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Como a dengue foi de doença erradicada para endêmica no Brasil

O mosquito Aedes aegypti foi erradicado em 1955, mas a falta de cuidados preventivos por parte da população e das autoridades fez com que ele voltasse ao território nacional.
Publicado em 17/11/2021
Revisado em 17/11/2021

O mosquito Aedes aegypti foi erradicado em 1955, mas a falta de cuidados preventivos por parte da população e das autoridades fez com que ele voltasse ao território nacional.

 

O Aedes aegypti é o mosquito transmissor dos vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela. O nome vem de “odioso do Egito”, região do continente africano onde estima-se que ele tenha feito as suas primeiras vítimas. No século 17, período das Grandes Navegações, o mosquito se espalhou pelo mundo através de navios que traficavam escravos, já que os ovos do mosquito podem resistir por até um ano sem contato com a água.

Desde então, países de clima tropical e subtropical foram os mais atingidos pelas doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, principalmente a dengue. As primeiras epidemias da doença aconteceram no Caribe, Estados Unidos, Colômbia e Venezuela, tornando-se um problema global a partir da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Hoje, a dengue é endêmica em mais de 110 países, inclusive no Brasil. Mas como chegamos a essa situação?

 

O mosquito: da erradicação às novas epidemias

Os primeiros sinais de que o Aedes aegypti havia desembarcado no Brasil foram os relatos de dengue e febre amarela entre o final do século 19 e o início do século 20.

Em 1908, a população do Rio de Janeiro sofreu com uma epidemia de febre amarela. Ainda sem saber muito bem como a transmissão da doença ocorria, o médico sanitarista Oswaldo Cruz, então responsável pelo Departamento Nacional de Saúde Pública, apostou no combate ao mosquito. Por meio de ações polêmicas, como o uso de brigadas militares para percorrer as casas e eliminar possíveis criadouros, ele conseguiu conter a doença no país.

Em 1955, as medidas de controle da febre amarela levaram à erradicação do Aedes aegypti no Brasil. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) também uniu esforços para eliminá-lo de outros países americanos, mas a campanha não chegou ao fim. Logo, o mosquito voltou a se espalhar e retornou ao território brasileiro.

“Com a globalização, ficou ainda mais difícil controlar a entrada do vetor, especialmente considerando que o mosquito se adapta muito bem ao clima do nosso país”, explica a dra. Rosana Ritchmann*, médica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

Algumas das características das cidades brasileiras agradam bastante o Aedes aegypti, que prefere circular durante o dia em regiões urbanas, com clima úmido, chuvoso e quente. Isso porque o acúmulo de água ajuda a fêmea do mosquito, responsável pela transmissão, a encontrar locais para depositar seus ovos, e as temperaturas altas aceleram o desenvolvimento das larvas em mosquitos adultos.

Hoje, o inseto pode ser encontrado em todos os estados do país. Entre as doenças transmitidas pelo mosquito, a dengue é uma das que mais ameaçam a população brasileira.

Veja também: Por que é importante prevenir-se contra a dengue e outras arboviroses na pandemia? | Live

 

Como a dengue se comporta no Brasil?

Existem quatro tipos de vírus da dengue. A pessoa infectada desenvolve imunidade apenas contra o vírus que a contaminou e permanece sob o risco de ter a doença outras vezes. A gravidade de cada caso também varia, e a doença pode ser assintomática, causar sintomas como febre alta, erupções cutâneas, dores musculares e articulares ou até levar à morte.

“Não necessariamente os mesmos vírus circulam no mundo inteiro. Mas a gente pode ter circulação de dois ou mais vírus ao mesmo tempo no mesmo local, como é o caso do Brasil”, afirma a dra. Rosana. Atualmente, os quatro tipos de dengue estão presentes no território brasileiro.

No país, a dengue ocorre em ciclos endêmicos, com epidemias intensas a cada quatro ou cinco anos. Como explica a infectologista, diferentemente de outros países, a doença no Brasil acomete mais adultos do que crianças. Entre 2000 e 2010, uma pesquisa publicada na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases mostrou que a dengue também vem evoluindo para quadros mais graves com o passar do tempo, provocando um maior número de internações.

