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Dengue: como saber se é mesmo um agente de combate a endemias na minha porta?

O medo e a desinformação fazem com que muitas pessoas recusem as visitas dos agentes de combate à dengue. Saiba como garantir que a pessoa na sua porta é mesmo um profissional de saúde.
Publicado em 26/05/2023
Revisado em 25/05/2023

O medo e a desinformação fazem com que muitas pessoas recusem as visitas dos agentes de combate à dengue. Saiba como garantir que a pessoa na sua porta é mesmo um profissional de saúde.

 

Os agentes tocam a campainha, se identificam e pedem permissão para ver se existe algum foco do Aedes aegypti dentro da residência. Por desconhecimento ou desconfiança, muitas pessoas se recusam a deixar esse profissional entrar. Quando o período de calor e chuvas chega, o mosquito então se prolifera e os casos de dengue aumentam.

Essa é a dura realidade enfrentada pelos agentes de combate a endemias (ACE), também conhecidos como agentes de combate à dengue, agentes ambientais ou agentes de zoonose. Apesar do seu papel essencial na prevenção da doença que assombra o Brasil desde o século 19, grande parte da população se recusa a recebê-los dentro de casa.

 

O que faz um agente de combate a endemias?

“Nós trabalhamos na prevenção e no combate das arboviroses, como chikungunya, leptospirose, zika, doença de Chagas e, evidentemente, a dengue, que é o nosso foco principal”, explica Luís Cláudio da Saúde, presidente da Federação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às Endemias do Brasil, a Fenasce.

Na prática, isso significa que é responsabilidade de um ACE:

  • Realizar inspeções em possíveis focos do mosquito, como terrenos baldios, caixas d’água, calhas, telhados e interior das residências;
  • Aplicar larvicidas e inseticidas quando necessário;
  • Orientar a população sobre a prevenção e controle das arboviroses;
  • E fazer o recenseamento de animais.

 

Como funciona a visita de um agente?

Quando esse profissional bate na porta de um morador, o seu principal objetivo é trabalhar em conjunto com a população para evitar a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya. 

Em geral, a visita segue um roteiro:

  1. O agente, uniformizado e com o crachá em mãos, se identifica e explica os objetivos da vistoria. Ele pergunta se o morador permite que ele entre na residência e o acompanhe por todos os cômodos;
  2. Começando pelo quintal, o ACE verifica todos os espaços com atenção, principalmente calhas, árvores, muros, caixas d’água e outros reservatórios de água;
  3. O agente pode orientar que o morador remaneje ou elimine recipientes que acumulam água. Se isso não for viável, o ACE deverá tratar os recipientes com larvicida;
  4. Dentro do imóvel, o agente deve ser acompanhado pelo morador em cada um dos cômodos. Se algum possível foco de proliferação do mosquito for identificado, ele irá dar dicas de como evitar que isso aconteça;
  5. Se o ACE perceber que algum dos moradores está com sintomas da doença, ele poderá encaminhá-lo para a unidade de saúde mais próxima;
  6. Ao fim, o agente registra os dados da visita no formulário de campo e assina uma ficha de visita domiciliar. Ele também informa sobre o prazo previsto para novas visitas.

“O trabalho é minucioso na iminência de eliminar o foco do mosquito. A visita do agente de combate a endemias verifica todos os depósitos, em especial os rasteiros. O Aedes aegypti tem uma facilidade muito grande de se proliferar, mesmo em vasilhas pequenas e com pouca água. Por mais que sejam recipientes que o morador tem mais facilidade de cuidar, é onde a gente mais encontra”, conta Luís Cláudio.

Veja também: Não deixe a dengue entrar em casa | Coluna

 

Como saber se é mesmo um agente que está pedindo para entrar?

Apesar dessas visitas ajudarem a proteger a casa e toda a vizinhança contra o mosquito da dengue, muitos moradores impedem a entrada dos ACEs por medo de que possam ser pessoas mal-intencionadas se passando por um agente.

