Vacinação infantil | Tira-dúvidas com especialista #15

Drauzio conversa com a pesquisadora Natalia Pasternak, sobre a baixa adesão a vacinação infantil. Por que alguns pais não estão vacinando seus filhos?

Drauzio Varella é médico cancerologista e escritor. Foi um dos pioneiros no tratamento da aids no Brasil. Entre seus livros de maior sucesso estão Estação Carandiru, Por um Fio e O Médico Doente.

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Por que alguns familiares preferem não vacinar seus filhos? 

 

Drauzio conversa com Natalia Pasternak, pesquisadora Adjunta em Columbia University, presidente do Instituto Questão de Ciência e integrante da Equipe Halo, sobre a baixa adesão à vacinação infantil.

Conteúdo produzido em colaboração com a Equipe Halo, iniciativa do Verificado da ONU Brasil #EquipeHalo #TeamHalo

Olá, amigos, neste momento da Covid-19, ainda temos muitas informações contraditórias. Durante o mês de maio e junho, junto à equipe Halo, uma iniciativa global que faz parte do Projeto Verificado da ONU, nós vamos fazer algumas das perguntas mais buscadas atualmente para especialistas que podem nos oferecer as informações mais recentes e confiáveis sobre a Covid-19.

Hoje, vamos discutir a vacinação infantil, um assunto que tem trazido muito temor e incerteza. Em 2021, tivemos uma queda histórica na imunização de crianças e adolescentes, a menor quantidade de crianças e adolescentes vacinados desde 1987, e esse não é um fenômeno só brasileiro. Vamos conversar com a Natalia Pasternak, microbiologista e divulgadora científica brasileira, que pode nos explicar o porquê desse movimento antivacina e outras questões correntes sobre a vacinação em crianças.

 

Dr. Drauzio Varella: Natalia, por que o movimento antivacina aumentou globalmente? Por que algumas famílias não querem mais imunizar os seus filhos?

Dra. Natalia Pastenark: Drauzio, o movimento antivacinas é um movimento extremamente organizado e e lucrativo. Um trabalho feito pelo Centro de Controle de Ódio Digital, que é uma ONG americana, identificou 12 perfis, só 12, que são responsáveis por mais de 65% do conteúdo antivacinas, disseminado no Facebook e no Twitter em inglês. Esses 12, eles estão ganhando dinheiro há muito tempo e muito mais com a pandemia. Então, disseminar desinformação dá lucro.

Somando só o que eles ganham, só de newsletter, sem contar o que eles ganham de clique de vídeo ou venda de produtos – porque eles vendem livros, dvds, vendem cursos –, só de newsletter, alguns desses influenciadores conseguem ganhar até 2,5 milhões de dólares por ano, 2,5 milhões de dólares por ano só com a newsletter. Imagine o que eles lucram com o resto dos produtos e cliques, remuneração das mídias. Então, é extremamente lucrativo vender desinformação e alguns grupos perceberam isso.

Então, um movimento que nasce já com interesses bastante duvidáveis, e o movimento antivacinas é muito antigo, mas o movimento antivacinas organizado, ele é mais recente e ele começa realmente a se intensificar em países onde as mídias sociais têm uma presença muito grande e é muito fácil conseguir remuneração por isso.

Em relação ao que isso provoca nas pessoas, a hesitação vacinal, ela não é resultado só da desinformação, tem outros fatores que atrapalham, como, por exemplo, a conveniência, o acesso às vacinas, a complacência, o fato de que as doenças infecciosas já não circulam há tanto tempo, que as pessoas esquecem o que que é uma criança com pólio, com sarampo, então, acham que não precisa.

Mas a desinformação, ela age na questão da confiança que as pessoas têm nos governos, nas autoridades de saúde, nas agências, nas empresas multinacionais que fabricam as vacinas, na própria ciência, e o movimento antivacinas explora justamente as mães. Então, desse mesmo trabalho do Centro de Controle de Ódio Digital, eles conseguiram identificar que, desses 12 perfis e mais alguns que eles estudaram, a maior parte do conteúdo antivacinas é direcionado para mães especificamente, tentando mexer com a responsabilidade, com a culpa delas.

