Obesidade é um dos problemas de saúde que podem estar relacionados a quadros mais graves de covid.
Está claro que a covid-19 é mais agressiva em pessoas com alguns problemas de saúde. Os mais comuns costumam ser: hipertensão arterial, diabetes, insuficiência cardíaca, doença coronariana, colesterol elevado, insuficiência renal crônica, doença cerebrovascular (AVC) e doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema e outras).
Desde o início da pandemia, ficou demonstrado que a obesidade é um fator de risco independente, para a mortalidade e para a necessidade de internação hospitalar.
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Havia dúvida, entretanto, se todas as classes de obesidade seriam associadas aos quadros de maior gravidade, ou se eles estariam restritos aos casos de obesidade mais grave. Outra dúvida é se mulheres e homens obesos correriam o mesmo risco.
Como a obesidade está associada a um estado de inflamação crônica, pacientes obesos apresentariam resposta inflamatória exagerada ao coronavírus, com formação da “tempestade de citocinas” responsável pelo acometimento pulmonar e de outros órgãos.
O “European Journal of Clinical Microbiology & Infectious Diseases” acabou de publicar um estudo retrospectivo conduzido entre 3.530 pacientes consecutivos (1.579 mulheres e 1.951 homens) internados por covid-19 num hospital terciário.
Com base no Índice de Massa Corpórea (IMC = Peso/altura x altura), os casos de obesidade foram classificados em três classes: Classe I (IMC entre 30 e 34,9 kg/m2), Classe II (IMC entre 35 e 39,9) e Classe 3 (IMC 40 ou mais).
O objetivo principal foi calcular o impacto do IMC na mortalidade. Como objetivos secundários, os autores avaliaram a relação com a necessidade de intubação e o aparecimento de pneumonia grave.
Nos pacientes da Classe II (IMC entre 35 e 39,9), a mortalidade aumentou 44%, na comparação com os que pertenciam à faixa de peso considerada normal (IMC entre 18,5 e 24,9). Naqueles da Classe III (IMC 40 ou mais), o aumento da mortalidade foi de 92%.
receptores nos quais o vírus se ancora para entrar nas células, como o ACE2, estão presentes no tecido gorduroso
Quando comparado ao grupo de peso na faixa da normalidade, o risco de pneumonia grave aumentou nas três classes de obesidade: Classe I = 44%; Classe II = 97%; Classe III = 210%.
Os aumentos nos riscos de intubação nas Classes I, II e III foram de 77%, 68% e 58%, respectivamente.
A análise dos subgrupos mostrou que, enquanto houve aumento da mortalidade nos homens pertencentes às Classes II e III, nas mulheres tal aumento só ocorreu naquelas com IMC de 40 ou mais (Classe III).
Esses resultados podem ser atribuídos aos seguintes mecanismos:
1) obesidade grave altera a mecânica dos pulmões por causa do acúmulo de gordura no mediastino e nas cavidades abdominal e torácica;
2) a obesidade central característica dos homens reduz a capacidade respiratória;
3) o efeito nocivo do estado de inflamação crônica causado pelo acúmulo de gordura;
4) a alteração da flora intestinal associada à obesidade;
5) receptores nos quais o vírus se ancora para entrar nas células, como o ACE2, estão presentes no tecido gorduroso.