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Imunologia

Por que algumas pessoas ficam mais doentes do que outras?

mulher de máscara, com a mão na cabeça, aguardando ser atendida em serviço médico. veja por que há pessoas que ficam mais doentes que outras e o que é resiliência imunológica
Publicado em 09/08/2023
Revisado em 10/08/2023

Estudo aponta que a resiliência imunológica impacta a capacidade do corpo de restaurar as funções imunológicas. Idade, genética e vacinas influenciam a resposta à doença. Veja por que algumas pessoas ficam mais doentes que outras.

 

Todos nós conhecemos alguém que nunca (ou quase nunca) fica doente. Como também pessoas que, frequentemente, estão doentes ou mais suscetíveis a resfriados e gripes. Mas por que algumas pessoas ficam menos doentes do que outras?

Segundo uma nova pesquisa publicada na revista ‘Nature Communications‘, a resposta pode estar em uma característica inata conhecida como resiliência imunológica. O estudo da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, revelou por que há pessoas que adoecem mais do que outras e deu novas pistas sobre o sistema imunológico. Conforme explicação de especialistas em saúde, resiliência imunológica é a capacidade do corpo de restaurar suas funções imunológicas e do organismo de agir frente a determinadas patologias.  

         Veja também: A farsa do aumento da imunidade

A pesquisa avaliou a resistência imunológica de mais de 48 mil pessoas de diferentes idades e detectou que indivíduos com níveis ótimos tinham maior probabilidade de viver mais tempo e de resistir a infecções por influenza e HIV. Os estudiosos alertam que esse nível de resistência imunológica pode influenciar a qualidade e a expectativa de vida.

Novamente, não se trata de ficar doente ou não, mas sim de como as pessoas desenvolvem os sintomas. Infecções, como a síndrome gripal ou outras patologias do aparelho respiratório, não se manifestam exatamente da mesma forma em todas as pessoas. Todos têm uma predisposição diferente e um ambiente imunológico e ambiental extremamente pessoal.

Desde a presença de febre, dor de garganta, dores musculares ou problemas respiratórios, as manifestações sintomatológicas podem ser verdadeiramente múltiplas e dependem dos mecanismos de defesa de cada pessoa. Para isso, é necessário entender como o sistema imunológico atua.

 

O que é o sistema imunológico?

Embora pareça haver uma explicação simples, na prática, o sistema imunológico é bem complexo. É o que explica Demetrius Montenegro, infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI):

“A verdade é que a maioria das pessoas encara o sistema imunológico como um contexto simples: ‘baixou a imunidade, vou ter um quadro maior de infecção’. Não é bem assim. O sistema imunológico é extremamente complexo. Você pode ter alterações no sistema imunológico pontuais e recuperar isso sem trazer grandes consequências, até porque não é apenas um sistema. Existe uma rede de defesa que o organismo tem e ela protege dos mais diversos tipos de infecção”.

Essa rede de defesa é contextualizada por Raquel Stucchi, infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da SBI: “O sistema imunológico funciona como guardiões com o objetivo de nos defender dos agentes externos. Sejam eles microrganismos, ou, eventualmente, agentes físicos ou químicos. Assim como no exército, em que há diferentes soldados com funções diferentes, também é o nosso sistema de defesa. Nós temos vários componentes que atuam de maneira separada com objetivo comum de nos manter saudáveis e de conseguirmos evitar ou neutralizar agressões ao nosso organismo”, sublinha. 

O dr. Demetrius esclarece, por exemplo, que pessoas com imunodeficiência primária infelizmente têm um risco maior de ter algumas infecções devido à falha no sistema de defesa do organismo. Essas pessoas nascem com um sistema imunológico que não funciona adequadamente, portanto elas se tornam mais vulneráveis a infecções. Nesses casos, recomenda-se procurar um imunologista e o tratamento depende da manifestação dos sintomas de cada paciente: “Elas podem sim ter um defeito do sistema imunológico que vai predispor a algum tipo de infecção com mais frequência”, diz.

 

O estilo de vida tem um papel importante 

Não é novidade que o estilo de vida influencia na capacidade do organismo combater doenças. Lais Grehs, nutricionista com especialização em comportamento alimentar e transtornos alimentares pelo Instituto de Pesquisas, Ensino e Gestão em Saúde (IPGS), em Porto Alegre, alerta que a boa alimentação é fundamental para a manutenção da saúde e da imunidade. E recomenda o seguinte:

“Alimentos in natura ou minimamente processados devem compor a nossa alimentação. Alimentos industrializados, processados e ultraprocessados prejudicam a nossa saúde, baixam a imunidade e nos deixam mais suscetíveis a doenças”.