Em 2019, o Brasil somou mais de 1,5 milhão de registros da doença. Em 2020, foram quase 1 milhão de casos prováveis, atingindo principalmente o Centro-Oeste, uma das regiões mais quentes do país. A queda, no entanto, não significou avanço. No início deste ano, locais como a cidade de São Paulo e o estado do Acre viram o número de casos explodir em meio ao avanço da covid-19.

“Durante a pandemia [de covid-19], a gente quase não falou de outras doenças. Acredito que nós tivemos uma subnotificação, porque estávamos muito focados no coronavírus e alguns sintomas dessas doenças podem se confundir. As ações para eliminar os focos de mosquito tiveram que ser interrompidas e o mesmo aconteceu com as campanhas de conscientização. Isso favorece para que a gente tenha, mais uma vez, um verão complicado”, opina a dra. Rosana.

Veja também: Em meio à pandemia, é preciso manter os cuidados no combate à dengue

 

Ainda é possível erradicar a dengue?

Nos últimos anos, surgiram algumas tecnologias capazes de ajudar no combate ao mosquito da dengue e, de acordo com a dra. Rosana, são elas: desenvolvimento de mosquitos geneticamente modificados, com o objetivo de alterar o DNA das próximas gerações do inseto e eliminar as fêmeas vetores de doenças; a implantação da bactéria Wolbachia nos mosquitos, o que serviria para inibir a transmissão dos vírus; e elaboração de vacinas, ainda em fase de estudo.

Aliadas, essas estratégias poderiam, futuramente, eliminar o Aedes aegypti do Brasil. Mas enquanto isso não acontece, é preciso manter os cuidados de prevenção contra o mosquito, especialmente durante a temporada de chuvas.

“O verão está chegando e, depois de quase dois anos de pandemia, as pessoas estão saindo mais e produzindo mais lixo. Corremos o risco de ter um número maior de mosquitos circulando e disseminando o vírus”, alerta a infectologista.

Para se prevenir, o primeiro passo é eliminar todos os locais com água limpa parada, como pratos de vasos de plantas, pneus, garrafas plásticas, calhas, cestas de lixo, entre outros. Além disso, o uso de inseticidas, larvicidas e repelentes também é essencial para uma proteção completa, pois eles eliminam e repelem os mosquitos transmissores de doenças. Os larvicidas devem ser aplicados em focos de água parada para eliminar as larvas do mosquito evitando que ele se torne adulto, e os repelentes corporais devem ser usados diariamente para evitar a picada dos mosquitos.

É preciso que cada uma faça sua parte, e incentive seus vizinhos a fazer também, pois a atuação em conjunto com a comunidade é muito importante para a prevenção de todos.

No âmbito governamental, a dra. Rosana destaca a necessidade de políticas públicas de saneamento básico e campanhas de conscientização durante o ano todo.

“Quando os registros de dengue sobem é que a gente começa a falar do assunto. Precisamos de uma ação mais preventiva e menos reacional frente às doenças infecciosas em nosso país”, pontua.

No Brasil, uma das principais ações nesse sentido é realizada pela Cruz Vermelha Brasileira (CVB) em conjunto com SBP. Desde 2017, a associação filantrópica e a marca de inseticidas e repelentes trabalham ao longo de todo o ano no movimento “Juntos Contra o Mosquito” com o objetivo de levar conscientização sobre os cuidados preventivos contra o mosquito, doações de produtos e mutirões de limpeza às populações mais afetadas pela dengue.

 

Conteúdo desenvolvido em parceria com a marca SBP https://www.sbpprotege.com.br/

*A dra. Rosana Richmann não possui vínculos com a SBP, oferecendo apenas consultoria para a matéria.

Veja também: Conscientização e prevenção completa são fundamentais para controlar os problemas causados pela dengue no Brasil

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