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É seguro usar PrEP na gravidez?

Publicado em 20/08/2024
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Revisado em 06/09/2024

Entenda em que situações a profilaxia pré-exposição ao HIV pode ser recomendada para gestantes, e quais os possíveis riscos associados da PrEP na gravidez.

 

A profilaxia pré-exposição (PrEP) é um método de prevenção contra a infecção por HIV, o vírus causador da aids. Ela consiste na combinação de dois comprimidos que devem ser tomados antes da relação sexual, permitindo que o organismo esteja preparado para um possível contato com o vírus. A PrEP é recomendada para qualquer pessoa que esteja em situação de vulnerabilidade para o HIV – inclusive, grávidas. 

Segundo informações do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) de Risco à Infecção pelo HIV, documento do Ministério da Saúde, estudos demonstram que mulheres que não vivem com o HIV e desejam engravidar de seus parceiros com exame soropositivo ou que estão em situações frequentes de exposição ao HIV podem se beneficiar do uso de PrEP de maneira segura durante a gestação e o período de amamentação. 

“É absolutamente seguro e absolutamente indicado que seja usada a PrEP na gravidez para uma gestante que esteja, durante a gestação, sob risco de infecção por HIV. A gente sabe que a transmissão materno-infantil do HIV pode acontecer de maneira bastante facilitada quando a gestante se infecta com o HIV enquanto ela está grávida ou enquanto ela está amamentando”, explica Rico Vasconcelos, infectologista do Núcleo de Medicina Afetiva e pesquisador do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). 

A profilaxia pré-exposição ao HIV é recomendada em situações nas quais a gestante está sob risco de infecção pelo HIV, como, por exemplo, nos casos em que ela tem um parceiro que vive com HIV que não faz uma adesão adequada ao tratamento, ou quando tem parceiros casuais e não faz uso de preservativo. 

 

A PrEP pode afetar a saúde da mãe ou do bebê?

A PrEP disponível no Brasil consiste na combinação de dois antirretrovirais: a entricitabina e o tenofovir. O especialista explica que a entricitabina é bastante inofensiva e não costuma causar nenhum efeito colateral colateral grave. Embora algumas pessoas possam ter alergia ao componente, isso é raro. 

“Já o tenofovir pode, em algumas situações, causar alguns efeitos colaterais para quem toma a PrEP. Estou aqui me referindo a alterações renais e ósseas causadas pelo tenofovir que,  ainda que raras – menos de 1% das pessoas que tomam PrEP desenvolvem essas alterações – elas são reversíveis quando a gente interrompe a medicação, e elas estão mais pronunciadas em pessoas que já têm um rim ou um osso doentes quando vão começar a tomar PrEP, e em pessoas com mais de 50 anos de idade. Então, pensando que a maior parte das pessoas que engravida no Brasil hoje são pessoas que têm menos de 50 anos de idade e, na maioria das vezes, pessoas saudáveis, esse antirretroviral costuma, na enorme maioria das vezes, não causar problema nenhum”, esclarece o dr. Rico. 

Mas é importante destacar que para qualquer pessoa que toma PrEP – gestante ou não – é recomendado um acompanhamento de saúde, com exames periódicos para rastrear as possíveis alterações causadas pelos antirretrovirais. 

Em relação ao bebê, o infectologista diz que as medicações não provocam problemas. “Quanto ao bebê, não existe descrito nenhuma alteração que esses dois antirretrovirais podem causar, então é extremamente seguro tomar a PrEP durante a gestação e o aleitamento.” 

        Veja também: Qual a melhor maneira de prevenir ISTs?

 

Prevenção e cuidados importantes

É fundamental que as gestantes atentem à prevenção do HIV e também de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Quando a mulher contrai uma IST estando grávida, a infecção pode ser transmitida para o bebê com facilidade, podendo, em alguns casos, causar sérios problemas para o bebê – desde a própria infecção por HIV até complicações mais graves, como má-formações no caso de uma sífilis congênita, óbito fetal ou aborto. 

“Então, não é porque está grávida que ela está imune a pegar ISTs, mas uma IST numa mulher adulta traz muito menos risco de problemas sérios do que uma IST para uma mulher grávida, pensando na transmissão congênita para o bebê”, afirma o infectologista. 

Por isso, é preciso pensar em métodos de prevenção, como a PrEP, quando necessário. Além disso, é importante que a mulher faça exames ao longo da gravidez e saiba se contraiu HIV ou outra IST antes do parto. Para prevenir a transmissão vertical (quando a criança é infectada por alguma IST durante a gestação ou o parto), o pré-natal deve incluir os seguintes exames:

  • No primeiro trimestre: HIV, sífilis e hepatites;
  • No terceiro trimestre: HIV e sífilis;
  • Em caso de exposição de risco e/ou violência sexual: HIV, sífilis e hepatites.

No momento do parto, deve-se repetir os testes para HIV e sífilis. O teste de hepatite B também deve ser realizado na hora do parto, caso a gestante não tenha tomado a vacina. 

Se a gestante se infectar com o HIV durante a gestação, quanto antes iniciado o tratamento antirretroviral e quanto mais rápido a infecção for controlada e a carga viral no sangue zerada, menor será o risco de transmissão para o bebê. 

“Se ela chega ao parto sem saber que tinha HIV, ainda assim, na hora do parto, é feito um teste rápido de HIV, porque existem algumas medidas de prevenção que a gente faz: antirretrovirais que são dados para a mãe inclusive por via endovenosa para tentar diminuir rapidamente a carga viral no sangue, técnicas obstétricas que são feitas que têm menor risco de exposição e troca de sangue entre mãe e bebê, diminuindo assim ainda mais a chance da transmissão do HIV, e existem medidas como profilaxias medicamentosas pós-exposição para o bebê.”

Além disso, o bebê, depois de nascer, deve tomar alguns antirretrovirais por algumas semanas para, com isso, tentar diminuir ainda mais o risco de se infectar com o HIV.

“Mas se uma mulher que vive com HIV se trata direitinho, faz todo o acompanhamento direitinho, tem carga viral indetectável o tempo todo ao longo de toda a gestação e faz tudo o que é recomendado dentro do pacote do pré-natal hoje, a gente pode dizer que a chance de transmissão do vírus dessa mulher para o bebê é zero. Por isso que a gente já tem cidades no Brasil que conseguiram eliminar a transmissão vertical do HIV, porque conseguiram fazer uma cobertura bastante ampliada e adequada desse pré-natal bem feito”, completa o médico. 

 

Somente um médico pode prescrever PrEP?

No Brasil, a partir da atualização do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de PrEP, publicado em 2022, houve a ampliação do atendimento de PrEP para uma equipe multiprofissional. Isso significa que, além do médico, enfermeiros, dentistas e farmacêuticos clínicos também podem preservar PrEP.

“Por que isso é importante e legal? Porque nem sempre o médico vai estar ali disponível. Acho que em São Paulo a gente tem como encontrar médicos com facilidade nos serviços de saúde, mas há lugares do Brasil em que existem serviços de saúde que não têm médico, que tem apenas enfermeiros, têm farmacêuticos. E que não seja pela falta de médico, ou pela falta de horário na agenda do médico, ou por uma objeção pessoal, pela opinião do médico que é contra a PrEP, que não seja por esses motivos que uma pessoa que se beneficiaria do uso de PrEP vai deixar de tomar a PrEP”, finaliza o dr. Rico. 

        Veja também: 7 perguntas e respostas sobre HIV na gestação

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