Idade materna avançada

Compartilhar

Publicado em:

Revisado em:

Atualmente, a mulher que opta pela idade materna avançada necessita conhecer plenamente os fatores associados aos maiores riscos, de modo que possa buscar assistência médica adequada e planejar o nascimento. 

 

O fenômeno do adiamento da maternidade para idades mais avançadas relaciona-se ao processo de mudança nos padrões familiares, que vem ocorrendo no mundo em todas as esferas da vida cotidiana, inclusive no contexto sociofamiliar brasileiro. Nas últimas décadas, foram registradas importantes mudanças socioculturais que influenciaram as características da natalidade, com diminuição progressiva de suas taxas globais e o adiamento da gravidez planejada. A incorporação da mulher ao mercado de trabalho, a maior importância para o desenvolvimento de sua escolaridade, as novas técnicas de controle da fertilidade, são fatores que atualmente influenciam a tomada de decisão acerca do momento mais oportuno para a mulher tornar-se mãe.

Os dados apresentados no censo realizado pelo Office for National Statistics (Londres e País de Gales, Reino Unido), no ano de 2000, demonstram idade materna média para os nascimentos, em geral, de 29 anos, o mais alto verificado nos últimos 40 anos. A maternidade na idade madura, em geral, está crescendo e os recém-nascidos de mães com idade de 30 a 40 anos dobraram em relação aos índices apresentados no ano de 1976.

 

Veja também: Gravidez após os 35 anos

 

No Brasil, a distribuição das parturições, de acordo com a idade materna, foi estudada em 1996 pela Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, permitindo mensuração das tendências históricas da fecundidade nos últimos cinco anos. Nessa pesquisa notou-se que a história reprodutiva é progressivamente mais complicada à medida que aumenta a faixa etária da gestante. As taxas de fecundidade por idade têm diminuído substancialmente nos últimos anos, e a média geral para todas as mulheres é de 2,3 filhos nascidos vivos, sendo que a proporção de mulheres com mais de 35 anos encontra-se abaixo de 5%. Na literatura mundial, o relato da proporção de parturições nas mulheres acima de 35 anos é de 2% a 5%.

A expectativa de vida nas mulheres tem aumentado em todo o mundo. A previsão é que, no ano de 2020, elas cheguem aos 90 anos. Apesar desse fato, o ciclo de vida reprodutiva da mulher ficará inalterado e representará somente um terço do total da sua vida. Esse assunto torna-se importante pelo efeito que a idade acarreta sobre os ovários e, particularmente, sobre as doenças do aparelho reprodutor feminino, adquiridas ao longo dos anos. A idade é um fator limitante na vida reprodutiva da mulher. Analisando várias populações, especificamente em relação à idade, estudos relacionados à fertilidade mostraram que a queda da fertilidade inicia-se aos 20 anos, declinando sutilmente até os 30 anos e intensificando-se após os 35 anos, sendo esta a idade considerada como um marco desse declínio.

A idade materna mais elevada é hoje uma preocupação obstétrica quanto aos resultados maternos e perinatais. Não está estabelecido, entre os autores, o limite de idade a partir do qual os riscos maternos e perinatais se elevam. Alguns autores utilizam o limite de 35 anos de idade e outros utilizam 40 anos, ou ainda 45 anos.

Algumas doenças crônicas ocorrem em grupos populacionais com maior idade, observando-se, com certa frequência, a presença de hipertensão arterial e diabetes mellitus nas gestantes com idade avançada. Encontramos também maior incidência de abortamentos do primeiro trimestre de gestação, anomalias gênicas, mortalidade materna, gestação múltipla, diabetes gestacional e pré-eclampsia complicada com síndrome HELLP.

Talvez a mais estudada, discutida e conhecida associação entre a idade materna avançada e resultados perinatais, seja o aparecimento de malformações congênitas. É praticamente unânime entre os autores, a opinião de que tais anomalias, sobretudo as decorrentes de aberrações cromossômicas, apresentam frequência que se eleva com a idade materna. É fundamental reconhecer que existe maior risco para aneuploidias tais como trissomias 13, 18 e 21 nas pacientes com idade superior a 35 anos. Com frequência, os médicos pensam apenas na síndrome de Down, que incide em somente 1% da população, enquanto as trissomias incidem em 2,86% dos casos.

A hemorragia durante o período puerperal é outra complicação obstétrica comumente referida pelos autores como tendo maior incidência em gestantes com idade igual ou superior a 35 anos. Frequentemente está associada à inércia uterina puerperal. Analisando os óbitos maternos nos Estados Unidos, BUEHLER et al. 26 referem a hemorragia puerperal como a primeira causa de óbito em mulheres com idade igual ou superior a 35 anos naquele país.

A incidência do diabetes mellitus, em alguma de suas formas, é duas a três vezes mais comum em gestantes com idade acima de 35 anos, do que naquelas com idade entre 20 e 25 anos.

A maior prevalência de intercorrências médicas e obstétricas no ciclo grávido-puerperal da gestante acima de 40 anos, impõe assistência pré-natal específica, sendo o caráter preventivo fundamental para essas gestantes. Cinquenta por cento das mulheres, com 40 anos ou mais, portadoras de cardiopatias atendidas no Boston Lying-in Hospital, nos Estados Unidos, desconheciam suas doenças até a primeira visita médica no pré-natal. Em muitos casos, esta era a sua primeira consulta em vida adulta.

