Os cuidados para a SDRC envolvem uma equipe multidisciplinar composta por médicos, terapeutas e intervenção medicamentosa.
A síndrome dolorosa regional complexa (SDRC) é uma condição crônica que provoca dor intensa e prolongada, geralmente nos braços, mãos, pernas ou pés. Essa dor é desproporcional à gravidade da lesão inicial que a causou. A SDRC é caracterizada por uma série de sintomas que também podem incluir inchaço, alterações na pele, alterações motoras e sensibilidade aumentada.
A causa exata da síndrome não é totalmente compreendida, mas acredita-se que esteja relacionada a uma resposta anormal do sistema nervoso periférico e central após uma lesão ou trauma, resultando em dor e inflamação excessivas.
“A SDRC pode ser dividida em dois tipos: tipo I, que era chamada de distrofia simpático reflexa, que sucede a uma doença ou lesão que não afetou diretamente os nervos no membro afetado; e tipo II, denominada de causalgia. A SDRC tipo II diferencia-se da do tipo I pela existência de uma lesão nervosa real, em que a dor não se limita ao território de inervação do nervo lesado. Aproximadamente 90% das pessoas com SDRC sofrem do tipo I”, explica o neurologista Marcos Leonardo Condé, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e neurofisiologista clínico pela Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica (SBNC).
Fatores que podem aumentar o risco da SDRC incluem:
- Lesões traumáticas, como fraturas e entorses;
- Cirurgias;
- Acidentes vasculares cerebrais e infartos;
- Condições inflamatórias;
- Histórico de outras doenças crônicas, como diabetes.
“Os sintomas mais comuns da SDRC são: dor de forte intensidade, que acomete uma extremidade do corpo, presença de edema, hipersensibilidade ao frio e ao toque, sudorese, alteração de coloração e diminuição da capacidade de movimento”, acrescenta o dr. Condé.
O neurologista ainda explica que o diagnóstico da síndrome dolorosa regional complexa é clínico, podendo ser solicitados exames complementares que auxiliem tanto na confirmação como na sua exclusão de outras doenças. Exame de raios-X pode identificar diminuição da calcificação óssea, apesar dessa alteração não ser específica para SDRC, pois a desmineralização óssea pode ser causada pelo desuso do membro. A eletroneuromiografia indica se há lesão de nervo nos casos de SDCR tipo II.
É possível, também, realizar outros exames laboratoriais de imagem: a termografia determina a diferença de temperatura entre o membro afetado e o normal e a pletismografia, um teste de função pulmonar, evidencia as diferenças de perfusão entre os membros.
O tratamento da SDRC é complexo e multidisciplinar, envolvendo uma combinação de abordagens para aliviar os sintomas e melhorar a função. As opções incluem:
- Medicação: como analgésicos, anti-inflamatórios, antidepressivos e anticonvulsivantes;
- Fisioterapia: com base em exercícios específicos para manter a mobilidade e reduzir a rigidez;
- Terapias ocupacionais: com estratégias para realizar atividades diárias sem agravar a dor;
- Bloqueios nervosos e terapias intervencionistas: injeções de anestésicos locais ou esteroides;
- Psicoterapia: apoio psicológico para lidar com a dor crônica e o impacto emocional.
“Nas situações em que a doença se instala, é importante um tratamento com equipe multiprofissional com abordagem biopsicossocial e humanizada. Na reabilitação, além de técnicas [de reabilitação] específicas para cada caso e estágio da doença, o foco na qualidade de vida deve ser o objetivo central”, acrescenta Camilla Zavarizzi, terapeuta ocupacional mestre em ciências da saúde pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências da Saúde da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Além disso, a terapeuta explica que a síndrome é um dos agravos mais desafiantes na reabilitação pois, muitas vezes, o diagnóstico é tardio, e o paciente chega ao tratamento já em um estágio que, além da dor, a capacidade funcional e a saúde mental já estão afetadas.
O dr. Condé acrescenta que devido à gravidade da dor, o paciente sofre grande impacto na qualidade de vida, além de apresentar limitação na realização de atividades físicas e laborativas.
A dor pode ser tão intensa que até mesmo um leve toque pode desencadear uma crise de dor, assim as pessoas com SDRC podem deixar de utilizar o membro afetado durante as atividades. Com isso, aumenta o risco de uma incapacidade permanente.
O sofrimento constante e as limitações físicas podem levar à depressão, ansiedade e isolamento social. Muitos pacientes enfrentam dificuldades em suas atividades diárias e para manter suas responsabilidades profissionais e pessoais.
Além disso, a síndrome não afeta apenas a vida do paciente, mas também das pessoas do seu convívio direto que, muitas vezes, precisam adaptar suas rotinas para fornecer suporte contínuo. O entendimento e o tratamento eficaz da SDRC são fundamentais para melhorar a qualidade de vida e promover a recuperação dos pacientes.
A aceitação e a adaptação à condição é essencial, assim como o apoio de familiares, amigos e profissionais de saúde durante a jornada de cada indivíduo. “O prognóstico no tratamento da SDRC nem sempre é promissor, mas existe um caminho, por isso a prevenção desse agravo e o diagnóstico precoce devem ser sempre a melhor opção”, conclui Zavarizzi.
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