Um em cada cinco adolescentes interrompe tratamento da aids

Levantamento feito em São Paulo avaliou 581 adolescentes, de 12 a 17 anos, que fazem tratamento. Desses, 131 estão há pelo menos seis meses sem ir ao médico.

três adolescente sentados juntos. Adolescentes são mais propensos a abandonar o tratamento de aids

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Publicado em: 22 de julho de 2013

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Estudo mostra que adolescentes estão mais propensos a abandonar o tratamento da aids.

 

Levantamento feito pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, mostrou que um em cada cinco adolescentes com aids acompanhados pelo hospital abandonou o tratamento em 2012. Foram avaliados 581 adolescentes, de 12 a 17 anos. Desses, 131 estão há pelo menos seis meses sem ir ao médico ou voltar ao consultório para nova avaliação, sendo que 71 são do sexo masculino e 60, do feminino.

De acordo com o infectologista Jean Gorinchteyn, do  Emílio Ribas, durante o período de observação, os jovens em tratamento deveriam ter comparecido a pelo menos duas consultas, nas quais passariam por avaliação médica e receberiam receita para retirarem gratuitamente os medicamentos na própria farmácia do instituto.

 

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“As avaliações clínicas devem ser feitas a cada três meses. Se o paciente não vem para a consulta, não recebe a receita e não retira o remédio, interrompendo o tratamento. Normalmente, são administradas de três a cinco drogas antirretrovirais, algumas combinadas, mas esse número pode ser reduzido a um comprimido só, favorecendo muito a adesão”, explicou o médico.

Gorinchteyn ressaltou que, uma vez iniciado o tratamento, ele jamais pode ser interrompido, e os horários têm de ser seguidos com rigor. A interrupção do tratamento pode tornar o vírus resistente à medicação, ou seja, “o vírus deixa de ser sensível ao remédio e o organismo não responde ao tratamento”.

O infectologista informou que o Emílio Ribas tem uma estratégia para buscar os pacientes, caso deixem de comparecer aos retornos médicos. A convocação é sempre direta, por telefone ou telegrama. É preciso avaliar que, apesar de serem menores de idade e de teoricamente terem um adulto responsável por eles, a maioria dos adolescentes contraiu o HIV por transmissão vertical, na gestação da mãe contaminada.

“Isso quer dizer que muitas das mães estão doentes, ou já não estão mais vivas para cuidar dessas crianças. São jovens que podem estar sob cuidados de tutores ou responsáveis que, eventualmente, desconhecem o não comparecimento deles ao ambulatório. Muitas vezes, quando esses responsáveis foram questionados, afirmaram acreditar que as crianças iam às consultas.”

 

Interrupção do tratamento da aids

 

Para Gorinchteyn, a interrupção do tratamento pode ocorrer pelo fato de jovens dessa faixa etária terem dificuldade para encarar uma doença que precisa de acompanhamento constante e que já é tratada desde o nascimento. “Eles também sofrem muito preconceito por estarem contaminados, mas sem terem de fato culpa por isso. Assim, cria-se a dificuldade de aceitação da doença e das dificuldades de inserção social”, ressaltou o médico.

Os jovens acabam abandonando o tratamento como se isso pudesse negar a existência da aids. No entanto, o abandono não quer dizer exatamente que tenha havido negligência do cuidador, mas que o jovem tem dificuldade de lidar com a doença e a necessidade de um tratamento regular, com regras e restrições, o que pode ser difícil para uma pessoa dessa faixa etária.

Gorinchteyn destacou que nenhuma consulta é feita sem a presença de um maior de idade.“O que queremos saber agora é quanto dessa não adesão deve-se à falta de responsabilidade do tutor e quanto se deve à falta de disponibilidade do próprio paciente. Temos de estabelecer essa parceria de forma mais clara com o responsável, que não pode se submeter ao desejo do paciente que, muitas vezes, encontra desculpas para não comparecer às consultas”, acrescentou o médico. Para ele, é preciso “afinar o comportamento do cuidador” quanto à pressão do paciente.

De acordo com o infectologista, é preciso acolher psicologicamente essas crianças e adolescentes e não se deixar levar pelas suas desculpas. O tutor também precisa compreender que deve assumir a responsabilidade do tratamento do menor de idade. Gorinchteyn chamou a atenção ainda para o fato de que uma vez que o jovem não tem a preocupação em fazer o tratamento corretamente, nada garante que ele vá ter relações sexuais com proteção, podendo então transmitir o vírus.

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