De acordo com o presidente da Fenasce, todo agente de combate a endemias deve estar uniformizado e com crachá de identificação. Mas, para se certificar que ele é mesmo quem diz ser, a principal dica é entrar em contato com a Unidade de Vigilância em Saúde do seu bairro e conferir a identidade do agente.

Outra dica, segundo Luís Cláudio, é ficar atento às campanhas feitas na sua região. Geralmente, os agentes de combate a endemias atuam em mutirões durante um período específico, por isso, a equipe fica conhecida no bairro.

“E os agentes não podem nunca adentrar a casa sozinhos. Eles têm que sempre estar acompanhados pela pessoa que os recebeu. Se, por algum motivo, ela não puder, eles não entram e marcam a visita para outro dia. Isso é uma questão de segurança e também de estratégia, porque é importante que o morador veja o que está fazendo certo ou errado”, lembra o ACE.

 

O agente comunitário de saúde também pode fazer essas visitas?

Por mais que o trabalho dos ACEs seja fundamental, eles ainda são poucos para cobrir toda a extensão do país. Os agentes comunitários de saúde (ACS), aqueles que trabalham na UBS do bairro e moram na vizinhança, não executam a mesma função, mas também podem ajudar na prevenção da dengue e outras arboviroses.

Rodrigo Rodrigues, presidente do Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde de São Paulo (Sindacs-SP) explica que o ACS é o profissional responsável por criar um vínculo com os moradores da região e levar a promoção em saúde até as famílias, checando pacientes com doenças crônicas, alertando sobre campanhas de vacinação, acompanhando se os tratamentos têm sido feitos da maneira correta, entre outras ações. Enquanto isso, o ACE faz um trabalho mais educativo e fiscalizatório, focado nas arboviroses.

“Mas o ACS não vê isso? Vê. Está dentro do caráter da nossa visita domiciliar ter o olhar de toda a casa. Se a gente espera que esses pacientes cheguem doentes, a gente já sabe o que acontece: vamos apenas minimizar as mortes. Então, a gente também faz esse trabalho de orientação. A própria vigilância nos avisa sobre as regiões mais sujeitas à dengue. Os últimos picos da doença fizeram com que a gente tivesse uma atenção maior dentro dessa área”, explica Rodrigo.

A identificação dos ACS é mais fácil, já que, diferentemente dos ACE, eles precisam morar dentro do território em que atuam. Isso faz com que sejam conhecidos e aceitos na vizinhança sem tanta resistência. No entanto, se ainda houver dúvidas, o morador pode ligar para a UBS do bairro ou ainda marcar a visita para ser realizada no posto de saúde. 

“O agente também não vai ser aquele cara insistente. Como ele está ali permanentemente, pode voltar outro dia”, destaca o presidente do Sindicato.

Veja também: Como a dengue foi de doença erradicada para endêmica no Brasil

 

Como se prevenir contra a dengue no período entre as visitas?

No primeiro trimestre de 2023, os casos de dengue no Brasil aumentaram em 43% em comparação ao mesmo período do ano passado. Isso significa que a população precisa reforçar a prevenção ao mosquito mesmo quando não há a visita de um agente de saúde ou de combate a endemias. 

“Nós precisamos muito do apoio da população. Sem isso, as visitas domiciliares não adiantam nada. O agente vai um dia e retorna dali a um mês. Quem tem que dar continuidade ao trabalho de prevenção é o morador”, ressalta Luís Cláudio.

Para isso, as principais orientações são:

  • Manter caixas, tonéis e barris de água bem tampadas;
  • Não jogar lixo em terrenos baldios;
  • Manter garrafas de vidro ou plástico com a boca para baixo;
  • Não deixar a água da chuva se acumular na laje ou em pneus;
  • Encher os pratinhos ou vasos de planta com areia até a borda;
  • Limpar as calhas com frequências;
  • Conferir e orientar os vizinhos sobre as precauções acima.

Veja também: Conscientização e prevenção completa são fundamentais para controlar os problemas causados pela dengue no Brasil

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