Por que algumas pessoas são canhotas?

Se a maioria das pessoas tem mais habilidade com a mão direita, por que algumas pessoas são canhotas? Entenda essa característica.

Você já deve ter ouvido falar que pessoas que escrevem com a mão esquerda seriam mais inteligentes. Entenda por que algumas pessoas nascem canhotas e o que isso muda.

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Publicado em: 22 de abril de 2024

Revisado em: 22 de abril de 2024

Você já deve ter ouvido falar que pessoas que escrevem com a mão esquerda seriam mais inteligentes. Entenda por que algumas pessoas nascem canhotas e o que isso muda.

 

Nascer canhoto em um mundo feito para destros não é fácil. Segurar uma caneca ou usar uma tesoura, por exemplo, podem ser tarefas surpreendentemente difíceis para essas pessoas.

Há pelo menos 500 mil anos, os canhotos já existiam. Desde aquela época, representavam 10% da população, proporção que se mantém até hoje. Talvez por um equilíbrio de forças na evolução da humanidade: enquanto nos combates, eles se saíam melhor por atacarem do lado oposto; no convívio do dia a dia, tinham dificuldades em atividades consideradas simples. 

Mas, afinal, se a maioria das pessoas faz tudo com a mão direita, por que algumas delas nascem com a esquerda predominante?

 

Lateralidade cerebral

A explicação está nos hemisférios do cérebro. São dois: o direito e o esquerdo. Eles controlam os movimentos do corpo de forma cruzada: o hemisfério direito controla o lado esquerdo e o hemisfério esquerdo controla o lado direito. Além disso, possuem funções específicas, processo que é chamado de lateralidade cerebral. 

“Ambos também recebem e processam informações sensitivas do corpo. O hemisfério direito está mais envolvido com sentimentos, abstração, criatividade e intuição. Já o lado esquerdo está relacionado a funções como memória, raciocínio, processamento gramatical, lógica e estratégia”, explica o dr. Saulo Nader, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein.

Quando falamos em destros e canhotos, portanto, temos que pensar no hemisfério oposto: o hemisfério dominante nos destros é o esquerdo, enquanto o dominante nos canhotos é o direito. 

Usualmente, a área que processa a linguagem no ser humano se localiza no lado dominante, mas não em todos os casos. Nos destros, 95% realmente dependem mais do hemisfério esquerdo para a linguagem e fala. Mas, nos canhotos, 70% deles também têm a mesma habilidade localizada no hemisfério esquerdo, não dominante. 

 

Por que isso acontece?

Então, o que define qual hemisfério vai ser dominante para cada pessoa, fazendo-as nascerem destras ou canhotas? Esse ainda é um dos grandes mistérios do cérebro.

Existem teorias que indicam que o canhotismo tem a ver com uma gravidez turbulenta, a idade materna ou os níveis de testosterona no organismo da mãe durante a gestação. No entanto, ninguém sabe ao certo quais fatores alteram a dominância cerebral.

O que se tem de evidências é que essa é uma característica definida ainda na gestação. Há registros da predominância do lado direito em fetos com apenas dez semanas. É algo inato, já determinado no nascimento, que costuma ser estabelecido por volta dos sete anos de idade, quando a criança começa a escrever.

A genética, inclusive, não têm grande peso. Na maioria das vezes, filhos de canhotos não serão canhotos — apenas 25% deles têm chance de serem iguais a seus pais.

Veja também: Mecanismo da fala na criança | Entrevista

 

Canhotos são mais criativos?

Mesmo sendo minoria, grandes nomes da história da humanidade eram canhotos. O filósofo Aristóteles, o artista Mozart e o cientista Leonardo da Vinci, por exemplo, tinham a mão esquerda como dominante. Isso quer dizer que o canhotismo estaria relacionado a uma maior criatividade, inteligência ou veia artística?

É difícil dizer.

“Por ter, na maior parte deles, o hemisfério direito como dominante, dizem que eles seriam mais criativos e intuitivos. Mas vale ressaltar que estudos com ressonância funcional mostram que não há um padrão super definido. Existem funções que são desempenhadas por ambos os lados do cérebro e outras que variam de pessoa para pessoa. Os hemisférios são interconectados e trocam informações. Alguns até refutam a ideia de ter ou não um lado realmente dominante”, explica o dr. Saulo.

De acordo com o especialista, alguns estudos mostram que canhotos tendem a desenvolver melhor suas habilidades verbais, por terem uma comunicação mais eficaz entre os dois hemisférios. Em contrapartida, um gene relacionado ao canhotismo também está associado a um ligeiro aumento no risco do desenvolvimento de transtornos psicológicos, como autismo e esquizofrenia

“Temos esses dados, mas a coisa acaba por aí. Não existe nenhum grande estudo que comprovou de forma definitiva que o canhoto é mais inteligente, mais criativo ou mais artístico”, conclui o especialista.

 

Por que não se deve forçar um canhoto a escrever com a mão direita?

Na Idade Média, pessoas canhotas eram consideradas praticantes de bruxaria. O castigo era serem queimadas vivas. Com o tempo, o entendimento sobre essa característica mudou, mas o preconceito permaneceu, como explica a dra. Thais Ferreira, neurologista pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

“No passado, os canhotos eram punidos por escrever com a mão esquerda. Dessa maneira eles se tornavam ambidestros, ou seja, desenvolviam a mesma habilidade com as duas mãos. Esse processo pode resultar em traumas psicológicos para a criança”, alerta a especialista.

Existem ainda pessoas que já nascem ambidestras. Nesses casos, é provável que não haja a dominância de nenhum dos hemisférios cerebrais. Isto é, não existiria uma divisão de tarefas, realizando as ações em conjunto de acordo com a necessidade.

Mas, apesar da discriminação e da dificuldade nas questões cotidianas, ser canhoto tem seu lado positivo. No UFC, por exemplo, eles são praticamente metade dos atletas. Anderson Silva, um dos maiores expoentes brasileiros, nasceu destro, mas mudou a sua forma de lutar para o canhotismo.

“Canhotos podem ter algumas vantagens em esportes, pois, muitas vezes, os adversários esperam que o movimento venha de outro ângulo”, lembra a neurologista.

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