Atualmente, a mulher que opta por engravidar após os 40 anos necessita conhecer plenamente os fatores associados aos maiores riscos, de modo que possa buscar assistência médica adequada e planejar o nascimento.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

1- JAMES, E. D. K. High risk pregnancy: management options. British Medial Journal, v.310, p.882-883, 1995.
2- CZEIZEL, A. Maternal mortality, fetal death, congenital anomalies and infant mortality at an advanced maternal age. Maturitas, Suppl 1, p.73-81, 1988.
3- PRYSAK, M.; LORENZ, R.; KISLY, A. Pregnancy outcome in nulliparous women 35 years and older. Obstet. Gynecol., v.85, n.1, p.65-70, 1995.
4- ENGLAND. Office for National Statistics. Birth Statistics; review of the Registrar General on births and patterns of family building in England and Wales, 1999-2000. London: The Stationary Office, [s.d.]. (MF1;28).
5- BOTTING, B.; DUNNELL, K. Theories in fertility and contraception in last quarter of the 20th century. Population Trends, v.100, p.32-39, 2000.
6- PNDS – Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, 1996. http://www.bemfam.org.br
7- TEMPLETON, A. Age and fertility (a review of relerant gynaecological issues. Fertility and Reproductive Medicine). In: KEMPERS, R.D. et al. ed. Fertility and Reprodutive Medicine. Aberdeen: Elsevier,p.157-165, 1998.
8- TEMPLETON, A.; FRASER, C.; THOMPSON, B. The epidemiology of infertility in Aberdeen. British Journal of Medicine, v. 302, p. 148-152,1990.
9- MELDRUM, D.R. Female reproductive aging – ovarian and uterine factors. Fertility and Sterility, v.59, n.1, p.1-5, 1993.
10- LERIDON, H.A. Human Fertility; The basis components. Chicago: University of Chicago, p. 107,1977.
11- FRAIMAN, A. P. Gravidez tardia: ser mãe depois dos quarenta. Reprodução, v.1, p.110-113, 1987.
12- MORRISON, I. The elderly primigravida. Am. J. Obstet. Gynecol., v.121, n.4, p.465-470, 1975.
13- MATHIAS, L. Gestação em pacientes com 40 anos ou mais. I: Primíparas, . J. bras. Ginecol., v.95, n.7, p.297-299, 1985.
14- ZUGAIB, M. A gestação em mulheres com 40 anos ou mais. Ginecologia e Obstetrícia Brasileiras, v.8, p. 305-307, 1985.
15- STANTON, E. F. Pregnancy after forty-four. Am. J. Obstet. Gynecol., v.71, n.2, p.270-282, 1956.
16- DILDY, G. A.; JACKSON, M.; FOWERS, G. K.; OSHIRO, B. T.; VARNER, M. W.; CLARK, S. L. Very advanced maternal age: pregnancy after age 45. Am. J. Obstet. Gynecol., v.144, n.3, p.668-674, 1996.
17- ZIADEH, S.M. Maternal and perinatal outcome in nulliparous women aged 35 and older. Gynecol. Obstet. Invest., v.54, p.6-10, 2002.
18- BARROS, A. C. S. D.; ZUGAIB, M.; PEREIRA, P. P.; GUGLIELMI, G. F.; DURANTE, A. A. Gestantes de pelo menos 45 anos de idade. Considerações sobre 40 casos. J. bras. Ginecol., v.94, n.1-2, p.33-36, 1984.
19- HANSEN, J. P. Older maternal age and pregnancy outcome; a review of the literature. Obstetrical and Gynecological Survey, v.41, n. 11, p. 726-742, 1986.
20- KIELY, J. L.; PANET, N.; SUSSER, M. An assessment of the effects of maternal age and parity in different components of perinatal mortality. American Journal of Epidemiology, v.123, n. 3, p.444-454, 1986.
21- BRASSIL, M. J. et al.Obstetric outcome in first-time mothers aged 40 years and over. European Journal of Obstetrics, Gynecology and Reproductive Biology, v.25, n. 2, p.1150120, 1987.
22- EKBLAD, U.; VILPA, T. Pregnancy in women over forty. Annales Chirurgiae et Gynaecologiae, v.208, p.68, 1994. (Suplemento).
23- PRYSAK, M.; KISLY, A. Age greater than trirty-four years is an independent pregnancy risk factor in nuliparous women. Journal of Perinatology, v.17, n.4, p.296-300, 1997.
24- FRETTS, R. C. Maternal age and fetal loss. Older women have increased risk of unexplained fetal deaths. British Medical Jornal, v.322, n. 7283, p.430, 2001.
25- BROOK, D.; GOSDEN, R.; CHANDLEY, A. Maternal aging and aneuploid embryos-evidence from the mouse that biological and not chromological age is the important influence. Human Genetic, v.66, p.41, 1984.
26- BUEHLER, J. W. et al. Maternal mortality in women aged 35 year or older: United States. Journal of the American Medical Association, v.255, n. 1, p.53-57, 1986.
27- KIRZ, D. S.; DORCHESTER, W.; FREEMANN, R. K. Advanced maternal age: the mature gravida. American Journal of Obstetrics and Gynecology, v.152, n. 1, p.7-12, 1985.
28- MESTMAN, J. H. Outcome of diabetics screening in pregnancy and perinatal morbidity in infants of mothers with mild impairment glucose tolerance. Diabetes Care, v.3, p.447,1980.
29- MESTMAN, J. H. Outcome of diabetics screening in pregnancy and perinatal morbidity in infants of mothers with mild impairment glucose tolerance. Diabetes Care, v.3, p.447,1980.
30- REID, D. E. A textbook of obstetrics. Philadelphia: W.B. Saunders. , 1962.

Veja mais