Além disso, manter uma rotina saudável, com horários adequados para dormir e despertar, sono de qualidade e exercício físico regular, faz parte dos pilares para a manutenção da saúde e, consequente, da boa imunidade. A nutricionista também comenta:

“O sono é importante para a restauração do sistema imunológico e favorece a produção das células de defesa. Não é à toa que quando estamos doentes ficamos mais cansados e dormimos mais. É o seu corpo dando sinais para você descansar e ele poder combater a doença e se recuperar”.

A explicação, para a especialista, é que a melatonina, hormônio que regula o sono, apresenta uma atividade anti-inflamatória e antioxidante. Já o exercício físico proporciona um aumento dos linfócitos, que são as células de defesa do corpo.

Ela observa que, ao ficar doente com frequência, é importante avaliar como está a alimentação, o sono e a prática de exercícios físicos: “Ao ajustar esses pilares, já temos uma grande melhora da imunidade”, indica.

O estilo de vida saudável também é recomendado pelo dr. Demetrius: “A relação do homem com ambiente e estilo de vida é extremamente importante nesse contexto da relação com as doenças infecciosas”, indica.

O infectologista recorda que, durante a pandemia de covid-19, as pessoas entenderam a importância de estar bem de saúde, porque diminuía os riscos de ter mais complicações: “Uma pessoa com diabetes precisa ter um hábito de vida saudável. Não só por conta dos riscos da doença, mas também a relação com as doenças infecciosas”.

O dr. Demetrius salienta que pessoas com diabetes têm predisposição maior a apresentar infecções, principalmente relacionadas à pele. “Se um furúnculo não for muito bem tratado, por exemplo, pode evoluir para um quadro grave de infecção da parte muscular e pode comprometer o osso também”, alerta. “Mostrando, mais uma vez, a relevância da relação da pessoa com seus hábitos de vida”, complementa.

        Veja também: Sedentarismo é um dos principais fatores de risco de doenças não transmissíveis

 

Que fatores ambientais influenciam as doenças alérgicas? 

O mesmo ocorre com fatores ambientais. A dra. Raquel esclarece que temperaturas extremas podem levar a processos irritativos das vias superiores, desde o nariz até a traqueia. As alterações climáticas e as características de determinada região podem facilitar a manutenção de alguns microrganismos, como pode também levar a uma irritação da via aérea superior, aumentando o risco de microrganismos acessarem a região e causarem infecções.

“Os vírus das gripes são sazonais, eles circulam mais no outono e inverno. Então o ambiente mais frio é um ambiente que esse vírus gosta mais. Temos maior risco nessas estações, e por isso a vacinação é feita no começo do outono, para que as pessoas tenham proteção quando o vírus estiver circulando”, ensina.

 

A importância das vacinas

Se o estilo de vida é importante, as vacinas desempenham outro papel fundamental, pois são medidas que reduzem o risco de doenças.

“As vacinas entram como se fossem um treinamento especial para os nossos soldados que são os componentes do nosso sistema imune, tornando-os mais preparados para reagir a determinados microrganismos”, explica a dra. Raquel.

De acordo com a especialista, as vacinas fazem com que o nosso sistema de defesa produza anticorpos, células para nos defender contra os microrganismos que estão ali contidos no imunizante. Cada vacina tem sua característica especial em relação à eficácia e proteção, assim como também varia o número de doses necessárias. 

O dr. Demetrius relembra, neste sentido, a pandemia de covid-19. Afinal, graças à vacina foi possível retomar as atividades habituais. Porém, ele alerta que a taxa vacinal no Brasil está baixa. De acordo com o Ministério da Saúde, a média de cobertura vacinal no país caiu de 97%, em 2015, para 75%, em 2020. “É o caso do tétano: ainda existem pessoas com a doença, sendo que ela pode ser evitada com a vacina”, lamenta. 

Com esses dados, o médico faz um alerta: “Nós estamos muito preocupados por conta dos baixos índices de imunização. Esperamos conseguir melhorá-los para o país voltar a ser referência no mundo quando se fala em vacinação”.

        Veja também: Vacinação infantil | Tira-dúvidas com especialista #15

 

Sobre a autora: Angélica Weise é jornalista e colabora com o Portal Drauzio Varella. Tem interesse por assuntos relacionados à saúde mental, atividade física e saúde da mulher e criança.

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