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Imunologia

Vitamina C previne gripe e resfriados? 

Publicado em 16/04/2025
Revisado em 15/04/2025

A vitamina C não reduz de forma significativa a incidência de resfriados e infecções, mas pode ajudar a fortalecer a imunidade; entenda.

 

“Está gripado? Então toma vitamina C.” Em algum momento da vida, você provavelmente já ouviu essa frase. No entanto, apesar de essa substância ser uma grande aliada do sistema imunológico, não há comprovação científica de que ela seja capaz de prevenir resfriados

Uma meta-análise conduzida pela Cochrane Library – organização internacional sem fins lucrativos dedicada à promoção de decisões em saúde baseadas em evidências – analisou 29 estudos controlados por placebo, envolvendo 11.306 participantes, para avaliar a eficácia de doses de 0,2 g a 1 g/dia na prevenção do resfriado comum. O resultado: não há impacto significativo na incidência da gripe.

“A falha da suplementação de vitamina C em reduzir a incidência de resfriados na população em geral indica que a suplementação rotineira de vitamina C não é justificada”, concluíram os autores do estudo, que foi citado por dois médicos especialistas em imunologia ouvidos pela reportagem.

Então, a vitamina C não ajuda em nada? Não é bem assim.

 

Benefícios da vitamina C contra a gripe

A suplementação pode ser benéfica para indivíduos expostos a períodos curtos de exercício físico intenso, como atletas, explica a dra. Fátima Rodrigues Fernandes, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. “Em algumas situações específicas – como em pessoas que praticam atividades físicas muito intensas, como maratonistas ou militares em treinamento – a vitamina C pode reduzir o risco de resfriado.”

Por quê? O exercício intenso estimula o estresse oxidativo (desequilíbrio entre a produção de radicais livres e a capacidade do organismo de neutralizá-los, causando danos celulares). A vitamina C, por ter função antioxidante, pode, segundo estudos, explicar esse efeito benéfico para esportistas.

O dr. Pietro Henrique Massuda, médico alergista e imunologista do Eco Medical Center, em Curitiba (PR), acrescenta que a vitamina C também pode ajudar a reduzir a duração e a gravidade dos sintomas em pessoas que já estejam resfriadas. “Alguns estudos na revisão (a da Cochrane) mostraram que na suplementação regular de vitamina C em adultos, a duração dos resfriados foi reduzida em 8% (3% a 12%) e, em crianças, em 14% (7% a 21%). A severidade dos resfriados também foi reduzida com a administração regular de vitamina C.” Ou seja, a suplementação não previne, mas pode encurtar a duração do quadro.

Outros estudos analisados na revisão, no entanto, não mostraram efeitos da suplementação de vitamina C na duração e na intensidade dos sintomas.

        Veja também: Gripe e resfriado | Comenta #01

 

O papel da vitamina C

Apesar de não prevenir a gripe, a vitamina C – nome técnico: ácido ascórbico – é um nutriente essencial para o organismo. Além de sua ação antioxidante, ela auxilia as células em diversas funções, como estimular a produção e o funcionamento dos glóbulos brancos, que combatem vírus e bactérias, e contribuir com a barreira epitelial contra patógenos.

Ela também favorece a regeneração de tecidos, colabora na cicatrização e recuperação após doenças e participa da síntese do colágeno – uma proteína presente em tecidos como pele, ossos, tendões, cartilagens, ligamentos e vasos sanguíneos, entre outras funções.

Muitos animais, como cães e gatos, são capazes de sintetizar sua própria vitamina C a partir da glicose. Cerca de 61 milhões de anos atrás, no entanto, alguns mamíferos e primatas – os seres humanos entre eles – perderam essa habilidade porque sofreram uma mutação no gene GLO, responsável pela última etapa de produção da substância, que ficou inativo.

Uma das teorias para essa perda é que nossos ancestrais tinham uma dieta rica em frutas, fontes naturais de vitamina C. Como havia abundância da vitamina nos alimentos, a produção interna se tornou desnecessária, e a mutação que inativou o gene não trouxe prejuízo à sobrevivência – por isso foi mantida ao longo da evolução.

 

Onde encontrar vitamina C? 

De acordo com o manual da Sociedade Brasileira de Nutrologia, a vitamina C está presente em frutas cítricas e folhas cruas, como acerola, laranja, limão, mexerica e maracujá. Além disso, também é possível encontrar o nutriente em vegetais como salsinha, couve, agrião, espinafre e mostarda. 

A dra. Carolina Schmidt, especialista em medicina de urgência e emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein, nutróloga e médica hiperbarista, lembra que a vitamina C é sensível ao calor, à luz e ao oxigênio – o que significa que grande parte do nutriente pode ser perdida durante o cozimento, principalmente em preparações que envolvem temperaturas elevadas e longos períodos de aquecimento, como fervuras e assados.

“Para preservar melhor essa vitamina, algumas estratégias recomendadas são: consumir os alimentos crus sempre que possível, optar por métodos de cozimento mais suaves, evitar o armazenamento prolongado e a exposição à luz e minimizar o contato com a água”, orienta. 

        Veja também: Por que algumas pessoas ficam mais doentes do que outras?

 

Qual a quantidade recomendada de vitamina C? 

A quantidade diária recomendada varia conforme a idade e o sexo, segundo a dra. Fátima. “Para a maioria das pessoas, é possível atingir essa recomendação com uma alimentação equilibrada”, explica. Veja abaixo os valores recomendados por dia, conforme diretrizes do Institute of Medicine e da Anvisa:

Observação: fumantes precisam de mais vitamina C (5 mg extras por dia) porque o tabaco gera mais radicais livres.

 

O que a falta de vitamina C pode causar? 

O dr. Massuda alerta que a deficiência de vitamina C pode comprometer a resposta imunológica, resultando em maior suscetibilidade a infecções. “A deficiência de vitamina C está associada a uma função reduzida de fagócitos (um tipo de célula) e a uma menor capacidade de eliminação microbiana, possivelmente comprometendo a resposta imunológica.”

Segundo ele, a suplementação de vitamina C pode ser indicada em casos de deficiência; para pessoas com baixa concentração plasmática da vitamina; e em subgrupos específicos, como atletas, militares e indivíduos com risco elevado de infecção – a exemplo de idosos e pessoas com comorbidades.

Mas é importante não exagerar. O limite máximo tolerável para adultos é de 2.000 mg por dia, de acordo com a dra. Fátima. “Doses muito altas não são armazenadas: o excesso é eliminado na urina, mas pode causar diarreia, dor abdominal ou formação de pedras nos rins em pessoas sensíveis”, adverte.

        Veja também: Mito ou verdade: ficamos mais doentes quando esfria?

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