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Sedentarismo feminino

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Publicado em 06/05/2015
Revisado em 16/08/2021

O sedentarismo feminino foi apontado em pesquisa. As mulheres se alimentam melhor, mas se exercitam menos.

 

A pesquisa Vigitel (Vigilância dos Fatores de Risco e Proteção para Doenças), divulgada em abril deste ano pelo Ministério da Saúde, revelou alguns dados sobre a saúde dos brasileiros, entre eles que o número de pessoas acima do peso aumentou 23% nos últimos 9 anos (leia matéria sobre a pesquisa aqui). Isso se deve principalmente aos maus hábitos alimentares e ao sedentarismo, considerado o quarto principal fator de risco de mortalidade global.

Apesar de ainda muito sedentários, os brasileiros se exercitam mais hoje do que há 6 anos: a pesquisa apontou aumento de 18% no número de pessoas que praticam a quantidade de exercícios físico recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 150 minutos por semana.

No entanto, ainda segundo a pesquisa, os homens são mais ativos fisicamente do que as mulheres:  mais de 40% se exercitam durante seu tempo livre ante 30% das mulheres. Sabe-se, contudo, que as mulheres se alimentam melhor e procuram mais os médicos do que os homens, o que nos faz pressupor que elas se preocupam mais com a saúde.

Se é assim, por que, então, elas são mais sedentárias?

Embora na infância meninos e meninas sejam fisicamente ativos e estimulados a brincar, logo a menina aprende a restringir suas atividades, pois subir em árvore, jogar bola, lutar e correr são “brincadeiras de moleque”. Os exercícios físicos ficam, portanto, limitados às academias que poucas têm condições financeiras ou tempo para frequentar.

Outra pesquisa, denominada Trabalho remunerado e trabalho doméstico – uma tensão permanente e realizada pela organização recifense SOS Corpo – Instituo Feminista pela Democracia e pelos institutos Data Popular e Patrícia Galvão, revelou que 75% das 800 mulheres consultadas afirmavam enfrentar uma rotina exaustiva, enquanto 18% não sofriam desse problema e 7% não sabiam dizer.

Dentre as entrevistadas, 98% reportaram que além de trabalhar, ainda precisavam cuidar da casa. Dessas, 71% não recebiam ajuda masculina. A falta de tempo foi motivo de reclamação para 68% das consultadas, enquanto 58% declararam não ter tempo para cuidar de si. De cada 10 entrevistas, 6 dormiam menos de 8 horas por dia.

Além de hoje em dia boa parte das mulheres trabalhar fora, ainda cabe a elas os cuidados com a casa, com a alimentação da família e com os filhos.

Realmente, é difícil imaginar que uma mulher que trabalhe cerca de 8 horas por dia, sem contar o tempo gasto nos deslocamentos entre a casa e o trabalho, cuide dos afazeres domésticos e dos filhos ainda tenha tempo para praticar exercício físico.

O cenário, contudo, está mudando: cada vez mais as mulheres cobram a presença masculina na divisão de tarefas. Se antes os homens eram responsáveis pelo sustento da família, hoje essa incumbência também cabe à mulher. Nada mais justo, portanto, que eles passem a dividir os cuidados com a casa e com os filhos, permitindo que elas tenham mais tempo para cuidar de si.

Até quando permitiremos que a mulher negligencie sua saúde física e mental em nome dos outros apenas para não atrapalharmos a ordem patriarcal que concede aos homens o direito de se abster dos cuidados com a casa e os filhos?

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