Então, imagina que as mães, em geral, num mundo que ainda é bastante machista, são responsáveis pelas decisões de saúde da família. Então, é a mãe que leva no pediatra, é a mãe que leva pra vacinar, toda a responsabilidade tá nas costas dela e, de repente, ela se vê num mar de desinformação, que é direcionado justamente pra ela, colocando a dúvida, semeando a dúvida, dizendo: “Ah, você tem certeza que você vai vacinar. Olha aqui essa criança com sequela”, e eles colocam fotos. “Olha aqui essa criança com autismo. Você vai fazer isso com o seu filho? A decisão é sua, hein.” E toda a desinformação, então, é direcionada pra elas, e obviamente isso abala muito, dá muito medo. Muitas vezes, são mães jovens, é primeiro filho, e elas ficam se sentindo responsabilizadas por essa decisão.

Outra coisa que acontece é que a gente tem um mecanismo psicológico, e, claro, isso é explorado na relação com as mães, que é o viés de inação. Então, não fazer sempre parece mais confortável do que fazer. Se eu não vacino e a criança ficou doente, foi a vontade de Deus, mas, se eu vacino e acontece alguma coisa, fui eu que fiz, o que é completamente errado porque não vacinar também é uma escolha, e uma escolha que expõe a criança a doenças que podem ser fatais. Mas a gente tem, isso chama em psicologia viés de inação. Então, como você vê, né, Drauzio, é um movimento bem cruel.

 

DV: Natalia, você falou em hesitação vacinal. Qual a diferença entre hesitação vacinal e negacionismo?

Dra. Natalia: Hesitação vacinal é justamente o que faz as pessoas não se vacinarem. A hesitação vacinal, definida por trabalhos da Organização Mundial da Saúde, se baseia no que a gente chama dos 3 Cs, então, é confiança, complacência e conveniência.

Confiança é o que a gente tava falando, é como as pessoas se sentem em relação às vacinas, o que que elas acreditam, e isso vai dar pra elas a motivação de vacinar ou não.

A complacência é aquele sentimento de que: “Ai, será que precisa mesmo? Não é exagero? Essas doenças já não circulam aí. Nunca vi criança com sarampo, nunca vi criança com pólio, eu não vou vacinar. E, além de tudo, se eu tiver uma vida natural e com alimentos saudáveis e fazendo exercício físico, a criança vai ter um sistema imune perfeito e não precisa de vacinas.” Então, aí, entra a complacência, essa coisa do “ah, não é necessário”.

E a conveniência, que aliás é geralmente muito negligenciada nesses estudos de hesitação e costuma ser o mais importante. Porque existe o problema da confiança, da desinformação. Existe o problema da complacência. Mas, se não tem vacina disponível, fácil, o posto de saúde é perto da minha casa, em horário comercial ou no horário que eu consiga levar meu filho, ou seja, fora dos horários comerciais, porque a mãe trabalha e geralmente a mãe que tem que levar, então, a conveniência, ela acaba responsável por grande parte das escolhas de não vacinar.

Porque imagina que a pessoa mora há quatro horas do posto de saúde mais próximo, aí, ela vai lá, leva a criança pra vacinar: “Ah, não tem vacina, volta daqui a uma semana”. Ela não volta, ela volta dali a um ano, se ela lembrar. Então, a conveniência é muito importante, e a conveniência passa também por campanhas de vacinação que lembrem às pessoas: “Olha, tá na hora de vacinar, tá na hora de tomar a segunda dose. Vacinou o seu filho pra sarampo, pra pólio? Deu a tríplice?”. Então, as campanhas, elas precisam acontecer e a estrutura precisa existir, senão, não é conveniente pra aquelas pessoas se vacinarem.

