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Ginecologia

Papanicolau será substituído no SUS pelo teste de DNA-HPV

close em mão de médica segurando espéculo para introduzir em paciente com perna aberta para fazer o teste de DNA-HOV
Publicado em 24/03/2025
Revisado em 24/03/2025

O teste de DNA-HPV detecta o risco de câncer de colo do útero dez anos antes que o Papanicolau. Conheça o novo método.

 

A cada dez pessoas, oito serão infectadas pelo vírus HPV (papilomavírus humano) em algum momento da vida. Na maioria das vezes, o próprio sistema imunológico elimina o vírus do organismo espontaneamente. No entanto, em alguns casos, o HPV pode provocar o crescimento de células anormais, evoluindo de uma lesão pré-cancerígena para um câncer. Esse processo leva alguns anos e pode resultar em tumores na vagina, vulva, ânus, pênis, orofaringe, boca e, principalmente, colo do útero.

Desde os anos 1980, o exame utilizado no Brasil para o rastreamento do câncer de colo do útero é o Papanicolau. Agora, ele será substituído pelo teste de DNA-HPV, que promete detectar o risco de um tumor até 10 anos antes. 

 

Como era com o Papanicolau?

De todos os cânceres causados pelo HPV, 93% são de colo do útero. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o tumor é o terceiro mais comum entre as mulheres. São 6,5 mil mortes por ano, ou seja, uma morte a cada 90 minutos.

Além da vacina contra o HPV, a prevenção pode ser feita através do teste de Papanicolau (citologia oncótica cervical). No exame ginecológico, o médico colhe amostras do tecido do colo uterino e encaminha para análise em laboratório. A partir daí, é feita a identificação de alterações celulares causadas pelo HPV, ou seja, lesões pré-cancerígenas provocadas pelo vírus.

O teste é recomendado para mulheres de 25 a 64 anos com vida sexual ativa. Após dois exames anuais consecutivos com resultado normal, ele deve ser repetido a cada três anos. No entanto, a performance do Papanicolau é considerada mediana, pois o exame pode deixar escapar casos de lesões que precedem o câncer e até o próprio tumor já estabelecido.

Veja também: Por que vacinar seus filhos contra o HPV

 

O que muda com o teste de DNA-HPV?

O teste de DNA-HPV, por sua vez, possui uma sensibilidade muito maior. Ele detecta a presença do vírus antes mesmo de ele evoluir para uma lesão pré-cancerígena. Dessa forma, permite a identificação precoce e o tratamento ainda nas fases iniciais da infecção. Ele pode ser feito através do exame ginecológico ou da autocoleta, em que a mulher recebe um kit com instruções, tornando o teste mais acessível e confortável.

Em um estudo realizado pelo Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pela Prefeitura Municipal de Indaiatuba e pela empresa Roche Diagnóstica, pesquisadores avaliaram a eficácia do teste de DNA-HPV no rastreamento do câncer de colo de útero durante 30 meses em mais de 20 mil usuárias do SUS.

Os resultados mostraram que o teste de DNA-HPV aumentou a detecção de lesões pré-cancerígenas em até quatro vezes em comparação ao Papanicolau. Foram diagnosticadas 21 mulheres com câncer de colo do útero, sendo 67% dos casos ainda em estágio inicial. Com o Papanicolau, apenas 12 casos foram detectados, e 11 deles já estavam avançados.

O teste de DNA-HPV também antecipou a detecção do câncer em dez anos. Enquanto a média de idade de rastreamento pelo exame molecular foi de 39,6 anos; com o Papanicolau, essa média sobe para 49,3 anos. Isso acontece justamente porque o teste de DNA-HPV é capaz de identificar o risco do tumor ainda no início, diferentemente do Papanicolau.

“No nosso cenário atual de casos diagnosticados, 70% deles já estão avançados. Não dá mais para fazer cirurgia e a chance de cura é de apenas 40%. Com o teste de HPV, invertemos isso. [O teste] Identifica, nas fases microscópicas, 80% dos cânceres que já existem e estão silenciosos. Antecipa o diagnóstico em dez anos e evita que essas mulheres batam na nossa porta já com sintomas de câncer avançado, porque elas estão sendo detectadas numa fase em que o tratamento é mais simples, menos mutilante. E você detecta as mulheres também com lesões pré-câncer. Com isso, acaba eliminando muitas das doenças e das mortes”, destaca o dr. Júlio César Teixeira, pesquisador principal do estudo e diretor de oncologia do CAISM-Unicamp.

Além disso, na pesquisa, se o teste de DNA-HPV dava positivo para a infecção pelo vírus, a mulher era orientada a realizar o acompanhamento com um intervalo de tempo menor. Caso ela já tivesse alguma lesão pré-cancerígena, era encaminhada para outro exame, responsável por realizar um tratamento curativo e preventivo, evitando a evolução para um tumor. 

Sendo assim, o teste de DNA-HPV pode ser realizado com segurança a cada cinco anos, em vez de três, como é o Papanicolau. Em uma avaliação econômica do exame, calcula-se que a sua adoção permite uma economia de até 37,87 dólares (aproximadamente 215 reais) por ano de vida para o sistema de saúde. 

 

Substituição no SUS

Desde 2013, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já indica o uso do teste de DNA-HPV em qualquer novo programa de rastreamento de câncer de colo do útero no mundo. Depois da apresentação dos resultados do estudo de Indaiatuba em 2021, o Ministério da Saúde passou a trabalhar na substituição do Papanicolau pelo teste de DNA-HPV no SUS. 

Em março de 2024, o exame foi aprovado pela Conitec, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde, permitindo a sua inclusão na rede pública. Em fevereiro deste ano, as novas Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas foram aprovadas e, agora, o Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero tem um prazo de 180 dias para concluir a transição nos municípios, incorporando o teste de DNA-HPV como método principal de rastreamento no lugar do exame de Papanicolau.

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