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Neurologia

Efeito placebo: como expectativas influenciam tratamentos e pesquisas médicas

A crença de que um tratamento vai dar certo, às vezes, realmente faz com que isso aconteça. Entenda como funciona o efeito placebo.

A crença de que um tratamento vai dar certo, às vezes, realmente faz com que isso aconteça. Entenda como funciona o efeito placebo.

É comum pensarmos que a única coisa que resolve a dor é um medicamento ou uma cirurgia. Mas tem outro fator que influencia muito em como vamos reagir ao tratamento: as expectativas. O nome disso é “efeito placebo”.

“Nós somos animais cuja experiência e interação com a realidade fazem toda a diferença, e o efeito placebo tem a ver com isso. Muito do que acontece no nosso organismo sofre influência do que antecipamos sobre o que vai acontecer e de outras variáveis que nem percebemos”, explica Fabiano Moulin, neurologista membro da Comissão de Estilo de Vida da Academia Brasileira de Neurologia – ABN.

O efeito placebo, portanto, nada mais é do que o funcionamento natural de um cérebro preditivo como o nosso. Só de ir a um consultório bonito, com profissionais de jaleco e máquinas modernas, a sensação em relação à consulta ou à intervenção prescrita já tende a ser mais positiva. O paciente se sente melhor, mesmo que não tenha tido, diretamente, um motivo para isso. 

Efeito placebo faz a diferença em pesquisas

O efeito placebo é fundamental em pesquisas clínicas. Em ensaios clínicos randomizados, nem os pesquisadores, nem os voluntários sabem quem vai receber a intervenção real ou o placebo, isto é, algo parecido com o tratamento, que pode ser um comprimido inerte, como uma pílula de açúcar.

“Vamos imaginar que é uma medicação para dor. Eu lhe dou um comprimido, que também não sei se é remédio ou placebo, e você me diz quanto está a sua dor de cabeça de 0 a 10. Daqui a duas horas, você responde que baixou para sete”, exemplifica o dr. Fabiano.

A partir dessa resposta, os pesquisadores comparam quanto a intervenção reduziu da dor em comparação com o grupo placebo. Em geral, só de tomar o comprimido ou receber atenção especial, o paciente costuma relatar que a dor diminuiu em 50%. No exemplo anterior, o grupo placebo relata a melhora de três pontos (de 10 para 7). Assim, para dizer que o remédio funciona, é necessário promover a melhora a partir de quatro pontos. Se baixar apenas três, está funcionando igual ao placebo.

“E isso não é um problema, mas precisamos dar o nome certo às coisas. Não posso dizer que o remédio está ajudando se, na verdade, é efeito placebo”, diferencia o especialista. “O que os estudos tentam fazer é medir, para além desse efeito da expectativa e do cérebro preditivo, quanto a intervenção realmente auxilia ou atrapalha”, continua.

Efeito placebo pode ser usado em consultório?

O fenômeno é tão intenso que, mesmo sabendo que está recebendo placebo, o paciente pode se sentir melhor. Estudo de 2010 com 80 pacientes com síndrome do intestino irritável comparou os que sabiam que estavam tomando um comprimido ineficaz com aqueles que não faziam o tratamento. Após três semanas, a melhora nos sintomas foi significativamente maior em quem ingeriu as pílulas, ainda que soubessem que elas não tinham efeito fisiológico.

Queixas como dores, problemas alérgicos ou dificuldade para dormir são as que mais se beneficiam do efeito placebo, porque estão diretamente ligadas à expectativa e à interação do corpo e da mente com o ambiente externo.

No entanto, ele só pode ser usado intencionalmente e de forma legal em pesquisas clínicas. No dia a dia, existem dilemas éticos, como a quebra de confiança entre médico e paciente, caso o placebo seja prescrito sem o consentimento do doente, e o avanço da doença, quando há tratamento eficaz. O Conselho Federal de Medicina, portanto, proíbe a prática.

Além disso, pode ocorrer o efeito nocebo, quando surgem ou se intensificam sintomas em resposta a uma expectativa negativa, mesmo que não haja causa real para isso. Isso acontece, por exemplo, com o paciente que espera sentir dor ao ir ao dentista: o risco de que essa sensação realmente aconteça é maior.

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