Então, a combinação desses 3 Cs é que acaba gerando a hesitação vacinal, e o negacionismo, não, o negacionismo é realmente o movimento antivacinas. Negacionismo é uma mentira programada pra enganar pessoas, é deliberado, não são as pessoas que tão sem tempo, o posto de saúde está fechado no sábado ou não deu pra eu levar, não, é realmente direcionado pra enganar.

Então, a gente costuma fazer essa separação, Drauzio, principalmente porque é muito importante separar quem são os propagadores do negacionismo, que são essas pessoas que tão dentro de um movimento organizado antivacinas e tão lucrando com isso, e quem que são as vítimas. Então as vítimas, a gente fala: “Não, essas pessoas, elas são hesitantes, elas não querem vacinar por algum motivo, mas elas não são negacionistas, não é que elas estão ali achando que realmente a vacina faz mal, elas são vítimas desse movimento”.

E, daí, a gente precisa realmente saber como lidar com essas duas vertentes. Como é que a gente lida com a hesitação vacinal? Consertando aqueles 3 Cs. Então, construindo a confiança, dando a informação adequada, fazendo um trabalho de campanha e de acesso à vacinação, esclarecendo. E como é que a gente lida com os negacionistas? Punindo, porque essas pessoas estão deliberadamente disseminando desinformação, desinformação perigosa, desinformação que pode matar. Então, essas pessoas precisam ser identificadas e punidas.

 

DV: É curioso, Natalia, que a primeira vacina desenvolvida foi contra a varíola no século XVIII, não é, altamente eficaz, eliminou a varíola da face da Terra. Eu nunca soube de ninguém que tomou a vacina antivariólica e teve um problema sério de saúde, não é, mais de 200 anos atrás. De onde vem esse medo das vacinas? Nós podemos dizer, do ponto de vista científico, que as vacinas distribuídas, por exemplo, pelo Programa Nacional de Imunizações são vacinas seguras?

Dra. Natalia: Com certeza, Drauzio. Nós sabemos que todas as vacinas que estão no plano nacional de imunizações, que passaram pelo crivo das agências regulatórias, aqui no Brasil, da Anvisa, elas são seguras, elas foram amplamente testadas, e os testes, os testes clínicos, eles são extremamente rigorosos. Então, quem tem familiaridade com o processo científico sabe que as vacinas são extremamente seguras, quem não tem familiaridade com o processo científico, dentro de um mundo de desinformação, onde, infelizmente, a gente tem episódios históricos de algumas atrocidades feitas por indústrias farmacêuticas no passado, então, isso vai elevando a desconfiança das pessoas.

E, daí, entra o papel realmente do comunicador de ciência de conseguir esclarecer como é o processo científico, de admitir que realmente a gente tem algumas histórias muito tristes no passado e que, por isso mesmo, é tão importante que a ciência se autofiscalize, mostrar que a academia faz isso, a comunidade científica faz isso, existem padrões de ética que precisam ser respeitados, mas que as vacinas que tem no mercado hoje, elas passaram por todos esses processos rigorosos.

Então, a gente tem, sim, a certeza de que elas são seguras e que elas foram amplamente testadas.

 

DV: O que a Organização Mundial da Saúde e as empresas que fabricam vacinas dizem a respeito da vacinação de crianças? Estão absolutamente seguros de que essas vacinas são vacinas que não causam problemas maiores de saúde?

Dra. Natalia: Completamente seguros, Drauzio, porque as vacinas são testadas pra todas as faixas etárias. Então, o mesmo processo rigoroso que acontece quando a gente testa em adultos, acontece quando a gente testa em crianças, e as vacinas têm que ser testadas em crianças antes de serem liberadas.

Existem, algumas, às vezes, algumas diferenças de dosagem, então, tem dosagens especiais pra crianças. Às vezes, o regime de doses é diferente, duas, três doses, pro adulto é um pouco menos. Então, tem diferenças, mas que são justamente testadas nesse mesmo processo, que é um processo de testes clínicos super rigorosos. Então, não tem por que achar que vacinação de criança tem alguma diferença em relação à vacinação de adulto.

