Por que o colesterol pode aumentar durante a menopausa?

Queda na produção de hormônios como estrogênio diminui proteção natural contra doenças cardiovasculares. Entenda a relação entre o colesterol e a menopausa.

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Publicado em: 13 de janeiro de 2023

Revisado em: 21 de fevereiro de 2024

Queda na produção de hormônios como estrogênio diminui proteção natural contra doenças cardiovasculares. Entenda por que o colesterol pode aumentar na menopausa.

 

Com a chegada da perimenopausa, transição entre o fim da produção de estrogênio e progesterona por parte dos ovários, é comum ter que lidar com sintomas como ondas de calor intensas, piora das enxaquecas pré ou pós menstruação, depressão, irritabilidade, aumento de gordura abdominal e muitos outros. É como explica a dra. Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista, membro do corpo clínico do hospital Albert Einstein, em São Paulo.

“Nesse período, há uma diminuição natural da produção hormonal, que provoca sintomas como fogachos, alterações de humor e de sono, dentre outros. Essa queda hormonal também está relacionada à diminuição de massa muscular e aumento da porcentagem de gordura no corpo. Nesse caso, o ganho de peso é refletido por um aumento do volume no abdômen e não no quadril, como é quando a menstruação ainda ocorre.”

Quando a última menstruação acontece, somam-se ainda mais fatores de atenção, como o aumento dos níveis do colesterol de LDL (lipoproteína de baixa densidade, na sigla em inglês), conhecido como colesterol ruim, que torna quem está na menopausa e pós-menopausa mais vulnerável ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como a aterosclerose e a doença arterial coronariana. 

Ao mesmo tempo, o colesterol HDL (lipoproteína de alta densidade, na sigla em inglês), conhecido como colesterol bom, sofre uma oscilação para baixo com a diminuição da produção de estrogênio, associado à manutenção desse colesterol. 

A médica complementa. “Essa mesma redução hormonal pode provocar o aumento do colesterol, uma vez que o estradiol está relacionado ao metabolismo do colesterol. Esse desequilíbrio é o responsável pelo aumento do risco cardíaco na menopausa e o aumento dos casos de hipertensão.”

 

Entenda o colesterol

O colesterol é, em sua essência, uma substância necessária para o organismo. Sem ele, as células não formam a membrana que as envolve. O problema surge quando há um desequilíbrio na sua produção, já que há dois tipos de colesterol: o HDL, ou bom colesterol, que protege contra ataques cardíacos, e o LDL, ou mau colesterol, que facilita a formação de placas de ateroma nas veias e artérias e favorece o aparecimento de doenças cardiovasculares.

Cardiopatias, acidentes vasculares cerebrais e insuficiência vascular periférica são algumas das condições associadas a esse desequilíbrio. A aterosclerose é o principal fator em comum entre elas, uma vez que a doença ligada à elevação do colesterol provoca obstrução das artérias e veias e, consequentemente, diminuição do fluxo sanguíneo.

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Valores ideais

As diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) não diferenciam os valores ideais de colesterol total, HDL e triglicérides entre pessoas de baixo, médio ou alto risco:

  • Colesterol total: Abaixo de 190;
  • HDL: Acima de 40;
  • Triglicérides: Abaixo de 150.

Já os valores ideais de LDL são separados dependendo do grau de risco do paciente desenvolver problemas cardiovasculares:

  • Pacientes com risco baixo: Abaixo de 130;
  • Pacientes com risco intermediário: Abaixo de 100;
  • Pacientes com risco alto: Abaixo de 70.

 

Prevenção

O colesterol alto age de forma silenciosa, sem dar indícios até que seu dano já tenha tido começado. Por isso, o indicado é atuar a partir do monitoramento por meio de exames de sangue. 

“É fundamental que se faça o controle do colesterol, triglicerídeos e glicemia, bem como das dosagens hormonais”, destaca a ginecologista. 

A recomendação geral é de que pessoas sem fatores de risco pré-existentes iniciem o acompanhamento por volta dos 30, 35 anos, mas é possível realizar o exame de sangue para traçar o perfil lipídico a partir dos 20 anos. Tendo o resultado em mãos, o próprio médico irá orientar o paciente em relação ao intervalo entre os exames futuros. 

 

Terapia de reposição hormonal e colesterol

Antigamente, vendia-se a terapia de reposição hormonal como a solução para os sintomas e consequências incômodas provocadas pela menopausa. Porém, um estudo feito pela WHI (Women’s Health Initiative) em 1992 mostrou que, quando aplicado sem uma avaliação individual, os riscos da reposição hormonal podem superar os seus benefícios. 

As mulheres tratadas tiveram aumento de 29% de ataques cardíacos, 41% de derrames cerebrais, 113% de embolias pulmonares e 26% de câncer de mama. Em contrapartida, o risco de fraturas ósseas diminuiu 34% e o de câncer de cólon 37%. As demências ocorridas depois dos 65 anos, infelizmente, aconteceram com o dobro da frequência nas que receberam hormônios.

A partir de então, a indicação do tratamento passou a ser muito mais criteriosa. É importante lembrar também que há outras alternativas para lidar com os efeitos da menopausa, como o uso de antidepressivos, a adesão à psicoterapia, a inserção de atividades físicas e uma alimentação mais equilibrada no dia a dia, entre outras. Converse com o seu médico ou sua médica para entender o que pode atender melhor às suas necessidades. 

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