Período que marca o fim da fase reprodutiva causa diversas alterações hormonais, físicas e emocionais e pode ser desafiador para as mulheres. Veja por que é importante ter apoio na menopausa.
A menopausa é caracterizada pelo fim da fase reprodutiva na vida da mulher, e seu diagnóstico é feito depois de 12 meses seguidos de ausência menstrual. Geralmente acontece entre 45 e 55 anos, sendo mais frequente entre 48 e 50 anos.
Embora a menopausa seja um processo fisiológico e natural, uma série de sintomas relacionados à queda hormonal podem acompanhar a mulher por anos, muitas vezes antes da última menstruação, durante o período de transição da fase reprodutiva para a fase não reprodutiva, que é chamado de climatério.
Podem haver sintomas físicos como ondas de calor (fogachos), fadiga, perda de massa muscular, secura vaginal, distúrbios do sono, ganho de peso, diminuição da libido e até escapes de urina; e sintomas psíquicos como alterações de humor, irritabilidade, perda de memória, ansiedade, depressão, entre outros.
Com tantas mudanças acontecendo ao mesmo tempo, a menopausa pode ser desafiadora para muitas mulheres, afinal, afeta diretamente a qualidade de vida. Por isso, é fundamental ter uma rede de apoio na menopausa, com profissionais, parceiros, familiares ou amigas que compreendam o momento e prestem suporte.
Menopausa ainda é tabu?
Infelizmente, para muitas pessoas, falar sobre a menopausa ainda é difícil. É comum que as mulheres sintam vergonha de compartilhar o que estão vivendo até mesmo com pessoas mais próximas. Em muitos casos, as alterações físicas, emocionais, sociais e sexuais são associadas ao envelhecimento, que em geral é visto como algo negativo.
“Muitas mulheres culturalmente associam a menstruação com jovialidade e, na ausência dela, o fim. Mas devemos pensar como se fosse uma pausa: pausa para autocuidado, para reflexão, para iniciar bons hábitos de vida. Enfim, ressignificação de muitos aspectos da vida e da saúde”, afirma Isabel Sorpreso, ginecologista, professora associada da disciplina de ginecologia do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e coordenadora do projeto Menopausando.
Para passar por todo o processo de maneira mais tranquila, é muito importante que a mulher pratique o autocuidado, informe-se sobre o assunto e busque apoio na menopausa. “Se eu pudesse dizer somente uma coisa para a mulher na menopausa, para lidar com essas dificuldades, seria tratar-se com autocompaixão. Nós somos, desde pequenas – e muitas vezes isso vem de geração em geração nas mulheres –, acostumadas a cuidar dos outros, e relacionamos compaixão sempre com o outro”, diz Sâmara Irumé, psicóloga e criadora da página Diário da menopausa.
Mas a dificuldade muitas vezes já começa na procura por atendimento. Muitas mulheres passam por alguns médicos até encontrarem um profissional que de fato as ajude. Por isso, é fundamental que elas falem sobre o assunto. Pesquisar, informar-se, buscar grupos de apoio, fazer cursos e trocar informações com outras mulheres que estão na mesma situação são atitudes muito benéficas e que podem fazer com que ela se sinta mais acolhida.
“Só que muitas vezes essa mulher tenta sozinha, porque a vida inteira ela foi tentando sozinha. Mas a menopausa traz sintomas bem desafiadores, e tentar sozinha é muito difícil. A menopausa muda o jogo, o que funcionava para mim aos 20, 30, talvez até aos 40 anos, [agora] não funciona mais”, diz Sâmara.
“O apoio [de pessoas próximas] pode ser desde a percepção dos sintomas até auxiliar no incentivo ao autocuidado, à introdução de hábitos de vida saudável. Desmistificar e falar sobre o assunto é fundamental para favorecer esse apoio”, completa a dra. Isabel.
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Apoio na menopausa: como dar suporte à mulher
Uma situação muito difícil é quando as mulheres não têm dentro de casa a compreensão esperada em relação ao que estão vivendo. Isso acontece principalmente por parte de parceiros homens, que às vezes não se informam a respeito do assunto ou até subestimam os sintomas da parceira.
É importante para a mulher ter o apoio do parceiro, dos filhos, amigos e outros familiares nesse período.