Olha quantas vacinas a gente tem no calendário vacinal infantil e há quanto tempo vacina. O senhor mencionou vacina de varíola. Vacina pra pólio, por exemplo, que é uma vacina infantil, a gente já dá há mais de 60 anos, a vacina tríplice viral, a pentavalente, são vacinas todas do calendário infantil que a gente tem aplicado com segurança há muito tempo. As novas vacinas, que chegam agora, por exemplo, a vacina de Covid pediátrica, a vacina de HPV, que não é exatamente infantil, já é mais quase adolescente, passaram pelo mesmo processo de testes clínicos rigorosos dessas vacinas que a gente já usa há muito tempo. Então, não tem por que enxergar qualquer diferença ou ter qualquer medodas vacinas pediátricas.

 

DV: Existem algumas atividades humanas em que não pode haver erro de jeito nenhum, né. Por exemplo, aviação. Não pode cair o avião, são milhares e milhares de voos todos os dias e, quando cai um avião, é uma catástrofe, não é? É um acontecimento muito, muito raro. Em relação às vacinas, eu acho que é a mesma coisa, não é? Não pode uma criança tomar a vacina e passar mal ou alguém tomar a vacina e morrer, ou ter um problema de saúde muito sério, isso não pode acontecer. Que medidas os laboratórios e a própria Organização Mundial da Saúde tomam pra evitar que haja possibilidade de um erro grosseiro?

Dra. Natalia: Drauzio, existe um acompanhamento que precisa ser feito e é feito pelas agências responsáveis pra efeitos adversos de vacinas. Então, qualquer efeito adverso, ele precisa ser reportado, e existem portais específicos pra isso. Qualquer pessoa pode reportar um efeito adverso de vacina, e esses efeitos, principalmente se eles são graves, eles têm que ser investigados.

Agora, é importante lembrar que não é porque alguma coisa aconteceu depois da vacina que ela foi causada pela vacina, por isso que precisa investigar. Então, é preciso ter essa transparência pra que qualquer um possa reportar: “Olha, eu tomei a vacina e cinco dias depois eu tive uma dor de cabeça muito forte”. Então, vai ser investigado? Vai, mas a gente sabe que essa dor de cabeça pode ter sido causada por qualquer outra coisa que não tem nada a ver com a vacina. A pessoa pode tomar a vacina e no dia seguinte cair de bicicleta. Será que teve a ver com a vacina? Pode ser que sim, pode ser que não. Isso precisa ser investigado e, a partir dessa investigação, a gente consegue isolar, então, o que que realmente é efeito adverso da vacina e o que que é coincidência.

E, antes que as pessoas comecem a pensar: “Ah, mas será que é coincidência mesmo?”. Vamos lembrar que a gente tá vacinando milhões de pessoas ao mesmo tempo e que essas pessoas tão levando vida normal. Elas vão ter dor de cabeça, elas vão cair da bicicleta, elas vão se envolver em acidentes, elas podem ter doenças graves, que, de repente, foram diagnosticadas uma semana depois da vacina, como um câncer, um problema cardíaco, e isso provavelmente não tem nada a ver com a vacina, é simplesmente porque nós estamos no meio de uma campanha de vacinação, no caso da Covid, global, com milhões de pessoas sendo vacinadas ao mesmo tempo. Coincidências vão acontecer e, daí, é o trabalho investigativo pra ver se alguma dessas coincidências tem realmente relação com a vacina.

Até agora, o que a gente tem reportado das vacinas de Covid é que nenhuma vacina de Covid causou efeito adverso grave, nenhuma vacina de Covid pediátrica, infantil causou morte de crianças ou qualquer efeito adverso grave em crianças. Então, os efeitos adversos reportados foram investigados e não se encontrou nenhuma relação de causa e efeito, ou seja, que a vacina teria causado aquilo, e isso que é o mais importante. Então, isso dá uma segurança pras pessoas de que “olha, não é assim, liberou a vacina e desencana”. Existe um trabalho de acompanhamento e um trabalho investigativo de efeitos adversos justamente pra que a gente possa se sentir seguro de que essa vacina não está causando nada esquisito.

