O uso de medicamentos para disfunção erétil sem recomendação médica é desaconselhado por especialistas e pode causar efeitos adversos. Saiba mais.
A cobrança por um bom desempenho sexual tem levado homens a buscar medicações prescritas para disfunção erétil, mesmo que eles não apresentem problemas para obter e manter uma ereção satisfatória.
Segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (PróGenéricos), os estimulantes sexuais sildenafila, vendido sob o nome comercial Viagra, e tadalafila (Cialis) estão na lista dos dez medicamentos genéricos mais vendidos em 2023.
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Entre as drogas que fazem parte desse tipo de medicamentos estão a sildenafila, tadalafila, vardenafila, lodenafila e udenafila. A sidenafila e a tadalafila são as mais utilizadas no país.
Embora sejam drogas diferentes, elas atuam da mesma forma; o que muda são a dosagem recomendada, o tempo para o início da ação e a duração do efeito. As substâncias ajudam na ereção, mas o estímulo sexual ainda é necessário para obtê-la.
Por serem vendidas sem receita médica, muitos homens utilizam essas drogas de forma recreativa, para obter uma ereção mais duradoura, ou para aumentar o desempenho em academias.
Disfunção erétil
A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) estima que 50% dos homens brasileiros acima de 40 anos tenham disfunção erétil. Ela é definida como uma dificuldade persistente de obter ou manter uma ereção que lhe permita uma relação sexual satisfatória. Uma perda de ereção eventual, causada em uma semana de trabalho excessivo, por exemplo, não define a disfunção erétil e pode acontecer com homens de qualquer idade, em qualquer momento da vida.
As causas da disfunção são variáveis e incluem problemas vasculares, doenças neurológicas e tabagismo. Entre homens mais jovens, a principal causa é emocional, em especial a ansiedade.
‘Tem uma pressão social nos jovens para melhorar a performance sexual. Cada vez temos menos parcerias fixas, cada saída é uma parceria nova, então a pessoa tem que performar.’ (Dr. Ricardo Vita)
Até o fim dos anos 1990 e início dos 2000, esses homens tinham poucas opções de tratamento. Com o surgimento das drogas para tratar disfunção erétil, a história mudou.
Pertencentes à classe dos inibidores da fosfodiesterase do tipo 5 (PDE5), essas drogas favorecem o relaxamento da musculatura lisa dos corpos cavernosos (principais estruturas do pênis envolvidas na ereção) e a dilatação das artérias que levam o sangue ao órgão. Desse modo, o sangue flui com mais facilidade no pênis, provocando a ereção.
De acordo com o dr. Ricardo Vita, doutor em urologia pela Faculdade de Medicina da USP e diretor da Comissão de Relações Institucionais e Governamentais da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), esses medicamentos estão indicados para “homens que têm disfunção erétil, que não conseguem obter uma ereção satisfatória para penetração ou que não consigam manter a ereção durante todo o intercurso sexual”.
No entanto, há recomendações para seu uso. “A contraindicação mais absoluta são os homens que usam nitratos, que são substâncias que podem baixar muito a pressão e que, usadas em conjunto com essas drogas [PDE5], podem causar um risco de hipotensão grave”, explica o dr. Ricardo.
Outros pacientes precisam de avaliação médica cuidadosa antes de fazer uso dos medicamentos para disfunção erétil. “Pacientes que têm doenças cardíacas graves ou recentes, uma pressão arterial muito instável, de difícil controle, pacientes que tenham uma insuficiência hepática ou renal mais grave precisam de avaliação médica”, comenta.
Uso recreativo e dependência psicológica
De acordo com o dr. Ricardo, muitos homens, principalmente os mais jovens, têm cedido à pressão por um desempenho sexual pouco realista. “Tem uma pressão social nos jovens para melhorar a performance sexual. Cada vez temos menos parcerias fixas, cada saída é uma parceria nova, então a pessoa tem que performar. Mas também tem uma condição psicológica, o homem que é mais inseguro precisa ter a segurança para poder atingir seu desempenho sexual da melhor forma.”
O publicitário Pedro,* 51 anos, afirma que a medicação ajuda a reduzir a ansiedade da primeira vez com uma parceria nova. “Como não tenho parceira fixa, uso o remédio para evitar que o nervosismo dos primeiros encontros atrapalhe meu desempenho na cama.”
Assim como todo medicamento, os inibidores da fosfodiesterase do tipo 5 podem provocar efeitos adversos. Sem o acompanhamento médico, esses efeitos podem ser ainda mais sérios.
Os riscos incluem dor de cabeça, rubor facial, indigestão, dor muscular (principalmente nas costas), congestão nasal, perda súbita de visão e audição, além dos riscos cardiovasculares já citados. O uso sem indicação pode, segundo o dr. Ricardo, provocar priapismo, uma ereção prolongada e dolorosa que faz com que o sangue não circule adequadamente e se torne mais venoso, com menos oxigênio, podendo resultar em isquemia do pênis.
O uso indevido e frequente também pode levar à dependência psicológica, pois o homem pode ter receio de, sem o medicamento, não conseguir o desempenho esperado. “Além dos riscos já mencionados, o homem pode criar uma dependência psicológica, a pessoa já não consegue ir para a relação sexual sem o medicamento porque fica com medo, com ansiedade relacionado à performance”, afirma o dr. Ricardo.
Pedro concorda com o médico. “Não consigo deixar de tomar a tadala [apelido da tadalafila] nos primeiros encontros com uma pessoa. Fico muito ansioso, com medo de não conseguir ter ereção. Esse medo ficou pior depois que passei a usar [a droga]”, conta.
Uso nas academias
Além do uso recreativo para obter uma ereção mais prolongada, muitas pessoas têm utilizado esses medicamentos, em especial a tadalafila, com intuito de ganhar massa muscular. O dr. Ricardo condena veementemente esse uso.
“Hoje a tadalafila tem sido usada por fisiculturistas e pessoas que querem melhorar o desempenho muscular, mas não existe evidência científica séria que suporte essa melhora do desempenho físico com o uso da tadalafila, por mais que ela tenha um efeito vasodilatador.”
O especialista alerta para o fato de a mídia e a publicidade influenciarem o uso desses medicamentos. É preciso, ainda de acordo com o dr. Ricardo, atentar-se especialmente para os anúncios de fórmulas para melhorar a performance sexual na internet, pois em geral esses medicamentos não são controlados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), portanto é impossível saber exatamente quais são as substâncias que os compõem.
O uso de medicamentos sem indicação médica é condenado por especialistas, visto que, além das contraindicações específicas de cada droga, é preciso acompanhamento para lidar com eventuais efeitos adversos.