Nem toda tontura é labirintite

A tontura pode ser sintoma de muitas doenças e, geralmente, não está relacionada à labirintite.

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Publicado em: 12 de maio de 2021

Revisado em: 12 de maio de 2021

A tontura pode ser sintoma de muitas doenças e, geralmente, não está relacionada à labirintite.

 

Quando o assunto é tontura, todo mundo já tem na ponta da língua a recomendação: “ah, procure um médico que deve ser labirintite“. 

Mas veja que curioso: a tontura quase nunca é labirintite. Como assim? A labirintite é uma das 40 doenças que podem estar por trás desse sintoma, e a boa notícia é que ela é rara. Segundo o dr. Saulo Nardy Nader, médico neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), a labirintite é uma infecção viral ou bacteriana do labirinto, normalmente uma complicação de meningite ou de infecção do ouvido, raríssima. 

“De maneira geral, a gente pegou uma doença que menos acontece e usou o nome dela para todas as outras doenças, olha só que curioso.” 

Listamos 4 doenças mais comuns cujo principal sintoma é a tontura. Acompanhe: 

 

  • Vertigem posicional paroxística benigna (VPPB)

 

Dentro do labirinto, temos uma espécie de microcristais que, no caso da VPPB,  “escapam” e se alojam onde não deveriam. Assim, ao olhar para cima, virar na cama ou agachar para pegar um lápis no chão, a pessoa sente que tudo gira.

“A VPPB é a doença provocadora de vertigem mais comum. E aí vem a grande mágica por trás: eu não preciso de remédio para tratá-la. O médico consegue fazer manobras com a cabeça da pessoa, em uma velocidade e ângulo específicos, que varrem de volta os cristaizinhos para o lugar e a doença está resolvida”, explica Saulo. 

O neurologista completa: “Já imaginou quanta gente tem por aí com diagnóstico de labirintite, tomando medicamentos sem resultado porque,  na verdade, são os cristais que estão soltos e precisam ser colocados no lugar?”. 

Por isso, a recomendação é procurar um médico neurologista e nunca se automedicar. 

 

  • Tontura postural perceptual persistente (TPPP)

 

Também conhecida como tontura perceptual ou vertigem fóbica. É a segunda causa mais comum de tontura em adultos jovens. A pessoa tem dificuldade de explicar os sintomas, e em geral afirma que sente a cabeça “vazia”, pesada, estranha; sente instabilidade, sensação de desequilíbrio, de insegurança, de que vai cair, embora não caia de fato. Os sintomas se intensificam em ambientes com muita informação visual, com excesso de cores, luzes ou movimento, como, por exemplo, shoppings, mercados, igrejas ou estacionamentos, que são locais amplos e com muitos estímulos visuais. 

“Há ainda uma nítida correlação com o emocional. A ansiedade piora muito a tontura e vice-versa. Então, a tontura perceptual é também uma das causas mais comuns que precisam de cuidados.”

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  • Neurite vestibular – Inflamação do nervo do labirinto

 

O paciente tem uma inflamação do nervo do labirinto e uma crise de vertigem muito intensa, além de náuseas, dificuldade de equilíbrio e concentração. Quando esse nervo fica inflamado, a informação que seria interpretada normalmente pelo cérebro chega deturpada, causando sintomas que podem aparecer subitamente. Em geral, o paciente vai para o hospital e os sintomas persistem por alguns dias. 

De acordo com Saulo, muitos médicos confundem a enfermidade com AVC, pelo início abrupto dos sintomas. “A missão do médico no pronto-socorro é diferenciar a tontura neurite vestibular de um AVC, que seria muito mais perigoso.” 

 

  • Doença de Ménière

 

A doença de Ménière é caracterizada pelo aumento da pressão do líquido que fica dentro do ouvido. “Vamos imaginar que o seu labirinto sofra de pressão alta”, compara Saulo. Quando isso acontece, ocorrem crises de vertigem, zumbido e perda de audição. Normalmente, as crises de vertigem têm mais de 20  minutos de duração, ou seja, são prolongadas e com a presença de fenômeno auditivo. Assim, durante a tontura, o ouvido entope e se ouve um apito ou chiado forte, comprometendo a audição. 

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