 

DV: Com crianças, a gente frequentemente administra várias vacinas ao mesmo tempo, não é? No caso específico da Covid, você pode vacinar contra a Covid e contra a gripe ao mesmo tempo? Em segundo lugar, eu nunca discuti que vacina iam me aplicar. Eu, chegava minha vez, ia lá no dia e tomava a vacina que estava sendo oferecida na unidade de saúde. Eu tomei duas doses da AstraZeneca, depois uma dose da Pfizer e depois uma uma dose da CoronaVac. Tem algum problema nessa mistura de vacinas contra a mesma doença?

Dra. Natalia: Então, vamos lá. Primeiro, a questão da gripe. Pode tomar junto, pode tomar no mesmo dia, na mesma hora, não tem problema nenhum. No começo, tavam pedindo pra separar um pouco, pra dar um intervalo de tempo entre a vacina de Covid e de gripe, justamente por causa dos efeitos adversos, pra poder identificar. Se a gente toma as duas de uma vez e depois dá algum adverso, vai ser muito difícil identificar qual vacina que poderia estar relacionada.

Mas hoje, que já tem uma boa pesquisa de quais são os efeitos adversos mais comuns, já não tem mais esse problema, pode tomar no mesmo dia, inclusive, é aconselhável que tome no mesmo dia porque a gente garante que aquela pessoa já sai do posto de saúde vacinada pras duas doenças, não precisa voltar, que é aquele problema da conveniência. Então, a gente tá tornando mais conveniente o processo vacinal, e isso é sempre bom.

Em relação a misturar as vacinas pra Covid, as diferentes vacinas pra Covid, na verdade, é até bom, Drauzio. A maioria dos estudos mostra que o que a gente chama de mix and match, né, você tomar vacinas diferentes, acaba dando uma resposta imune melhor no organismo. Então, não tem problema nenhum fazer um mix and match, pode até ser melhor pra pessoa que tá tomando, e existem algumas recomendações específicas pra idosos, pra que a terceira e a quarta dose, pra quem tomou no começo a CoronaVac, sejam dadas justamente com vacinas diferentes pra melhorar a resposta imune. Então, não é problema, na verdade, é uma boa solução.

 

DV: Existe alguma restrição ou reação à vacinação de crianças contra Covid-19?

Dra. Natalia: Nenhuma, Drauzio, as vacinas pediátricas foram amplamente testadas em crianças, como todas as outras, e não têm nenhuma restrição. Elas podem ser dadas pra idade que elas foram liberadas, devem ser dadas, porque as crianças estão agora em atividade escolar, retomaram as atividades sociais e precisam ser vacinadas, precisam ser protegidas. Então, não tem nenhuma restrição e é importante realmente a gente tranquilizar os pais pra que eles levem as crianças e fazer as campanhas vacinais pra que não tenha tanta inadimplência de segunda dose, que, às vezes, a gente vê que não é realmente má vontade, a pessoa, ela não está desinformada, ela quer vacinar, mas, como não é conveniente, não tem campanha, não tem uma busca ativa, ela acaba deixando pra depois e esquece de completar o regime de doses. Então, é superseguro e precisa ser feito com todas as doses adequadas.

 

DV: Existe alguma vacina contra a Covid que é mais indicada pra crianças e a partir de que idade elas devem ser administradas?

Dra. Natalia: Por enquanto, o que a gente tem de vacina aprovada pro uso em crianças é a da Pfizer, de cinco a 11 anos, e está em fase de aprovação a CoronaVac. Então, logo a gente deve ter mais alternativas. A Moderna também tá com pedido pra aprovação pra crianças menores até do que cinco anos, mas a Moderna até hoje nunca foi comprada pro Brasil, então, fica um pouco distante da nossa realidade.

Então, por enquanto, o que a gente tem é a vacina pediátrica da Pfizer, de cinco a 11, e logo a gente deve ter mais alternativas.

