica, que, na linguagem popular, passou a ser conhecida como “gordura no fígado”.

Logo ficou evidente que esse acúmulo de gordura estava associado a outras alterações: resistência à insulina, colesterol e triglicérides elevados, hipertensão arterial e obesidade.

Veja também: Artigo do dr. Drauzio sobre gordura no fígado

Como o fígado é um órgão que sofre calado, a doença se instala e progride durante anos sem causar sintomas. Nos Estados Unidos, país com os maiores índices de obesidade do mundo, menos de 5% das pessoas com esse tipo de hepatite estão a par de sua condição. De 12% a 14% dos que recebem o diagnóstico já apresentam a doença avançada que pode progredir para fibrose hepática, cirrose e câncer de fígado.

Com o aumento do número de pessoas com índices de massa corpórea (IMC) na faixa de obesidade, a esteato-hepatite não alcoólica adquiriu características que lembram as das epidemias. O “Journal of the American Association” (JAMA) acaba de fazer uma revisão da literatura médica publicada entre janeiro de 2010 e novembro de 2022. Nela, foram incluídos 385 estudos que permitiram tirar as seguintes conclusões:

O diagnóstico deve ser feito com base em três achados: 1) presença de infiltração gordurosa (esteatose) em mais de 5% das células hepáticas (hepatócitos); 2) ausência de alcoolismo significativo (definido como homens: >21 drinques/semana; mulheres > 14 drinques/semana); 3) e exclusão de outras doenças hepáticas.

As seguintes condições estão associadas a risco mais alto de progressão para fibrose/cirrose: 1) diabetes e pré-diabetes (glicemias entre 100 e 125); 2) obesidade ou dois ou mais fatores associados à síndrome metabólica, por exemplo triglicérides > 150 ou circunferência abdominal acima de 100 cm no homem ou 90 cm na mulher; 3) e presença de esteatose diagnosticada em exame de imagem (ultrassom, tomografia ou ressonância) ou transaminases elevadas no exame de sangue.

A prevalência de esteato-hepatite não alcoólica em pessoas com diabetes pode atingir 70%. Entre elas, cerca de 15% apresentam fibrose moderada ou grave. A avaliação do grau de comprometimento do fígado inclui exames laboratoriais e de imagem. Com base nos resultados, o risco para desenvolver cirrose e suas complicações será classificado em baixo, indeterminado ou alto.

O tratamento precisa ser iniciado assim que o diagnóstico for estabelecido: tratar a obesidade, as alterações do colesterol e dos triglicérides, a resistência à insulina já na fase em que a glicemia está entre 100 e 125 e controlar a pressão arterial. As doenças cardiovasculares constituem a principal causa de morte em doentes com esteatose hepática não alcoólica.

Dietas pobres em gordura animal e em açúcares e a prática de atividade física por, no mínimo, 150 minutos por semana, são considerados tratamentos de primeira linha. O papel da dieta e do exercício nos casos em que já existe fibrose é menos claro.

Uma revisão da literatura mostrou que a perda de apenas 5% do peso corpóreo provoca cerca de 30% de redução dos triglicérides intra-hepáticos. A perda de 5% a 10% ou mais do peso está associada à diminuição da esteatose, da fibrose hepática e à melhora dos parâmetros cardiometabólicos.

A entrada no comércio de drogas como semaglutida e tirzepatida que, em ensaios clínicos randomizados, têm demonstrado a capacidade de reduzir até 15% ou 20% do peso corpóreo, criou uma esperança a mais para os pacientes. Embora ainda iniciais, os resultados são bastante promissores. São medicamentos com efeitos colaterais aceitáveis, mas o custo é inacessível à maioria da população.

Graças à perda substancial de peso, a cirurgia bariátrica é uma opção importante, especialmente nos pacientes com IMC maior do que 35 associado a diabetes do tipo 2.

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