Sâmara elenca algumas orientações importantes sobre como fornecer apoio na menopausa:
- Eduque-se sobre o tema: quanto mais você souber sobre o que sua parceira está passando, melhor. Muitas mulheres se sentem solitárias nessa fase, então saber que não está sozinha faz muita diferença durante os altos e baixos do processo;
- Incentive-a a buscar um profissional de saúde: algumas mulheres têm dificuldade em buscar ajuda porque não querem falar sobre o assunto, ou já buscaram e não foram bem assistidas. Incentive-a e, se possível, acompanhe-a na consulta;
- Tente não pressioná-la: evite perguntar quanto tempo a menopausa vai durar. Não é útil e ela não saberá mais do que você. O período do climatério até o pós-menopausa pode durar de 4 a 10 anos. A duração vai depender dos sintomas, do tratamento adequado e dos ajustes no estilo de vida, quando necessário;
- Pergunte o que ela precisa: talvez você não saiba como ajudar durante uma fase difícil. Então, pergunte. Em muitos casos, ouvir a pessoa, dizer palavras de apoio ou fazer uma simples gentileza já pode ajudar. Caso ela não queira conversar naquele momento, respeite;
- Seja paciente: um dos sintomas da menopausa é a irritabilidade. Às vezes, uma resposta atravessada pode levar a brigas desnecessárias. Tente resistir ao impulso de responder com a mesma irritação. Pode ser difícil, mas uma boa conversa é sempre o melhor caminho;
- Atente-se aos sintomas psíquicos: a exaustão física e emocional são comuns na menopausa. Porém, sintomas como perda de interesse em atividades que antes eram agradáveis, apatia e desesperança podem ser sinal de depressão – mesmo mulheres que nunca tiveram o transtorno podem desenvolver depressão e ansiedade associados à menopausa;
- Seja compreensivo em relação às questões sexuais: as alterações hormonais podem levar a uma série de mudanças no corpo e causar sintomas como redução da libido, ressecamento vaginal, dispareunia (dor durante a relação sexual) e urgência ou dor ao urinar. Tantas mudanças também podem afetar a autoestima da mulher. Tente se colocar no lugar dela. É importante buscar o tratamento para a redução desses sintomas, mas também é fundamental que o casal converse sobre a situação e, juntos, possam buscar novas formas de prazer e intimidade.
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Mudança para todos
As mudanças que ocorrem na menopausa podem impactar a vida daqueles que estão ao redor da mulher. Além disso, os parceiros, mesmo que em menor grau, também passam por mudanças físicas e emocionais ao longo dos anos. Esse período em que a mulher necessita de um maior suporte pode ser uma possibilidade de observar os seus próprios hábitos e se cuidar melhor também.
“Muitas mulheres têm problemas sérios para dormir e me contam como percebem que seus parceiros roncam. Talvez seja a hora de vocês dois aprenderem sobre como cuidar dos hábitos de alimentação, exercício, higiene do sono… Descobrir atividades como casal ou individualmente que, além da saúde, lhes dê prazer. Minha maior recomendação é: não se acostumem com o sofrimento, busquem informações. Há muitos cursos sobre menopausa e vejo que muitas de minhas alunas convidam seus maridos para assistir, e como eles gostam de aprender sobre suas parceiras e até sobre si mesmos. O envelhecimento é certo, a forma como vamos viver os próximos anos é escolha”, afirma a psicóloga.
Ajuda profissional e tratamentos para a mulher ter apoio na menopausa
Na menopausa, a depender dos sintomas que a mulher enfrenta, pode ser importante ter um acompanhamento multidisciplinar, com profissionais de saúde como ginecologista, endocrinologista, nutricionista e psicólogo, por exemplo.
A dra. Isabel destaca a importância do acompanhamento ginecológico e da realização de exames complementares de prevenção de neoplasias e doenças cardiovasculares, cujo risco é aumentado após a menopausa. O uso de medicamentos pode ser necessário, sempre com orientação médica.
“Os tratamentos não medicamentosos podem incluir terapia comportamental cognitiva, meditação com psicólogo e terapeutas, atividade física com educador físico e fisioterapeutas e [mudança de] hábitos alimentares orientada por nutricionistas. Todas essas modalidades terapêuticas auxiliam com certeza na melhoria da qualidade de vida das mulheres”, explica a médica.
Para Sâmara, é importante que a mulher ajuste seus hábitos de forma leve, sem buscar mudanças radicais. “Eu acredito nas pequenas ações sequenciais agendadas, que são pequenas coisinhas todos os dias. Imagina se você faz uma ação de autocompaixão para se cuidar por dia, em um ano você tem 365 ações. Isso vai ter um grande impacto na sua vida, mas é preciso começar, e às vezes essa mulher está exausta, sem esperança. Então, ela precisa de apoio, de uma mão que ajude a dar o primeiro passo”, finaliza.
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