Vacinação e diagnóstico precoce são fundamentais para conter surtos de doenças respiratórias que podem evoluir para quadros graves como a SRAG.
Hospitais públicos e privados no Brasil têm registrado um aumento preocupante no número de internações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Os dados mais recentes apontam para um crescimento nos atendimentos, sobretudo entre crianças e idosos, e já levaram diversas cidades a decretarem estado de emergência, como Belo Horizonte, Florianópolis e Campo Grande.
Segundo o dr. Elie Fiss, pneumologista do Hospital Sírio-Libanês, “o principal responsável pelo aumento recente dos casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil é o vírus influenza, tanto o tipo A quanto o tipo B”. Ele acrescenta que, “embora também tenham sido registrados alguns casos relacionados ao coronavírus, o predomínio nas últimas semanas é, sem dúvida, do vírus influenza.”
O dr. Elie também destaca que “é possível observar esse cenário em várias cidades, que decretaram estado de emergência em razão do aumento das internações, especialmente entre crianças e idosos. Vale destacar que, nesse período, o vírus sincicial respiratório (um agente infeccioso comum que causa infecções respiratórias, especialmente bronquiolite e pneumonia em bebês e idoso) também tem acometido muitas crianças.”
A SRAG é definida pela presença de falta de ar, frequência respiratória aumentada e saturação abaixo de 94%, conforme explica o dr. André Bon, infectologista do Hospital Brasília, da Rede Américas. Ele destaca que a condição pode ser causada por diferentes agentes: “desde patógenos bacterianos que causam pneumonias comunitárias comuns, até patógenos virais, que são os mais frequentes nessa época do ano.”
Entre os vírus mais frequentemente associados à SRAG neste período, o dr. André cita o influenza, o vírus sincicial respiratório (VSR) e a covid-19. “Saber qual é a etiologia, a causa específica da SRAG, é importante para definir o tratamento específico quando existe”, reforça.
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Tratamento
No caso do influenza, há tratamento disponível. “Recomenda-se iniciar os antivirais preferencialmente nas primeiras 24 a 48 horas após o início dos sintomas”, afirma o dr. Elie. Já o dr. André lembra que “existe tratamento específico contra a influenza e existe tratamento específico contra a covid-19 que leve à SRAG”, mas ressalta que, para outras doenças virais causadoras da síndrome, o tratamento é apenas de suporte.
Esse suporte, segundo o dr. Elie, pode incluir “ventilatório, com ventilação não invasiva ou intubação, se necessário, além de antibióticos, quando há comprometimento secundário, e, em situações muito graves, pode-se considerar o uso de corticoides com cautela”. O dr. André complementa: “a utilização de oxigênio nas suas mais diferentes formas, desde cateteres nasais até ventilação não invasiva ou ventilação mecânica, são uma forma de suporte para a entrega de oxigênio para o pulmão do indivíduo.”
Vacinação
A principal forma de prevenção é a vacinação. “Tanto para a influenza quanto para a covid-19, a imunização é fundamental, pois é a única maneira de reduzir significativamente o risco de desenvolver a SRAG”, afirma o dr. Elie. Sobre o vírus sincicial respiratório, o dr. André reforça: “já temos disponível a vacinação para ser feita nas gestantes, para evitar o desenvolvimento de bronquiolite no bebê pequeno ao nascer, mas também nos idosos, para evitar as formas de pneumonia graves levando à SRAG nos idosos”. Além disso, especialistas indicam o uso de mascaras em unidades de saude, locais de maior aglomeração de pessoas e em caso de aparecimento de sintomas.
A identificação rápida dos sintomas também é essencial para o sucesso do tratamento. O dr. André explica: “quando iniciar com febre, coriza, dor no corpo, é importante que a pessoa procure atendimento médico para que ela possa fazer o diagnóstico adequado e, diagnosticando qual é a etiologia daquele episódio, possa tratar precocemente evitando a evolução das formas graves.”
Os dois especialistas ressaltam os grupos mais vulneráveis à SRAG. O dr. Elie observa que “são aqueles com maior suscetibilidade a infecções e maior risco de evolução para quadros graves, especialmente crianças e idosos”. O dr. André concorda e detalha: “as crianças muito pequenas, especialmente abaixo de um ano de idade, os idosos acima de 60 anos e com risco incremental ao passar de cada década, os pacientes imunossuprimidos e os pacientes pneumopatas fazem parte de um grupo que em comum possui risco de evoluir para a SRAG.”
Estado de alerta
De acordo com o ultimo boletim da Fiocruz, diante da alta de internações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), diversas cidades e estados brasileiros entraram em estado de alerta, com 15 das 27 unidades da Federação apresentando crescimento nos casos, especialmente entre crianças pequenas devido ao vírus sincicial respiratório (VSR).
Capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Manaus e Recife registraram incidência elevada e tendência de crescimento. Embora haja sinais de desaceleração em algumas regiões, a situação segue crítica em muitas localidades, como Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Ceará, onde os casos entre jovens, adultos e idosos, muitas vezes ligados à influenza A, também estão aumentando. A situação preocupa ainda em estados como Piauí e Pernambuco, onde os casos de SRAG entre crianças menores de 2 anos continuam em alta, mesmo sem alertas gerais.
No momento, Quatorze capitais apresentam incidência de SRAG em nível de alerta, risco ou alto risco, com sinal de crescimento na tendência de longo prazo. Elas são: Belo Horizonte (MG), Boa Vista (RR), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Manaus (AM), Natal (RN), Porto Alegre (RS), Porto Velho (RO), Recife (PE), Rio De Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Teresina (PI) e Vitória (ES).
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