Drauzio Varella conquistou um espaço na literatura brasileira ao dar voz aos presidiários em Estação Carandiru. Mas sua atenção para a condição humana vai muito além do universo fechado de uma penitenciária. A Teoria das Janelas Quebradas traz uma amostra dos interesses do médico oncologista que há muito tempo superou as paredes de seu consultório para penetrar no mundo amplo da cidadania.
Para começar, muitas crônicas têm o delicioso tom de conversa de botequim. Nelas, Drauzio demonstra mais uma vez seu domínio da narrativa curta, criando em traços rápidos uma situação e concluindo de forma imprevisível.
São histórias de traições amorosas reveladas por homens simples, que o autor conta sem fazer julgamentos de valor, mas com a graça, a simpatia e a compaixão que costumam caracterizar seus escritos. Como quando um marido diz à mulher, furiosa: “Meu amor, não leve a mal, foi um momento de luxúria”.
Outras são episódios cômicos da vida de carcereiros e prisioneiros cuja narrativa recupera o linguajar típico deles. Como quando Luizão explica a hostilidade de um funcionário do presídio: “Meu jeito humano de ser feria a sensibilidade dele”. Mas, se o doutor não critica seus personagens, por mais adúlteros ou bandidos que sejam, ele certamente fica indignado com os males causados, por exemplo, pela corrupção em geral e pela indústria do cigarro. Para as mazelas sociais, Drauzio não tem meias palavras.
Em vários textos, assume uma postura fortemente crítica, ou busca desmitificar ideias falsas, como a de que o pensamento cura ou provoca doenças, ou que precisamos normalmente de suplementos de vitaminas, ou ainda que a dor purifica. Em outros, procura transmitir informações científicas novas, e o faz na linguagem simples que todo médico deveria utilizar ao falar com seus pacientes. E, de repente, surpreende o leitor ao voltar seu olhar comovido para a inesperada presença de tantos sabiás e outros pássaros numa metrópole como São Paulo. Para o dr. Drauzio Varella, a coisa mais importante é a vida, em todas as suas formas.