Menstruação precoce: por que acontece e como pode impactar a infância?

A menstruação precoce está relacionada à puberdade precoce, condição que pode causar diversos impactos na saúde das crianças. 

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Publicado em: 14 de abril de 2023

Revisado em: 30 de maio de 2023

A menstruação precoce está relacionada à puberdade precoce, condição que pode causar diversos impactos na saúde das crianças. 

 

A primeira menstruação, chamada de menarca, é esperada entre os 9 e 15 anos de idade. Quando acontece antes disso, aos 8 anos ou menos, é considerada precoce. A menstruação precoce é um dos sintomas causados pela puberdade precoce, condição em que o processo de transição do corpo de criança para a fase adulta começa antes da hora (8 anos em meninas e 9 anos em meninos). Além da menstruação, a puberdade precoce pode provocar sintomas como crescimento das mamas, pelos pubianos e nas axilas, acnes e odor corporal adulto. Nos meninos, também pode haver sintomas como aumento do pênis, voz grossa e pelos faciais. 

Segundo a dra. Ludmila Pedrosa, endocrinologista pediátrica da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, a puberdade precoce é dividida em dois grupos: as de causa central (por ativação da cascata de hormônios que geralmente leva à puberdade normal, mas de forma precoce) e a periférica (que se deve à produção de hormônios em outras partes do corpo e que pode ser causada por uma série de doenças). 

“Quando estamos falando de puberdade precoce central – a forma mais comum –, é importante lembrar que essa é uma condição muito mais frequente em meninas (cerca de 20 vezes) e que as causas mais comuns diferem entre os sexos. Nas meninas, a grande maioria dos casos é idiopático, ou seja, após toda a investigação, não conseguimos concluir qual foi a causa para a antecipação da puberdade. Já nos meninos, até 70% dos casos podem ser devidos a alguma lesão no sistema nervoso central, como tumores e malformações”, explica a médica. 

Além disso, a especialista conta que, com o avanço nos estudos da puberdade precoce, novas causas têm sido reveladas nos últimos anos, com destaque para as genéticas. “Nos pacientes com história familiar de antecipação puberal (por exemplo, uma criança cuja mãe menstruou aos 9 anos, ou cuja irmã teve início do desenvolvimento da puberdade antes do adequado) as causas genéticas assumem uma importância ainda maior, correspondendo a uma porcentagem significativa dos casos.”

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Influência da alimentação

Segundo a dra. Ludmila, a alimentação inadequada e o ganho de peso excessivo têm sido cada vez mais associados à puberdade precoce, especialmente em meninas. Mas, além do excesso de peso, outros fatores comportamentais também têm sido avaliados.

“Em um estudo italiano, por exemplo, foram avaliadas meninas durante e após o lockdown da pandemia de covid-19 e se detectou um aumento nos casos de puberdade precoce. Os autores atribuem que tanto o ganho de peso como o estresse e o tempo excessivo de telas podem ter contribuído para tal. É sempre bom lembrar que bons hábitos de vida podem prevenir muitas doenças e, talvez, até certo ponto, a antecipação puberal também”, afirma.

“O consumo de junk food foi convincentemente associado à obesidade e ao rápido ganho de peso, um potencial preditor de idade mais precoce para a menarca (primeira menstruação) e outros marcadores da puberdade”, destaca a dra. Fátima Oladejo, ginecologista e obstetra. 

E mesmo nos casos em que não há obesidade, a alimentação não saudável tem sido associada à condição. “Vários estudos já mostraram que o consumo excessivo de gordura tem uma influência potencial no metabolismo do estrogênio e pode estar relacionado ao momento do início da puberdade”, completa. 

 

Os impactos na saúde 

Quando uma criança entra na puberdade precocemente, esse processo pode resultar em uma série de consequências para sua vida e para sua saúde física e mental. De acordo com a dra. Fátima, a menstruação precoce pode estar associada a problemas físicos e psicossociais como ansiedade, depressão e uso de substâncias. 

A puberdade precoce também pode provocar fusão precoce das placas epifisárias de crescimento, o que pode fazer com que a altura adulta final da criança seja menor do que sua altura genética potencial. Ou seja, ela pode parar de crescer antes da hora e ter baixa estatura na fase adulta.  

“[A condição] também tem sido associada a um aumento da prevalência de obesidade, resistência à insulina e hipercolesterolemia [colesterol alto] na idade adulta, culminando em maiores riscos de doenças cardiovasculares, como hipertensão, doença cardíaca coronária, acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes em mulheres”, explica a médica.

Além disso, a menstruação precoce aumenta o risco de menopausa precoce em 80%. “A combinação de menarca precoce e nuliparidade (condição da mulher que nunca teve filhos) resultou em um risco cinco vezes maior de menopausa entre 40 a 44 anos e duas vezes o risco de menopausa antes dos 40 anos em comparação com mulheres com menarca tardia e dois ou mais filhos.” 

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Tratamento da puberdade precoce

O tratamento da puberdade precoce central é realizado de preferência com medicações que bloqueiam temporariamente os hormônios envolvidos no desenvolvimento puberal. 

“As medicações atuam em uma glândula que temos dentro da cabeça que se chama hipófise, impedindo a produção dos hormônios que estimulam os ovários e testículos. Atualmente, no Brasil, temos disponíveis vários tipos dessa medicação, com intervalos de aplicação diferentes. Quando bem indicado, o tratamento evita transtornos psicológicos que podem surgir pelo desenvolvimento precoce, conserva o potencial de crescimento da criança e minimiza os riscos a médio e longo prazo causados pela puberdade precoce”, afirma a endocrinologista.

Quando existem outras causas por trás da puberdade precoce, como um tumor, por exemplo, é importante tratar a causa. 

A especialista destaca a necessidade de acompanhamento médico frequente para monitorar a eficiência do tratamento e os possíveis efeitos colaterais, além da orientação sobre o momento adequado para sua interrupção. 

“Na dúvida, é importante procurar ajuda de um endocrinologista infantil para avaliar o desenvolvimento da criança e detectar possíveis alterações que podem demandar tratamento. Quanto antes inicia-se o tratamento, maiores as chances de a criança ter uma boa evolução. Em meninas, por exemplo, o bloqueio puberal após a primeira menstruação pode ser realizado em casos selecionados, mas os resultados não são tão bons quanto o tratamento iniciado precocemente.” 

 

Como os pais devem lidar com a menstruação precoce

Crianças que entram na puberdade precocemente podem se sentir diferentes das outras crianças. A ginecologista afirma que, embora existam poucos estudos sobre os efeitos emocionais da menstruação precoce, é possível que esse sentimento de sentir-se diferente possa causar questões emocionais e até experiências sexuais precoces. Além disso, os próprios pais podem ter dificuldade para lidar com a questão. 

“Se você, sua filha ou outros membros de sua família estiverem tendo dificuldades para lidar com isso, procure aconselhamento. O aconselhamento psicológico pode ajudar a entender e lidar melhor com as emoções, problemas e desafios que acompanham essa transformação. O acolhimento e o respeito à privacidade da criança são muito importantes. Se for necessário, [você pode] conversar com o profissional de saúde até antes de levar a criança, para preparar a forma de abordar o assunto sem provocar desconfortos a ela”, orienta a dra. Fátima. 

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