 

DV: Você acha que nós vamos chegar a vacinar crianças com menos idade, crianças, vamos dizer, a partir dos dois anos de idade ou um ano de idade?

Dra. Natalia: Acho que provavelmente, Drauzio. A Moderna tá com um pedido pra vacinação, acho que é de um a cinco, e acredito que a Pfizer deve também logo entrar com outro pedido. Acredito que em breve a gente deve ter, sim, uma condição de vacinar crianças bem pequenas, o que vai ajudar muito a controlar a circulação do vírus e a gente ter tranquilidade também, que são crianças que já frequentam escolinha, têm uma vida social mais ativa. Então, espero que sim.

 

DV: Natalia, você acha que autoridades brasileiras que se colocaram contra a vacinação, que semearam dúvidas a respeito da segurança em crianças e adolescentes, tiveram uma influência tão negativa a ponto de dificultar a vacinação regular das crianças pra outras doenças? Você acha que esse negacionismo vai ter uma repercussão importante na vacinação das crianças contra outras doenças?

Dra. Natalia: É possível, Drauzio. Com o tempo, a gente vai conseguir avaliar essas respostas. As taxas de cobertura vacinal no Brasil pra outras doenças, elas têm caído, mas é importante a gente ressaltar aqueles 3 Cs. Elas não estão caindo só por causa de desinformação e também não estão caindo só por causa dessa desinformação que veio durante a pandemia diretamente das autoridades de governo, semeando a dúvida na questão da segurança das vacinas infantis.

Então, a desinformação é um aspecto, mas o fato é que o Brasil deixou de investir em campanhas de vacinação já há muito tempo pra outras doenças, não só pra Covid. A gente não vê mais aquelas campanhas disseminadas em rádio, TV, campanhas realmente abrangentes, campanhas que trazem as pessoas pra vacinação, que envolvem emocionalmente. Acho que você deve lembrar melhor do que eu, né, Drauzio, quando tinha antigamente os dias nacionais de imunização, e a vacina, ela era muito celebrada, então, vacinar era uma celebração, as pessoas tinham uma ligação emocional, enxergavam a vacina como um direito do cidadão, e as campanhas eram voltadas pra isso, pra lembrar da importância as vacinas, pra lembrar que tem vacina no dia X, no posto tal e as campanhas foram perdendo.

Primeiro, elas perderam esse envolvimento emocional, depois, elas perderam aquela informação do porquê que vacinar é importante e, daí, elas começaram a ser só campanhas informativas: “Olha, vamos vacinar pra pólio nos dias X, no posto tal, na cidade Y”. Mas cadê o porquê que é importante vacinar pra pólio, cadê o envolvimento emocional, cadê o contato com atores da sociedade, como celebridades, líderes religiosos, líderes comunitários? Então, as campanhas, elas foram perdendo a força e até que sumiram, de repente, nem mais a campanha informativa tem direito. Então, é difícil colocar a culpa disso tudo só na desinformação, mas que, com certeza, a desinformação piora isso tudo, certamente, piora.

E eu acho, Drauzio, que tem uma retroalimentação também porque o governante, as autoridades, se elas disseminam justamente essa semente de que vacinação pode ser perigosa, vacinação não é importante, ao mesmo tempo, elas também não investem em campanhas e uma coisa justifica a outra: “Eu não tô investindo em campanhas porque eu nem sei se vacina é bom”. Então, acho que a gente vai criando um círculo vicioso muito perigoso pro Brasil, justo pro Brasil que sempre foi um exemplo de vacinação pro mundo.

 

DV: Natalia, muito obrigado pela sua presença. É muito importante esse tipo de discussão, mostrar que as vacinações eliminaram algumas doenças do mundo e várias delas do Brasil e que as vacinas são absolutamente seguras e que há necessidade de vacinar as nossas crianças. Esses esclarecimentos que você fez hoje são fundamentais e você faz isso muito bem, muito obrigado.

Dra. Natalia: Eu que agradeço, Drauzio, e vamos continuar lutando pra que o país continue sendo um exemplo de vacinação pro mundo como sempre foi.

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